23-09

 

Juíza mobiliza síndicos de prédios de Boa Viagem para debater medidas de segurança.

Silvia Bessa (texto)
Blenda Souto Maior (foto)

O medo da violência urbana no Recife é a causa. A população se mobiliza para criar suas próprias alternativas em busca de uma sensação de segurança: esta é a consequência. “Vamos fazer as vezes do poder público. Vamos em busca daquilo que ele não faz”, disse ontem a juíza Luzicleide Vasconcelos ao Diario. Luzicleide, autoridade que responde pela 15ª Vara Cível da Capital, chegou à conclusão que está na hora de dar “um basta” porque – frisa – ninguém suporta viver “refém” da bandidagem. Trata-se da idealizadora de uma reunião que acontecerá entre síndicos de condomínios, assim como ela, na qual será discutida a contratação de segurança privada motorizada ou a pé, com ou sem armas.
O nome da juíza circula em redes sociais e mensagens de celular como reforço do convite para o encontro e vem conseguido despertar interessados. A meta é juntar cerca de 40 síndicos de prédios localizados na proximidade dos colégios Santa Maria e Boa Viagem, referências da classe média e classe média alta do bairro. “Temos de ter uma posição de inconformismo. Não só de palavra, mas também de atitude”. O encontro acontecerá no dia 28 de setembro, próxima quarta-feira, às 20h, no hall social do Edifício Santa Maria, na Rua Poeta Zezito Neves. “Infelizmente, há uma crescente nos índices de violência no bairro de Boa Viagem, geralmente ligada ao crime de patrimônio. Então, resolvemos unir a sociedade diante da ineficiência da segurança pública”, critica. O serviço de segurança particular servirá, se aprovado, para atender moradores e estudantes que circulam na área.
“Hoje saio a duas quadras da minha casa e não tenho paz. Somos reféns. A gente tem de mudar a realidade”, afirma. Luzicleide diz que está disposta a levar e ouvir o maior número de síndicos. Segundo a juíza e síndica, a “ausência” do aparato de proteção policial não é justificável. Nas proximidades, lembra, há entradas de favelas e em função do padrão do patrimônio das redondezas os alvos têm sido frequentes. Ela tem em seu repertório vários casos de violência que chegam como notícia até ela. Luzicleide Vasconcelos vê incongruências: “Até o quilo do pão aqui em Boa Viagem é 40% mais caros que em outros bairros. É comum citarem como o bairro mais rico do Recife, mas esquecem que aqui estão as favelas mais perigosas”. Em contrapartida, cita, paga-se o maior “IPTU por metro quadrado do Recife, ou talvez de Pernambuco”.
A ideia inicial da reunião é debater a contratação de rondas de segurança sem armas no horário do dia e armada a partir das 20h até as 6 horas (“não queremos colocar em risco as crianças”, afirma). Quantos seguranças e como eles poderiam atuar é o que se colocará em negociação e votação. Pretende-se ainda elaborar uma carta aberta que será enviada às autoridades relatando o sentimento da população que vive na área do bairro, os riscos a que alunos e pais estão sujeitos diariamente e cobrando posição institucional. Deve-se preparar ainda documentos que serão destinados a candidatos a prefeito e eleitores sobre a segurança pública, aproveitando a proximidade da eleição municipal de 2 de outubro. “Não podemos esperar que desgraças aconteçam”, enfatiza a juíza Luzicleide.
A notícia do encontro entre síndicos se soma a outra medida recente ligada à segurança pública neste trecho de Boa Viagem: desde a última segunda-feira, o Colégio Santa Maria aumentou seu efetivo de segurança de 19 para 32 homens – estando dois deles trabalhando à paisana. Segundo informações do departamento de segurança da escola, a contratação seria “preventiva” e não estaria ligada a relatos recentes de violência, mas à preocupação frequente de pais.