collage Ponte da Boa Vista

Inaugurada em 1876, a terceira ponte com o nome da Boa Vista, no Centro do Recife, resistiu à injúria do tempo e ao descaso dos homens até a cheia do Rio Capibaribe, no dia 13 de junho de 1965, quando a estrutura de ferro afundou mais de meio metro no pilar perto da Rua da Aurora.

Há 50 anos, a Ponte da Boa Vista enfrentava o desafio do seu restauro. Das dezenas de pontes do Recife, nenhuma havia sido mais cantada que ela. Desde a “Prosopopeia” de Bento Teixeira (1561 – 1618), verdadeira multidão de poetas havia se inspirado na estrutura de ferro que guarda muitas histórias.

Uma delas é de que ela era uma ponte ferroviária destinada a um longínquo país africano, transportada por um veleiro britânico. Depois de maus ventos que quase causaram o naufrágio, o capitão da embarcação conseguiu chegar ao Porto do Recife. Ele propôs então ao governo do estado a compra da ponte de ferro, de mais de 150 metros de comprimento. A oferta foi aceita e, de forma cômoda e inesperada, o poder público tinha em mãos material tão custoso e que tanto precisava.

Este relato – embora fantasioso, porque a ponte foi projetada por encomenda – consta de reportagem publicada no Diario de Pernambuco do dia 25 de junho de 1967, assinada por Tadeu Rocha. Na época, a Prefeitura do Recife e a Diretoria do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional haviam chegado a um acordo para preservar a estrutura metálica.

Graças ao talento do engenheiro pernambucano Joaquim Cardoso, que fez os cálculos para Oscar Niemeyer construir Brasília, pôde-se manter a ponte de ferro na sua forma original, sobre uma base de cimento armado, como resiste até os dias atuais. Da primitiva passagem de madeira construída nos tempos de Maurício de Nassau, a Ponte da Boa Vista ainda resiste como cartão-postal de um Recife que às vezes soube conservar os seus tesouros.