Gilberto Freyre distribuindo cocadas, Ascenso Ferreira recitando poesias, Amauri de Medeiros destacando a arquitetura colonial do ponto de vista da higiene, Gouveia de Barros abordando a loucura das secas. Há 90 anos, o Recife sediava um encontro de intelectuais interessados na preservação do que de melhor havia na região, da sua culinária ao casario, passando por uma mobilização para a instalação de uma universidade que tivesse uma cadeira de Estudos Nordestinos e de uma lei em defesa do patrimônio histórico e artístico da Bahia ao Maranhão.
O primeiro Congresso Regionalista do Nordeste, cuja abertura ocorreu na noite de 7 de fevereiro de 1926, pretendia não ser bairrista ou separatista. O regionalismo queria era superar o estadualismo, integrando as várias partes do Brasil em um todo.
As discussões do congresso ocorreram no salão de conferências do Departamento de Saúde e Assistência de Pernambuco, com encerramento solene na noite do dia 11. O Diario de Pernambuco deu ampla cobertura ao evento, destacando as palavras de seu antigo colaborador, Gilberto Freyre, deflagrador e principal inspirador desta união nordestina.
Foi neste evento que Gilberto Freyre teria lido o seu trabalho “A estética e as tradições da cozinha nordestina”, onde fez distribuir as famosas cocadas pernambucanas. A culinária foi um dos momentos mais fortes do encontro. Na noite de 11 de fevereiro, uma legítima janta regional encerrou o primeiro congresso nordestino, com um cardápio de sopa de verduras, peixe de coco, fritada de camarão, capão gordo, abacaxi, doce de caju com queijo do sertão, água de coco, café de Bonito e licor de laranja.
Em 1976, a aventura regionalista foi recuperada pelo Diario em reportagem assinada por Tadeu Rocha. Naquela época, já se registrava uma perda. O casarão número 382 da Rua do Paissandu, residência do professor Odilon Nestor, onde nasceu e ficou sediado o Centro Regionalista do Nordeste, havia sido demolido. No seu lugar, um “inexpressivo” edifício de apartamentos.