Cortado por rios e pontes, o Recife recebeu a denominação de “Veneza Americana” do poeta maranhense Gonçalves Dias (1823-1864), que escreveu estes seguintes versos dentro do romantismo ufanista do século 19: “Salve, terra formosa, oh! Pernambuco,/ Veneza americana transportada,/ Boiante sobre as águas!/ Amigo gênio te formou na Europa,/ Gênio melhor te despertou sorrindo/ À sombra dos coqueirais”. Este termo foi registrado com abundância no Diario de Pernambuco, contemporâneo do autor, primeiro de forma orgulhosa e mais tarde com ironia ao longo de seus 190 anos de circulação. Em 1954, porém, imaginar o Recife como Veneza tropical ainda sobrevivia, pelo menos para os moradores de outras regiões do país.
Leva o nome de “A Veneza Brasileira” um cinejornal informativo pertencente hoje ao Arquivo Nacional, disponibilizado recentemente na internet pela Agência Nacional através da fanpage do Facebook “Arquivo em Cartaz”. São apenas 90 segundos de imagens em preto e branco, sem trilha sonora, mostrando aspectos da capital pernambucana que ficaram no passado, como as ruas com poucos automóveis, o porto com barcos a vela e casario preservado, a faixa litorânea com poucos edifícios (vê-se até a casa-navio, demolida em 1981). Exibido antes dos longas-metragens, material como este servia para integrar a nação, novamente governada por Getulio Vargas, que se suicidaria neste mesmo ano.
Trilha sonora adequada para este simpático tesouro seria “Veneza Americana”, hino da cidade do Recife composto por Nelson Ferreira e Ziul Matos. Mais apropriado, impossível.