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Ele foi chamado em 1945 pelo líder comunista Luís Carlos Prestes como um “oportunista das esquerdas”. Um dos maiores jornalistas do país – e também um dos mais polêmicos – Samuel Wainer morreu há 35 anos, no dia 2 de setembro de 1980. O coração que tanto usou em 70 anos de vida resolveu parar.

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Wainer foi o fundador do jornal Última Hora, em 1951, para muitos um marco revolucionário na imprensa brasileira. Para seus opositores, um veículo de sustentação de Getulio Vargas no poder. Em 1949, como repórter dos Diários Associados, ele seguiu para o refúgio gaúcho do ex-ditador, conseguindo uma entrevista que quebrou três anos de silêncio e pavimentou a volta de Gegê ao poder.

Como repórter, ele ficou definitivamente conhecido por sua cobertura ao julgamento dos nazistas em Nuremberg para a BBC de Londres – era o único brasileiro presente – e para a sua revista mensal Diretrizes. A publicação é apontada como a precursora da imprensa alternativa no Brasil. Em 1964, foi cassado e se exilou durante quatro anos na Europa.

Na década de 1970, Samuel Wainer editou o semanário que ficou conhecido pela ampla reportagem na qual descrevia a morte do jornalista Wladimir Herzog, nas dependências do DOI-Codi paulista. O jornal foi submetido a censura prévia e Wainer o retirou de circulação, lançando em seguida o Aqui São Paulo, que também sofreu pressão oficial e veio a ser fechado.

Antes de morrer, o jornalista pertencia ao conselho editorial do jornal A Folha de São Paulo e da Editora Três.

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Somente 25 anos após sua morte, na edição completa de seu livro autobiográfico Minha razão de viver: memória de um repórter, Wainer reconheceu que nascera realmente fora do Brasil.  Ele é da Bessarábia (a atual Moldávia) e teria recebido uma certidão de nascimento brasileira aos dois anos de idade, quando a família conseguiu migrar para o país. Outro jornalista polêmico, Carlos Lacerda tentou embargá-lo como o dono de jornal que apoiava Vargas justamente pelo fato de ser estrangeiro.

A primeira versão do livro havia sido lançada originalmente em 1987, organizada pela filha Pinky Wainer e pelo jornalista Augusto Nunes a partir de 53 fitas gravadas. Os 36 capítulos distribuídos em 368 páginas da obra, relançada em 2005, são uma aula de história e jornalismo.

Foi casado com Danuza Leão, então uma jovem modelo que era a paixão de outro jornalista, o pernambucano Antonio Maria. Danuza segue no batente, como jornalista e colunista.

Abaixo, confira galeria de Wainer em ação no seu Última Hora. O acervo do jornal é administrado hoje pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo. É composto por 166 mil fotografias, 600 mil negativos, 2.223 ilustrações e uma coleção de edições do jornal do Rio de Janeiro entre os anos de 1951 e 1970, em papel ou microfilme.