Há 80 anos, Boa Viagem perdia para Olinda em relação a um passeio de domingo. Pelo menos era esta a opinião do repórter do Diario de Pernambuco, Gomes Maranhão, em crônica assinada no dia 21 de março de 1936. Se o camarada tinha pouco dinheiro para frequentar os cinemas do Parque ou Moderno e depois de ler jornal, ir à missa e almoçar, quisesse bater perna, tinha então dois roteiros disponíveis.
Boa Viagem? “Além do preço da passagem (de bonde) ser elevado, possui pouca coisa que distraia o visitante que já foi ali muitas vezes. O ambiente quase não varia. De um lado, o mar, doutro, somente casa e casa de rico”. Olinda? “Deste modo, a cidade tira a argolinha. Os seus bondes, domingo de tarde, são geralmente cheios”.
Se a Zona Sul do Recife ainda era considerada um balneário distante, a primeira capital de Pernambuco ganhava pela sua acessibilidade, mas não era nenhum paraíso. Gomes Maranhão tomava liberdade no texto para puxar a “aba do paletó” do prefeito para resolver problemas que ainda hoje incomodam o morador da Marim dos Caetés.
“O indivíduo, que já viaja no banco feito sardinha, quando o carro para no Varadouro sente subir pelo nariz um cheiro danado de garapa azeda”, contra o repórter incomodado, que pede desculpas ao leitor pelo seu depoimento “cachorro”. É quando ele trata Olinda por uma “velha sebosa, toda suja, um traste horroroso”.
Existiria solução? Sim, se os “vestidos” da cidade – a Praça do Carmo, a Rua do Amparo e o Alto da Sé – fossem limpos e passados a ferro…
As imagens da galeria são do início do século 20 e pertencem ao acervo da Prefeitura de Olinda e foram produzidas originalmente pelo estúdio Photografia Fidanza, empresa que usou o sobrenome do profissional português Felipe Augusto Fidanza, que faleceu em Belém em 1903.