Em vez do Pina de Copacabana cantado por Otto (1998, disco Samba pra burro), o Recife já teve sua parcela de Rio de Janeiro e até mesmo um Copacabana no Pina. Pelo menos nos nomes de bares que surgiram na primeira metade do século 20. Apesar das denominações pomposas, estes estabelecimentos nada tinham de cartão-postal. Situadas a maioria no Pina, eram barracas que atendiam trabalhadores adeptos do bom, bonito e nada asseado. A Zona Sul em 1936, pouco mais de dez anos depois de a avenida beira-mar ter sido asfaltada, ainda era um lugar onde os que não tinham dinheiro para embarcar num pau de arara para a capital federal podiam ficar perambulando pelos Leblon e Copacabana daqui mesmo.

No dia 9 de abril de 1936, o Diario de Pernambuco trouxe em sua primeira página uma crônica divertida sobre os bares “cariocas” do Pina. Tratava-se do relato de um repórter não identificado que foi ao bairro da Zona Sul recifense se aventurar nos mosqueiros da beira-mar. A pauta foi definida por uma curiosidade: bares que eram espeluncas receberam o nome de lugares famosos do Rio de Janeiro.

O bar Leblon, por exemplo, comandado por “seu” Carneiro, era conhecido por ser palco de muitas badernas e por ter um restaurante “mais ou menos”. Era um lugar frequentado por jangadeiros, que comiam feijão e peixe (ou bacalhau, na época alimento dos pobres..) em pratos fundos. Para fidelizar a clientela, quem comprasse mais ganhava de cortesia uma dose de cachaça.

Do outro lado, na Rua Comendador Moraes, ficava o bar Copacabana. Segundo o repórter, só tinha semelhança com o lugar do Rio “por ficar de frente para o mar”. O estabelecimento também não era dos mais limpos, apesar de ter um espaço para os banhistas trocarem de roupa. Com a praia ainda deserta, era o único apoio com alguma infraestrutura.

O repórter percorreu outros bares, sempre destacando que a prefeitura poderia melhorar o aspecto do Pina, lugar tão abandonado. Oitenta anos depois, o metro quadrado do bairro já é o mais caro do Recife e está quase competindo com os do Rio de Janeiro.