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O reitor da Católica, padre Pedro Rubens, sonha com o dia em que os pais dos alunos serão reembolsados pelo Estado brasileiro

Marcionila Teixeira (Texto)
Hesíodo Góes (Foto)

O padre Pedro Rubens é inquietude. Assumiu a reitoria da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e logo optou por tirar as grades do entorno da única área verde da instituição, uma selva de pedra vertical formada por cinco edifícios, cada um com oito andares. O espaço, pensava, precisava ser usufruído por todos. Era 2006, ano considerado violento na capital, e o “jardim”, como foi batizado, também era alternativa segura para os alunos permanecerem nos momentos vagos.

O sucesso da medida foi instantâneo. Certa vez, um ex-aluno ligado ao movimento estudantil procurou o padre para contar de seu respeito por tal decisão. Também admitiu estar com raiva de si mesmo. Como nunca tinha pensado em reivindicar o jardim para os estudantes em suas tantas manifestações na reitoria?

Pedro Rubens, cearense de 54 anos nascido em Vazantes, completa dez anos como reitor da única universidade comunitária de Pernambuco em janeiro do ano que vem. Como define a Lei 12.881, sancionada pela presidente Dilma Rousseff em novembro de 2013, uma instituição comunitária não tem fins lucrativos. Todo valor recebido deve ser investido na própria universidade. No Nordeste, outra do tipo somente existe em Salvador. As comunitárias congregam 23% dos universitários do país, enquanto as públicas estatais reúnem 25% e as particulares ficam com 52%.

O jesuíta não fez curso de administração para aprender a gerir uma instituição com 10 mil alunos, 500 professores e 500 funcionários. Mas a vida lhe ensinou sobre questionamentos, grande aliado na hora das decisões. “A gente não pode se acostumar nunca com a resposta ‘tem que ser assim’”. O caso do jardim terminou virando a metáfora de um gesto de “abertura”. O reitor também é presidente da Federação Internacional das Universidades Católicas (Fiuc), sediada na França, da Associação Brasileira das Universidades Comunitárias (Abruc) e membro da Pernambuco Universitas, que reúne ainda a UFPE, a UFRPE, a UPE e a Univasf.

Se todos têm direito à área verde da Unicap, o mesmo vale para o direito à palavra. Uma outra iniciativa bem-sucedida implantada pelo reitor são os fóruns. “A ideia é colocar as pessoas no mesmo patamar, todas com abertura para falar”, explica. Foram criados grupos de comunicação – para perceber a imagem que a cidade faz da Unicap; de identidade e missão – para atuar junto aos alunos novos – e de gestores – para articular qualidade acadêmica com sustentabilidade financeira. Somente um fórum não vingou até agora, para frustração dele: o fórum universitário, que reuniria professores, funcionários e estudantes em busca de paridade nos interesses.

A verdade é que tem outra coisa que ainda incomoda muito o jesuíta. A cobrança da mensalidade. “Não me sinto ainda realizado. O meu sonho é que o Estado brasileiro assuma a formação dos quadros de trabalhadores que precisa. As famílias dos universitários seriam reembolsadas no final do serviço prestado. Seria como um FGTS. O Brasil precisa refazer suas contas. A universidade é planejamento da família inteira. O custo-aluno da Unicap é pesado para as famílias, mas insuficiente para a instituição”, pontua.

Se o ideal ainda é sonho, padre Pedro vai lidando com a realidade. E ela pode ser positiva, diz. “O aluno reclama do preço da mensalidade. Mas ele tem convicção de que não será mais o mesmo depois de sair daqui. E a pessoa transformada será um bom profissional que vai dar sua contribuição na sociedade”, reflete.

Formado em teologia, além de mestre e doutor na ciência, o reitor humanizou o atendimento, deu voz, abriu dez novos cursos de graduação – entre eles medicina – além de um dos sete mestrados e três doutorados. Ainda elevou as notas dos cursos de direito e fotografia para cinco. Este ano, recebeu o Prêmio Orgulho de Pernambuco, na categoria ensino superior, em meio às comemorações pelos 190 anos do Diario de Pernambuco. Padre Pedro tem fôlego. Ninguém duvida.