“Para nós, africanos do século 20, recém-emancipados da colonização europeia e que enfrentamos os difíceis problemas do desenvolvimento do mundo moderno, onde as exigências da tecnologia prevalecem sobre o espírito da solidariedade, prejudicando gravemente o equilíbrio do ser humano, permanece viva a crença num mundo que saberá criar uma civilização universal à altura do homem”.
Há 45 anos, no dia 13 de maio de 1971, o senegalês Henry A. Senghor foi escolhido para fazer uma saudação à princesa Isabel, cujos restos mortais – e do marido, o conde d’Eu – foram definitivamente trasladados da Antiga Sé (catedral do Rio de Janeiro) para o Mausoléu Imperial da catedral de Petrópolis, cumprindo um desejo da filha de Dom Pedro II que assinou a Lei Áurea em 1888.
Decano dos embaixadores africanos no Brasil, Henry A. Senghor reconheceu a importância da mulher que, por força de um golpe de estado, não herdou a coroa. “A rememoração do gesto da princesa Isabel, ao rematar o triunfo da campanha abolicionista, nos faz conjecturar que, se lhe tivessem dado mais tempo, a redentora teria tomado as medidas indispensáveis para que a libertação dos escravos fosse seguida de uma política social e econômica, asseguradora de sua rápida ascensão. Mesmo assim, a raça negra tem se mostrado muito mais à altura da sua emancipação repentina do que puderam sequer imaginar a maioria dos homens de então”, afirmou.
O discurso de Henry A. Senghor foi reproduzido no Diario de Pernambuco de 14 de maio de 1971, junto com as informações sobre a cerimônia que reuniu autoridades militares, civis e religiosas, além de representantes de outros países. Emblemático foi o fato do presidente Médici ter ocupado, ao lado do altar-mor, o mesmo trono que era usado usualmente pelo imperador nas solenidades religiosas.
Com o passar dos anos, o 13 de maio foi perdendo importância para o movimento negro, que preferiu o 20 de novembro – data da morte de Zumbi – como o Dia da Consciência Negra. Mas as considerações de Henry A. Senghor ainda permanecem atuais.
O vídeo apresentado nesta postagem foi disponibilizado pela fanpage Arquivo em Cartaz, que divulga o rico acervo do Arquivo Nacional e da Biblioteca Nacional. Nas imagens, o agradecimento popular a uma personagem histórica que só em 1953 teve seus despojos removidos do mausoléu da Família Real de Orleans, na abadia de Dreux, na França, para o Brasil.