“Apesar dos seus versos extensos, ‘Evocação’ está sendo cantado em toda parte, nos clubes, nas ruas e nas esquinas. É mais uma característica tradicional do carnaval pernambucano que ressurge para dominar a paisagem moderna do Recife de hoje”, escreveu Fernando Luis Cascudo no Diario de Pernambuco de 16 de janeiro de 1957. Há 60 anos, pela primeira vez o jornal destacava o sucesso de um frevo de bloco que conseguia desbancar um tal de rock’n’roll que começava a seduzir a juventude dourada.
Composto pelo maestro Nelson Ferreira e registrado em vinil pelos integrantes do bloco Batutas de São José, com sua tradicional orquestra, incluindo banjos e apitos, “Evocação” tornou-se um grande sucesso não apenas em Pernambuco. O disco, lançado pela gravadora local Rozenblit, pelo selo Mocambo, ainda no segundo semestre de 1956, já estava na boca do povo até no Rio de Janeiro, só que por lá em formato de marchinha.
No dia 22 de janeiro de 1957, o Diario trazia na coluna “Ronda do Disco” a letra de “Evocação”. Na seção “A música que o canta”, para ajudar os leitores a escutar melhor o que os cantores diziam, o jornal reproduzia o texto que se tornou um dos hinos do carnaval pernambucano: “Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon, cadê seus blocos famosos?”.
A música, ainda em 1957, ganhou as telas do cinema como trilha do filme “Uma certa Lucrécia”, dirigida por Fernando de Barros e estrelado por Dercy Gonçalves. O vídeo desta postagem pertence ao acervo da Rádio Educativa Mensagem (Radiosantos) no YouTube.
Segundo depoimento do próprio Nelson Ferreira, a música fazia um tributo a personagens do carnaval recifense da década de 1920, à frente de agremiações como Bloco das Flores, Apôis Fum, Andaluzas em folia, Pirilampos de Tejipió. Segundo ele, a composição veio de uma vez, só numa noite.
Perto de mais um carnaval, estes personagens ganharão novamente as ruas, principalmente no Recife Antigo. Nelson Ferreira tomou tanto gosto por evocações que criou outras. Mas a número um será sempre “um sucesso dos tempos ideais”. O vídeo que acompanha esta postagem, do acervo da Rádio Educativa Mensagem (Radiosantos), apresenta aspectos do carnaval recifense de outrora, com cenas do próprio Nelson e da evocação em forma de marchinha. Uma homenagem ao maestro que, com sua assinatura, fez o nosso carnaval.