Pilotox

Piloto brasileiro Charles John Cross e seu observador britânico, o tenente Georges

No dia 1 de fevereiro de 1945, o Diario de Pernambuco estampava na sua capa a proeza de um brasileiro na II Guerra Mundial. Charles John Cross, um carioca filho de ingleses, abateu dois aviões nazistas em apenas meia hora, gastando três minutos em cada combate, tempo recorde em luta desta natureza. A bordo do seu Havilland DH.98 Mosquito, da Força Aérea Tática da RAF (Royal Air Force), ele entrou em confronto com os Stukas alemães (JU-87) da Luftwaffe na zona de fronteira com a França. Sua rápida ação foi testemunhada pelo seu observador, o tenente Georges, que aparece na foto do jornal tirada logo após a aterrissagem.

Mosquito Fl 4302 BGx da Royal Air Force

Mosquito FL 4302 BG da Royal Air Force

Aos 26 anos de idade, Charles John Cross ganhava o título de ás da aviação. A reportagem dos Diários Associados localizou a família dele, em Niterói, entrevistando inclusive sua ama de leite, Olegária Maria do Carmo, a quem o jornalista chama de “velha preta”. Segundo ela, a aviação sempre foi o grande amor da vida do seu “lourinho”, porque ele sempre brincava com aviões de papel.

Stuka JU-87

No dia 30 de janeiro, o jornal já havia dado a informação em uma pequena matéria de uma coluna, citando que a façanha havia ocorrido num intervalo de 30 minutos. Nela, há uma descrição feita pelo próprio piloto brasileiro: “O avião inimigo fez uma manobra de mergulho e eu o segui despejando rajadas de fogo e registrando outros impactos. Quando passava por perto do aparelho inimigo, vi que seu motor estava incendiado e quando este caiu no solo explodiu imediatamente”. Liquidado o primeiro, Cross viu o outro Stuka que “foi despachado com idêntica celeridade”.

O fato de ter se tornado herói tão distante de casa não apagava um drama pessoal e familiar. Charles tinha um irmão, Leonardo, que assim como ele foi estudar na Inglaterra e depois se engajou na guerra contra a Alemanha. Leonardo se engajou na Infantaria do exército e estava desaparecido em combate há dois anos. A família esperava que ele estivesse vivo, prisioneiro dos nazistas em algum campo de concentração.

Apesar da pouca divulgação, os pilotos brasileiros eram considerados excelentes pela forças aliadas. No mesma edição que fala da proeza de Cross, o Diario cita que seis aviadores nacionais receberam as primeiras condecorações dos Estados Unidos por seus feitos em combates aéreos na frente italiana. Eles formavam uma esquadrilha de aviões Thunderbolts e eram comandados pelo tenente-coronel Nero Moura.