Provável candidato pelo PSDB, governador diz em SP que quer disputar a Presidência da República.
Vandeck Santiago (texto)
Amanda Perobelli/Estadão Conteúdo (foto)
Não existe caderneta de poupança para votos. Se existisse, Aécio Neves teria deixado lá os seus 51 milhões obtidos em 2014 e estaria a essa altura surfando nos rendimentos. Mas desde a eleição presidencial daquele ano, o capital político do senador mineiro sofreu muitas retiradas e não teve nenhum depósito. O nome da vez agora parece ser outro – o de Geraldo Alckmin.
Se é verdade que votos não se guardam, também o é que vitórias acumuladas ao longo da carreira são excelente forma de se cacifar para disputas futuras, com chances de sucesso. Este é o caminho que vem sendo trilhado por Alckmin, governador pela quarta vez do estado mais desenvolvido do país. Foi o único líder de expressão que conseguiu eleger seu candidato a prefeito da capital – João Dória. Só para efeito de comparação, anote-se que o candidato de Aécio foi derrotado em Belo Horizonte; e que ele próprio, Aécio, perdeu em Minas Gerais para Dilma Rousseff em 2014.
Ontem, ao participar em São Paulo de almoço-debate promovido por empresários do grupo Lide (fundado por Dória), o governador foi indagado se concorrerá à Presidência da República em 2018 (foto). Até os pés de café de São Paulo sabem que Alckmin vai mover mundos e fundos para estar na disputa, mas ele próprio não pode dizê-lo assim tão abertamente. “Se eu disser que não quero, que não pretendo ser, não é verdade. Mas candidatura a cargo majoritário não é vontade pessoal. Ela é fruto de um desejo coletivo”, respondeu ele, naquele dialeto típico da política em que a verdade se insinua, porém nunca se mostra por inteiro, pisando em ovos para não queimar etapas nem ferir susceptibilidades.
Entre os detentores de mandato, e com nome nacional, Alckmin é o político mais vitorioso do país. Abramos aqui dois parênteses, para nuançar a sentença. A primeira: suas vitórias são todas em São Paulo, o que já é muito, mas não é tudo. A segunda: apesar de nos dias de hoje termos a sensação de que tudo que ele toca é eleito, ele também já amargou derrotas. Perdeu a eleição para prefeito de São Paulo, em 2000, para Marta Suplicy, na época no PT. Esta foi a primeira vez que foi derrotado. Perdeu a eleição presidencial de 2006, para Lula. E perdeu em 2008, novamente na eleição municipal, quando o eleito foi Gilberto Kassab (Alckmin ficou em terceiro lugar, e apoiou Kassab no segundo turno, que derrotou Marta Suplicy).
Das três, a que merece mais destaque é a de 2006, porque nesta seu adversário era ninguém menos que Lula. Parecia que ia ser uma eleição decidida em primeiro turno, tanto que o petista até se deu ao luxo de não ir a um debate nacional entre os candidatos. Alckmin, porém, levou a disputa para o segundo turno. Aí Lula não faltou a nenhum debate.
Naquela eleição Alckmin lançou no Recife, em 4 de agosto, o “Plano para um Novo Nordeste”, um programa feito às pressas para tentar alavancar o nome do candidato na região, que segundo o Datafolha tinha na época 13% das intenções de voto, contra 63% de Lula. Nas eleições presidenciais os candidatos tucanos costumam apresentar “programas” para o desenvolvimento do Nordeste; a questão é que, passadas as eleições, a região praticamente desaparece da agenda deles. Não aparece na agenda da bancada do Congresso, não aparece nos discursos, não aparece nos estudos do partido… Aí vem nova eleição e lá estamos novamente diante de “Planos para um Nordeste Novo”…
Trago o assunto à tona não como referência ao fato de que nacionalizar o indiscutível perfil vitorioso do hoje governador de São Paulo não é algo que se limite a entrar no avião, desembarcar no Aeroporto Internacional dos Guararapes/Gilberto Freyre, comer uma tapioca e lançar um plano em papel couchê. Certo que isso ajuda, e é até indispensável numa campanha. Porém, o que leva uma região, ou pelo menos parte dos habitantes de uma região a pender para um candidato é a sinceridade demonstrada do seu engajamento. E não estou falando só do Nordeste, óbvio.
A trajetória até aqui vitoriosa do governador Geraldo Alckmin tem um encontro marcado com 2018. Se ele conseguirá chegar a tempo, é provável. Se será bem sucedido no encontro, aí é outra história.