collage
Afastada por 180 dias da função depois da votação desta quarta-feira no Senado, a presidente Dilma Rousseff disse que vai continuar lutando para continuar no Palácio do Planalto. Ela aproxima-se, no entanto, de se tornar o 12º nome – e a primeira mulher – na lista de mandatários que, por diferentes motivos, não completaram o mandato. Desde 1889, quando foi instaurada a República, o Brasil foi governado por 42 presidentes, incluindo os da ditadura militar. Destes, onze foram afastados por impeachment (caso de Collor), por doença, renunciaram, faleceram no exercício do cargo e até mesmo não conseguiram assumir, mesmo oficialmente eleitos. O Diario de Pernambuco, como acontece hoje, registrou todos os episódios, em chamadas de primeira página.

Deodoro da Fonseca (1889-1891)
A lista começa com Deodoro da Fonseca, o marechal que, em 15 de novembro de 1889, tornou-se o primeiro presidente da recém-criada República após a deposição de Dom Pedro II. No dia 23 de novembro de 1891, ele deixou o cargo por causa da primeira Revolta da Armada, movimento de rebelião promovido por unidades da Marinha do Brasil contra o governo. Para evitar que o Rio de Janeiro fosse bombardeado, Deodoro entregou o cargo ao vice Floriano Peixoto, que não convocou novas eleições como estava previsto na Constituição. No dia 24 de novembro de 1891, uma terça-feira, o Diario de Pernambuco publicou na sua capa a informação da renúncia de Deodoro, graças ao serviço particular de telegramas do jornal. A decisão de renunciar foi tomada às 13h50. Às 23h, o já ex-presidente divulgou um manifesto, registrado no Diario, onde ele dirige seus votos “ao Todo Poderoso pela perpétua prosperidade e sempre crescente florescimento do meu amado Brasil”.

Afonso Pena (1906 – 1909)
O quarto presidente brasileiro morreu vítima de pneumonia no dia 14 de junho de 1909, deixando o poder nas mãos do vice-presidente Nilo Peçanha. No dia 15, uma terça-feira, o Diario de Pernambuco trouxe a informação do passamento, ocorrida às 14h50. “Particularmente os pernambucanos não podem esquecer que foi no seu governo que se assinou o decreto das obras do Porto do Recife, uma das nossas mais palpitantes aspirações”.

Rodrigues Alves (1918)
Eleito para o segundo mandato (já havia governado de 1902 a 1906), contraiu gripe espanhola e não conseguiu tomar posse em 15 de novembro de 1918. Faleceu no dia 16 de janeiro de 1919. O vice-presidente Delfim Moreira assumiu de forma interina. No Diario, edição do dia 17, uma sexta-feira, informava que o falecimento havia ocorrido aos 45 minutos do dia anterior, uma agonia que durou meia hora. O presidente estava consciente até o final e suas últimas palavras foram para saber se o vice já havia sido comunicado da gravidade do seu caso.

Washington Luís (1928-1930) e Júlio Prestes (1930)
Presidente foi deposto na Revolução de 1930 depois de ter apoiado o paulista Julio Prestes para sua sucessão. O candidato derrotado, o gaúcho Getulio Vargas, aproveitou-se do assassinato do seu vice, João Pessoa, e das denúncias de fraude nas eleições para tomar seu lugar no Palácio do Catete. No dia 24 de outubro de 1930, Washington Luís foi afastado do cargo por uma junta militar. No dia 25, o Diario estampou na sua capa a manchete “Vitoriosa em todo o o Brasil a reação nacional contra os maus governos!”. Segundo o jornal, o Recife, em delírio, aclamou “os próceres da Revolução, os chefes militares e o governador provisório, Lima Cavalcanti”.

Getulio Vargas (1930-1945)
Após ficar 15 anos no governo, depois de instituir um regime ditatorial, Vargas foi deposto em 1945 por um golpe de estado. No dia 29 de outubro de 1945, ele renunciou formalmente ao cargo de presidente, pondo fim à primeira Era Vargas. No dia 30, uma terça-feira, o Diario trouxe na sua capa a manchete da deposição do ditador. Contrário a Vargas, o jornal chegou a ser vítima de censura em episódio que culminou nas mortes do estudante de direito Demócrito da Souza Filho e do carvoeiro Manoel Elias em 3 de março de 1945.

Getulio Vargas (1951-1954)
Em sua segunda passagem pela Presidência, Vargas não terminaria novamente o mandato, mas desta vez de forma trágica. No dia 24 de agosto de 1954, pressionado pela oposição e pelos militares, ele se suicida, deixando uma carta-testamento com a emblemática frase: “saio da vida para entrar na história”. O Diario de Pernambuco publicou, na mesma data do suicídio, uma edição extra com os detalhes do fim traumático de uma crise política. “Logo que chegaram ao Recife, enviados pela Agencia Meridional, os primeiros telegramas acerca da situação política do Rio de Janeiro, agravada com o suicídio do presidente Getulio Vargas, uma multidão de curiosos reuniu-se defronte do edifício do Diario de Pernambuco, para ler as notícias afixadas no quadro informativo do jornal. O comercio começou a cerrar suas portas cerca das 10 horas, quando já eram conhecidos pormenores da tragédia do Palacio do Catete, verificada cerca das 8.30 da manhã. Durante todo o dia a situação na cidade permaneceu calma. Os comandos militares sediados no Recife, bem como a Secretaria de Segurança Pública, comprometeram-se a manter a ordem interna. O patrulhamento das avenidas Guararapes e Dantas Barreto, onde se formavam constantemente grupos de populares, foi reforçado por dois contingentes da PM”.

Jânio Quadros (1961)
O homem que prometia “varrer a corrupção” permaneceu no cargo de janeiro a 25 de agosto de 1961, quando alegando “forças ocultas” renunciou. No dia 26, um sábado, o Diario trouxe a repercussão do ato intempestivo, ressaltando que não havia nenhuma alteração na ordem. O jornal destacou ainda que foi o primeiro veículo de imprensa a noticiar a renúncia, estampando na capa fotos das pessoas lendo o primeiro telegrama recebido de Brasília com a informação, que foi exposto na fachada da sede, na Praça da Independência.

João Goulart (1961-1964)
O vice de Jânio Quadros quase foi impedido de tomar posse (estava na China), teve que se submeter a um breve período de parlamentarismo (sistema de governo derrotado em plebiscito em 1963) e acabou deposto pelos militares em 31 de março de 1964. No dia 1 de abril, uma quarta-feira, o Diario trazia como manchete a movimentação dos militares de Minas Gerais contra Jango e “os comunistas”.

Costa e Silva (1967-1969)
O general linha-dura, que fechou o Congresso Nacional e instaurou o Ato Institucional 5, foi “afastado” do cargo no dia 30 de agosto de 1969 por causa de uma trombose cerebral. Uma junta militar assumiu. No dia 1 de setembro, uma segunda-feira, em uma edição extra, o Diario trouxe a notícia da mudança do poder em Brasília. O restante das páginas foi dedicado ao tricampeonato conquistado pelo Santa Cruz. Costa e Silva faleceu no dia 17 de dezembro.

Tancredo Neves (1985)
O primeiro civil depois do domínio dos fardados em uma ditadura iniciada em 1964, Tancredo Neves, o experiente parlamentar mineiro, subiria a rampa do Palácio do Planalto levando com ele a esperança de milhões de brasileiros pela volta da democracia. Mas não chegou a tomar posse. José Sarney assumiria temporariamente o governo até a sua volta. Isso se os militares permitissem. No dia 21 de abril, aos 75 anos, Tancredo não resistiu a várias cirurgias e infecões depois de um episódio de diverticulite. Somente em situações consideradas especiais é que o Diario de Pernambuco publica um editorial em sua capa. Isso ocorreu há 30 anos. No dia 22 de abril de 1985, o jornal utilizou este recurso, na edição em que anunciava a morte do presidente eleito Tancredo Neves. “O esperado inesperado terminou ferindo a Nação inteira: Tancredo Neves está morto. Numa das horas mais negras do País, ele restaurou a confiança do povo nos seus políticos, apanhou a bandeira da liberdade sacudida no chão e a ergueu em suas mãos limpas unificando uma Nação que já perdia a fé na sua História”, afirmava o texto do Diario abaixo da imagem de um Tancredo pensativo.

Fernando Collor (1990-1992)
O primeiro presidente da República eleito por voto direto após a ditadura tomou posse em 15 de março de 1990. Um dia depois, já sacudia o país com um plano econômico que entrou para a história como um verdadeiro confisco. Denunciado por corrupção pelo próprio irmão, acabou renunciando ao mandato ao sofrer processo de impeachment. Renunciou ao cargo de presidente em 29 de dezembro de 1992,horas antes de ser condenado pelo Senado por crime de responsabilidade.