10 livros

No gol, Nicolau Maquiavel (O Príncipe, 1513). Na lateral direita, René Descartes (Discurso sobre o método, 1637). No miolo de zaga, Thomas Hobbes (Leviatã, 1651) e Jean-Jacques Rousseau (Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, 1755). Na lateral esquerda, Karl Marx e Friedrich Engels (Manifesto do Partido Comunista, 1848), um atuando em cada tempo.

No meio-campo, John Stuart Mill (Utilitarismo, 1863) atua mais recuado, como volante. Como apoiadores, Charles Darwin (A descendência do homem, 1871) e Friedrich Nietzsche (Além do bem e do mal, 1886).

O trio de ataque é formado por Vladimir Lênin (O Estado e a Revolução, 1917), Margaret Sanger (O eixo da civilização, 1922) e Adolf Hitler (Minha luta, 1925).

No banco, Sigmund Freud (O futuro de uma ilusão, 1927), Margaret Mead (Adolescência, sexo e cultura em Samoa, 1928), Alfred Kinsey (O relatório Kinsey, 1948) e Betty Friedan (A mística feminina, 1963).

O time acima, escalado a contragosto por Benjamin Wiker, norte-americano PhD em ética e membro do Discovery Institute (uma entidade que combate a prevalência da Teoria da Evolução nas escolas), teria causado muito estrago no mundo e, na opinião, dele, nem deveria ter entrado em campo.

As 244 páginas do livro de Benjamin Wiker, 10 livros que estragaram o mundo – E outros cinco que não ajudaram em nada, foram produzidas para provocar e lançadas no Brasil em maio deste ano pela Vide Editorial, uma editora que quer polemizar, entrando na faixa da direita, publicando obras contra o aborto e defendendo abertamente o fim do desarmamento.

O livro de Wiker baseia-se na tese de que as más ideias, registradas no papel, infectaram gerações e ampliaram a miséria no mundo. De que forma? Afastando-se da herança os fundamentos éticos do cristianismo e do judaísmo, que pregam a piedade e a ajuda ao próximo.

Benjamin Wiker não esconde de que lado é e combate um mundo que, segundo ele, foi se afastando do sagrado a partir de uma herança maquiavélica. Ao longo dos séculos, revoluções políticas, comportamentais e científicas foram baseadas numa visão de mundo onde o utilitarismo e o descarte dos mais fracos ditavam as regras. Daí para o controle populacional e, no caso mais extremo, a eugenia,  foi apenas mais um passo.

Para fundamentar sua tese, Wiker usa trechos das obras dos autores escalados e tenta desconstruí-los mostrando o “perigo” daqueles pensamentos. Para quem trabalha com jornalismo ou gosta de filosofia aplicada na vida, é um livro interessante pela provocação. Afinal de contas, o ceticismo é o que nos move, mesmo que seja para dizer que Wiker não sabe nada de escalação de time e perde de goleada.