Apelo pelo engajamento da população foi feito no mesmo dia do balanço da violência em Pernambuco.
Silvia Bessa (texto)
Facebook/Reprodução da internet (foto)
Semana passada Joelma Maria dos Santos foi morta no Alto da Serrinha, bairro de Dois Unidos, Zona Norte do Recife. Com 32 anos, mãe de cinco filhos, deu o último suspiro após ser atingida por um tiro na testa. Seu fim foi visto pelos meninos, que agora choram. Em Petrolina, Sertão do São Francisco, desde o dia 10 de dezembro de 2015 que Lúcia e Sandro, pais de Beatriz Mota, convivem com a ausência da filha de sete anos, assassinada com 42 facadas. Todos participavam de uma festa escolar quando a menina se distanciou por alguns minutos. No último dia 11 de fevereiro, os que a amam escreveram sobre Beatriz: “Hoje seria aniversário dela, mas não teremos a chance de dar os parabéns”. Nunca abandonaram a luta.
Ontem, abriu-se um caminho para se chegar até o assassino da garotinha. A delegada Gleide Ângelo, que assumiu a investigação há apenas três meses, apresentou imagens daquele que considera o autor da brutalidade praticada contra Beatriz. Gleide pediu engajamento da sociedade para conseguir identificar, achar e capturar o homem que matou a menina com golpes de faca. A página do Facebook que mobiliza a sociedade para lutar por justiça em nome de Beatriz, intitulada #somostodosbeatriz, também conclama mobilização: “Vamos precisar da ajuda de todos para que se alcance todo o Brasil. Temos que pegar esse monstro”. Ainda não se tem suspeita sobre a motivação da barbaridade.
Os boletins policiais aqui são variados e numerosos, e todos são parte de um quadro de violência complexo. As estatísticas de Pernambuco falam por si. A mais recente delas no que diz respeito à insegurança foi divulgada pela Secretaria de Defesa Social na tarde desta quarta-feira. Mostra que, somados os registros de janeiro e fevereiro deste ano, foram 977 homicídios registrados. Se considerados os de março, incluindo a morte da mãe Joelma Maria dos Santos, passam de 1 mil mortes violentas só em 2017 no estado de Pernambuco. A conjuntura inclui outras modalidades de crimes. Roubos de veículos foram 3.327, assaltos a ônibus foram 374. Os casos de violência doméstica chegam a 5.218. Os estupros de janeiro e fevereiro chegam a 295 vítimas.
Não há notícia mais relevante para os pernambucanos esta semana do que essa. Os dados oficiais quantificam o sentimento das ruas, o temor reverberado via internet e celulares. Foi nesse espaço que um dos maiores especialistas em segurança pública no país se pronunciou sobre os números ontem. José Luiz Ratton, sociólogo e um dos idealizadores do Programa Pacto pela Vida no estado, faz um resumo do que considera o quadro atual.
O especialista compara o volume de homicídios no estado nos dois primeiros meses com os dois meses iniciais de 2016, constata um aumento de 47,8% do crime e analisa: “A situação está cada dia mais ‘desconfortável’. Vou desenhar: a pactuação acabou, não há mais política pública de segurança, não há governança, os avanços alcançados no passado não foram institucionalizados e perderam-se”. Ratton vai além: “Estamos definitivamente de volta à situação muito parecida com a primeira metade dos anos 2000. E ainda não sabemos se o fundo do poço foi atingido. É preciso construir urgentemente uma nova pactuação em Pernambuco na área de segurança, com participação ampla e permanente na sociedade civil”.
É preciso construir. Ou, talvez, reconstruir.