Atriz Maisa é a ré da vez do tribunal online por dispensar garoto com o qual não demonstra qualquer afinidade.
Luiza Maia (texto)
SBT/Divulgação (foto)
Conhecida dos telespectadores brasileiros desde os 3 anos de idade, quando despontou em um quadro do Programa Raul Gil, Maisa, atualmente aos 15 anos, incita o debate sobre uma chaga nociva da sociedade, muitas vezes apresentada em tom de brincadeira. Estamos em 2017, mas uma adolescente foi constrangida pelo patrão mais famoso da televisão brasileira a acatar a proposta de um relacionamento amoroso arranjado com um garoto maior de idade – Dudu Camargo, o apresentador do polêmico jornalístico Primeiro impacto, tem 19 – e com o qual não demonstra ter qualquer afinidade.
O magnata do SBT insiste na fórmula de implicar com a garota, adotada desde quando ela era uma criança de cabelos curtinhos e cacheados, no quadro Pergunte a Maisa. As respostas cortantes e imediatas – ainda bem – permanecem. Como todas as convidadas do sexo feminino, ela foi obrigada ao questionário sobre parceiros de Silvio Santos. “Então eu posso ir embora. Não estou aqui para arranjar namorado. É um ultraje, é constrangedor você me submeter a uma situação dessa”, disparou Maisa, em plena TV aberta, como gostariam tantas jovens no almoço de Natal com as famílias.
Como se não bastassem as investidas do próprio empregador e o tribunal do ódio online ao qual foi imediatamente jogada, a ré Maisa virou vítima dos comentários ácidos de Sônia Abrão. “E ela tem que se desculpar pela grosseria, pela falta de educação, pela antipatia, pela arrogância, pelo salto alto, Maísa. É muito cedo, tá, pra você começar”, criticou a apresentadora do A tarde é sua (RedeTV!), ao classificá-la como “mimada” e “mal-educada”. Klara Castanho e Lívia Andrade saíram em defesa da colega de mesma idade.
No Facebook, Maisa proferiu um didático desabafo, no qual cutuca a ferida do tratamento dedicado às mulheres no tocante ao arranjo conjugal. “Estamos aqui para trazer reflexão: até quando as mulheres vão viver precisando aceitar tudo? Não é não. Recebi muitas mensagens de apoio, pelo posicionamento e por não aceitar tudo em nome do entretenimento. Eu sou uma adolescente de 15 anos como qualquer outra, me posiciono com as causas necessárias, falo o que penso, sempre mantenho minha educação, tenho o direito de liberdade de expressão, de gostar ou não gostar, e nunca precisei ficar criticando as pessoas nas redes sociais para me sentir melhor”, escreveu, não sem antes esclarecer não se sentir pressionada ou obrigada a dar explicações.
Afinal, uma adolescente só poderia dispensar uma dança e um selinho (como fez Dudu com uma garota da plateia) se for muito educada e singela. Enfim, uma dama. Esta não é a primeira tentativa de Silvio Santos de “desencalhar” (claramente, o apresentador de 86 anos enxerga assim o fato de uma menina de 15 anos não ter namorado) Maisa. Há três anos, no quadro Jogo dos pontinhos, ao lado de Helen Ganzarolli, ela já alertava para a própria idade: “Não, eu sou criança ainda… Tenho doze anos, não entrei na fase da adolescência”.
Maisa é atriz, cantora, modelo e apresentadora. Fez novelas, filmes, especiais, lançou disco e livro. Mas, para Silvio Santos, ainda importa se ela tem pretendentes ou não. No início do ano passado, ela voltou a ser notícia sobre “não namoro” por uma publicação no Twitter. “Galera insiste em arrumar boy pra mim. Gente, se eu ficar pra titia vai ser porque eu quero. Beijos, eu tenho 13 anos, arrumem boy pra vocês”, insistiu, mas uma vez, na defesa da própria liberdade romântica.
Apesar de ter crescido em meio ao mundo das celebridades e das tendências à erotização e adultização das crianças materializada em maquiagens, roupas, compromissos e atitudes de pessoas mais velhas, ela nada contra a corrente há anos e luta, com argumentos assustadoramente maduros, pelo próprio direito de curtir a juventude. Ela já pleiteou o direito de continuar a brincar de boneca, hábito interrompido cada vez mais cedo entre pré-adolescentes, e rebateu acusações de ser ingênua. “Não sou imatura, sou criança”, definiu, em entrevista ao portal IG, em 2013.
Não foi suficiente. Para Maisa e tantas outras garotas brasileiras, aparentemente, está muito longe de ser. Em uma sociedade na qual crianças e até bebês são impulsionados a “namorar” os amiguinhos e filhos de vizinhos, parece natural perpetuar eternamente a lógica dos namoros arranjados, mesmo entre risos. Mas não é. Apenas parem de querer casar nossas crianças.