Nascido no Rio de Janeiro, Wilton Mendez brilhou no carnaval pernambucano entre as décadas de 1960 e 1970. Foi eleito ou “nomeado na marra” Rei Momo do Recife por dez anos consecutivos, mas não era unanimidade entre os “súditos”. Até que, há 35 anos, seu nome foi riscado da lista de convidados dos clubes que promoviam os mais importantes bailes reunindo a nata da sociedade. No dia 14 de fevereiro de 1971, o Diario de Pernambuco noticiou que Mendez havia se tornado “persona non grata” das instituições, que divulgaram nota afirmando não ser necessário explicar os motivos de barrar a realeza nos seus salões, “pois seria dar muita consideração a quem não merece”.
Em plena ditadura militar, a escolha de Rei Momo não era democrática. Com bons contatos na política e na área de turismo, Wilton Mendez sobrepujava qualquer adversário. Em 1971, com 130 quilos e sempre sorridente, ele permaneceu no cargo, contrariando os dirigentes dos clubes. Cumpriu a sua agenda oficial visitando bailes de periferia e eventos na rua. Um ano depois, a proibição continuou, mas Mendez não perdeu o rebolado.
O que teria feito o Rei Momo para ter as portas fechadas? Falante de inglês e francês, formado em filosofia em 1954 pela Universidade Federal da Guanabara, ele era considerado um dos primeiros transformistas brasileiros, tendo até trabalhado com a travesti Rogéria, que fazia grande sucesso no Rio de Janeiro.
Ator de novela e teatro, cantor de televisão e comediante, colunista da revista carioca Chuvisco, Mendez gostava de se autointitular “embaixador do frevo”, função que manteve após finalmente perder a coroa na folia de 1974. Desapontado, chegou a ameaçar que lançaria um livro chamado “Subterrâneos de um Carnaval”. Se contasse tudo o que soubesse…
Em 1977, o Diario noticiou que desta vez ele passaria o carnaval na Bahia, mas ainda representando Pernambuco. Mantinha sua base em Boa Viagem, onde morava sozinho, sempre recebendo muitas visitas, principalmente do meio artístico.
O jornal voltaria a falar de Mendez em 16 de março de 1979. Um dia antes, o Rei Momo havia morrido em um acidente automobilístico em Matriz de Camaragibe, em Alagoas. A majestade que quase sofreu um impeachment saía de cena, levando com ele os segredos do carnaval recifense.