04-10

Balanço detalhado da eleição da capital servirá de base para Geraldo Julio e João Paulo.

Silvia Bessa (texto)
Paulo Paiva (foto)

A eleição para a Prefeitura do Recife de 2016 teve o maior percentual de votos nulos dos últimos dezesseis anos, sendo este o dado estatístico que mais fugiu da curva padrão. Somam-se nesse período de 2000 até 2016 cinco disputas. O total de 7,78% do eleitorado, representando 77.261 pessoas da capital pernambucana, compareceram ao local de votação como manda a Justiça Eleitoral, escolheram propositalmente números inexistentes na urna eletrônica e confirmaram o voto apertando a tecla verde. Se assim foi com a maioria, é o dado que constata o chamado voto do protesto, do eleitor que está descontente ou desacreditado perante a política brasileira ou diante dos candidatos apresentados. Seria a expressão do eleitor que quis dar o recado do basta para denúncias de corrupção, que envolveram partidos diversos e, por fim, derrubaram a presidente da República, Dilma Rousseff, do PT.
Em uma hipótese mais improvável, considerando o já consolidado modelo eletrônico de votação brasileiro, as pessoas podem ter errado o voto, teclando em um dígito inválido, e confirmando-o ainda assim. Os votos em branco têm se mantido em patamar semelhante, se observado o gráfico comparativo e não seria assim motivo de surpresa. A taxa de abstenção histórica das últimas décadas no Recife circunda o patamar de 15% – a maior foi em 1996, quando chegou a 18%. Este ano, viu-se até uma queda na abstenção: de 2000 a 2012 ficou entre 14% e 16% e agora a abstenção encolheu para 11,3%.
O somatório geral que exclui os votos nominais dados a candidatos, nulos, brancos e abstenções ficou na eleição realizada no último final de semana em 23,32 pontos percentuais do eleitorado apto a votar no Recife. É algo extraordinariamente curioso? Não. Ficou dentro do que vem sendo visto nestas últimas décadas (em 2012, por exemplo, a conta deu 25,76 pontos).
Note que interessante o comportamento do eleitor do Recife domingo: à medida que as pessoas saíram mais de casa para votar, optaram proporcionalmente mais por anular o voto. Somente em 1996 o percentual de votos nulos foi maior que o atual. Naquela ocasião, o Recife teve 11% de nulos quando abertas as urnas do primeiro turno travado entre Roberto Magalhães (então PFL), João Braga (PSDB) e João Paulo (PT).
Na sequência dos votos nulos nos últimos anos, o quadro ficou assim: em 2000, foram 6% do total dos votantes; em 2004, 4%; em 2008, 5%. No ano de 2012, 4,81% dos eleitores do Recife optaram por anularem o voto. Em 2016, 7,78%. Em 2012, concorriam à vaga Geraldo Julio, Daniel Coelho e Humberto Costa. Este ano de 2016, apenas o candidato do PT é diferente. Agora, João Paulo representa o Partido dos Trabalhadores e conseguiu o feito de levar a eleição para o segundo turno, como um alento para o péssimo momento de crise que a legenda vive.
Em Pernambuco, as primeiras análises indicam que o fenômeno do voto nulo não é generalizado. O comportamento de abstenção e brancos igualmente é variável. Cada município é um caso diferente. Dos maiores eleitorados, pode-se tomar como exemplo Olinda, vizinho situado na Região Metropolitana. Em Olinda, os votos nulos totalizaram em 2016 11,27%, enquanto que em 2012 foram 10,83%. Ou seja, manteve-se. Os brancos caíram de 10,87% para 6,72% e a abstenção despencou de 15,88% para 6,34%. Em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, os nulos cresceram (de 3,75% para 5,69%), os brancos ficaram no mesmo (2,47% em 2012 e desta vez foi de 2,57%). A abstenção cresceu muito em Caruaru, mais que dobrando ao sair de 4,96% para 10,93%
São números que vão surgindo aos poucos nos balanços dos resultados e que servirão de base para os futuros estudos a respeito dos impactos locais do impeachment de Dilma e modelarão a busca por votos de Geraldo Julio e João Paulo, os dois candidatos que se enfrentarão no segundo turno no Recife logo mais.