Campanha natalina do Grupo de Apoio à Criança com Câncer propõe uma “adoção” financeira.
Silvia Bessa (texto)
Paulo Trigueiro (foto)
Dona Maria Simone ganha o que corresponde a uma secretária doméstica e não parece à vontade de falar sobre sua disposição em ajudar financeiramente uma causa nobre, mas o exemplo dela comove quem do dinheiro precisa. Dona Maria Simone atendeu aos apelos e, às vésperas do Natal em vez de empregar dinheiro em brinquedos, adotou com recursos uma criança atendida pelo Grupo de Ajuda à Criança Carente com Câncer – Pernambuco (GAC-PE). Uma catadora de lixo e um funcionário público fizeram o mesmo. Um microempresário que perdeu o enteado há cinco anos acometido pelo câncer se empenha junto com a mulher para mobilizar amigos donos de empresas para que apadrinhem uma criança e garantam, assim, a manutenção de medicamentos e da rede de apoio que beneficia a tantos.
“Tenho a ligeira impressão que, quanto mais a pessoa tem, mais amarrada é”, diz Harmonny Parrício Godim, 33 anos, padrasto de Guilherme, que se foi aos 11 anos em 2010 após lutar por anos contra um câncer. “Venho me empenhando, é difícil mas vamos continuar insistindo porque sabemos como a ajuda da equipe do GAC faz diferença durante o tratamento dos pacientes”, pontua ele, falando com propriedade. “Somos estruturados financeiramente, não somos ignorantes no quesito informação e já foi difícil, imagine para aqueles que vivem em condições piores”. Harmony e sua mulher Jacilda, conhecida por Adi, pela participação ativa durante todo o ano e pela sensibilidade diante da ideia, viraram patronos e mobilizadores da inovadora campanha “Adote uma criança com câncer e seja um Patrono do GAC”.
O GAC propõe uma ideia diferente de campanha beneficente: a população é motivada a patrocinar o custo mensal de um tratamento humanizado. A despesa aproximada de uma criança assistida pelo GAC é de R$ 236,54. É desse valor que a instituição precisa. A adoção pode ser feita de forma individual ou em grupos. O que é ótimo porque desvincula a obrigatoriedade de uma pessoa interessada que queira ajudar mas não consiga bancar o dinheiro por completo.
Imagine você que tem uma família numerosa. Que dez pessoas se proponham a ajudar uma criança. Cada integrante da família teria um custo de apenas R$ 23,65 – muito aquém de um brinquedo ou qualquer roupa ou sapato em lojas populares. “Se todos colaborarem, vai pesar menos no orçamento”, diz a médica e presidente do GAC, Vera Morais. Aquele que aderir à causa tanto pode se tornar um doador somente no mês de dezembro como pode tomar a adoção por um período mais prolongado. Se quiser conhecer o trabalho desta renomada entidade filantrópica (que aliás eu já conheço e vibro há duas décadas) as portas estão abertas, avisa a equipe técnica.
O valor de R$ 236,54 deve cobrir ações voltadas para a assistência social, a exemplo do fornecimento de fraldas descartáveis àquelas crianças internadas, a compra de suplementos nutricionais para os que dependem de tratamento quimioterápico, além de facilitar a realização de exames e compra de materiais hospitalares que reduzam o sofrimento durante o tratamento.
E a ausência dos brinquedos, tão esperados pelas crianças nessa época do ano, as roupas novas, não farão falta?, pergunta-se. O pessoal da Organização Não-Governamental explica que, durante o ano, sempre há doações com esse perfil, então já existe uma certa reserva técnica que possa atender às crianças nesse período natalino e que os recursos serão muito mais úteis nesse momento. O ano de 2016 foi complicado para eles também. O cenário econômico fez a arrecadação minguar, o GAC precisou colaborar inclusive para dar suporte de medicamentos a pacientes adultos que estavam sofrendo com a escassez pública e os custos – como em tudo – aumentaram. Hoje o Grupo de Apoio à Criança Carente com Câncer tem um gasto operacional mensal de R$ 200 mil, os projetos, gastos com materiais para atuação de dezenas de voluntário e o pagamento salarial de 28 funcionários. Assiste por dia a uma média de 70 pacientes no ambulatório e outros 24 em situação de internamento. Todos eles são vinculados ao Centro de OncoHematologia Pediátrica (CEONHPE) do Hospital Oswaldo Cruz (HUOC).
A campanha de adoção de um criança do GAC está em consonância com o momento econômico do país. Pode viabilizar com pouco o conforto de cada criança, ainda que não seja por meio de roupas, sapatos e brinquedos. Dona Maria Simone percebeu. Ainda bem que tem gente como ela. Para quem interessar, seguem os contatos para informações com o GAC (3423.7633 ou 3423.7833) e o número da conta para a qual as contribuições podem ser depositadas (GAC-PE Banco do Brasil – Ag: 0697-1 Cc: 48974-3).