Da guerra do entrudo à violência do mela-mela, a diferença é pouca e tudo não passa de uma questão de ingredientes. Mas o velho costume veio de longe, coisa de séculos, trazido pelos parentes de Pedro Álvares Cabral. Com o passar dos tempos, a roupa foi sumindo. Das pernas da Colombina aos encantos do topless, a coisa mudou muito. E amanhã, como será?
Era desta forma que o Diario de Pernambuco tratava o carnaval no ano de 1980, quando a festa enfrentava um momento onde a permissividade estava afastando as famílias das ruas e dos clubes. A folia de Momo não era para principiantes. Era, na verdade, “um reinado sem lei”, justamente o título da reportagem assinada por Severino Barbosa na capa do caderno Panorama de 17 de fevereiro de 1980.
O grande temor dos amantes da festa e das autoridades era que o carnaval descambasse para a violência. Tentativa para disciplinar os mais afoitos sempre houve. Portaria de 4 de fevereiro de 1853, assinada pelo próprio imperador Pedro II, proibia com rigor o jogo do entrudo, com multas para o cidadão e açoites para o escravo que sapecasse limões-de-cheiro nos incautos. Mas o próprio monarca era adepto da fuzarca e a lei nunca pegou.
Já no século 20, os clubes não se limitavam apenas a desfilar. Lenhadores e Vassourinhas, por exemplo, usavam os símbolos das agremiações para verdadeiras batalhas campais. A polícia tinha que enviar a cavalaria para fazer voltar a imperar o frevo. Com o passar das décadas, a paz dominou os quatro dias de folia. Sem entrudos e corsos, os pernambucanos e turistas se divertem com as suas fantasias, mas de olho em tudo ao redor. Como é no ano todo.