Capela do Hospital do Câncer será cenário para união de dois palhaços do Doutores da Felicidade.
Silvia Bessa (texto)
Arquivo pessoal (foto)
Doutora Chuchu e doutor Apô irão se casar no próximo dia 25. Escolheram a Capela do Hospital do Câncer de Pernambuco para celebrar a união. A noiva entrará na igreja às 10h com vestido branco e véu tradicionais, maquiagem e o seu já conhecido nariz vermelho de palhaça, que tanto ajuda a quebrar a tensão ao aproximar-se de enfermos. Aos amigos e conhecidos que participarão da cerimônia, avisou que prefere doações de pacotes ou litros de leite a qualquer outro presente. Uma equipe da Rede Feminina Estadual de Combate ao Câncer está encarregada do cerimonial e busca apoiadores para concluir a decoração e o bolo.
As mulheres da Rede são muito agradecidas à doutora Chuchu, que há dez anos faz visitas de acolhimento e arrecadação de donativos no estado e há cinco anos teve a autorização para levar seu grupo de voluntários para atuar dentro do Hospital do Câncer. “Na última campanha de recolhimento que a noiva fez garantiu meses de abastecimento do hospital. A doação foi de três toneladas de leite”, conta Maria da Paz, presente da Rede. Doutora Chuchu e sua equipe arrecadaram um total de 6,5 toneladas e distribuíram entre várias unidades necessitadas.
Doutora Chuchu é Welba Rousy. Doutor Apô é Lucas Apolinário. Ela, com 45 anos. Ele com 25 anos. Ela o conhecia desde 6 anos de idade. É amiga da família e ri quando lembra de quando reclamou por ele tropeçar em uma taça numa festa. Na juventude, Lucas passou a integrar o projeto criado por Welba. Apaixonaram-se aos poucos, emprestaram o ombro para muitos desolados. Um dia estavam ao lado de uma paciente acamada no Hospital do Câncer. Enfraquecida, no centro de cuidados paliativos, a paciente não abria nem os olhos. Welba cantava e Lucas tocava violão para alegrar o ambiente. Doutora Chuchu, ou Welba, canta lindamente e é capaz de encantar até os mais tristes.
“O marido nos disse que a música da vida deles era Detalhes, de Roberto Carlos. Cantamos”. A letra, já se sabe: “(…) Eu sei que esses detalhes vão sumir// Na longa estrada// Do tempo que transforma todo amor// Em quase nada// Mas quase também é mais um detalhe// Um grande amor não vai morrer assim// Por isso é que de vez em quando você vai// Lembrar de mim”, entoou. Naquele momento, a mulher abriu os olhos. “Foi emocionante”, narra Welba. Ao sair do ambulatório, Lucas encorajou-se. Tendo como testemunhas enfermeiros, pacientes e amigos do Doutores da Felicidade, ele a pediu em namoro e roubou o primeiro beijo. “Não é brincadeira”, avisou Lucas. A vibração foi geral.
No dia 25 de julho de 2016, veio o pedido de casamento – não menos romântico e simbólico. O Hospital do Câncer continuou a ser o cenário preferido deles. Os amigos do casal a levaram para o pátio usando uma desculpa. O pátio é rodeado de ambulatórios. Com dezenas de pacientes como testemunhas, Lucas se ajoelhou e a pediu em casamento. “Foi um chororô”, conta Welba, que aceitou a aliança de noivado e disse contar com o apoio da filha de outro relacionamento, Maria Vitória, de 15 anos.
Os noivos, que estudam nutrição na Universidade Maurício de Nassau no período da manhã, pelo menos duas vezes na semana se dedicam ao voluntariado. Além do Hospital do Câncer, visitam abrigos, a Santa Casa de Misericórdia, o Hospital Barão de Lucena, fazem programação na semana da criança no Hospital da Restauração e promovem palestras motivacionais com escolas, onde divulgam campanhas para donativos. Quando não estão em pedágios para a manutenção do projeto, uma vez que não fazem parte de nenhuma Organização Não Governamental.
“Não é nada sofisticado, mas a organização do casamento de Welba é uma retribuição a tudo que esse grupo faz. Realmente é um trabalho diferenciado. Há grupos que fazem animação e, quando saem do hospital, pronto; acabou. Eles cativam ouvindo sobre a vida de cada um, sabem a forma de abordar. Todos ficam esperando a nova visita”, conta Maria da Paz, da Rede de Mulheres.
Desta vez os ansiosos são os noivos. Doutora Chuchu e doutor Apô, como são conhecidos Welba e Lucas em unidades de saúde de Pernambuco, não veem a hora de voltar ao Hospital do Câncer para celebrar a felicidade pessoal.