28.09

Família Silva, de Simões, no Piauí, apega-se à esperança para enfrentar os tempos difíceis.

Silvia Bessa (texto)
Teresa maia (foto)

Assunto que seu Valdetório da Silva gosta de falar é política. Se der brecha, ele desata a falar, sem precisar de sombra para se proteger durante a conversa fiada e colocando por terra a suposta teoria que pobres e brasileiros dos rincões e do Nordeste estão alheios ao restante do mundo. Na semana seguinte àquela na qual a Polícia Federal fez a apreensão de R$ 51 milhões atribuídos ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, seu Valdetório parecia indignado. “O país está afundando”, comentou este morador da zona rural da Serra da Palma, no entorno do município de Simões, no estado do Piauí. “Os bichos estão botando para dentro da casa deles o dinheiro do povo”, disse, referindo-se aos políticos, quando recebeu a visita da reportagem do Diario.
O presidente Michel Temer, segundo seu Valdetório, tem sua parcela de culpa. “Michel só gosta de gente rica e só coloca dinheiro para o lado de lá”, afirmou, em menção a municípios do Sudeste. Nesta região do país, Michel Temer é tratado apenas como Michel, com a informalidade e até certa intimidade que o popular costuma esperar daqueles que os representam. O que se vê nesta residência em Simões é termômetro para as pesquisas mais recentes sobre aprovação do atual governo. Para lembrar, levantamento divulgado pelo Datafolha em julho mostrava que 69% dos entrevistados consideram o governo dele ruim ou péssimo. “Para mim, ele é ruim em tudo. E mais ainda porque não dá uma risada para ninguém. Não tem simpatia”, acrecentou.
À revelia dos processos em que o ex-presidente está envolvido, Luiz Inácio Lula da Silva continua sendo aquele que merece os maiores elogios da família de seu Valdetório: “Quem entende de fome pode falar de Lula. A gente gosta de Lula porque ele sempre pensou nos mais pobres e melhorou a fome de muita gente por aqui”. Dona Brígida tem até um sonho: “Eu quero ele presidente de novo”. Questionados se tinham conhecimento sobre os sete processos em que Lula é réu e se sabiam que ele é investigado por envolvimento corrupção, marido e mulher respondem em comum acordo: não acreditam no envolvimento do ex-presidente e pensam mais no que ele fez pela região e pelos que mais precisam – sobretudo os nordestinos.
A família Silva da Serra da Palma reside em uma área promissora do Piauí, onde vem sendo instalado desde 2014 o maior complexo eólico do Brasil e um dos maiores parques eólicos da América Latina. A casa deles é cercada por aerogeradores, turbinas, investimento de bilhões. Os Silva sofrem com a velocidade dos ventos aumentada, após a fixação dos equipamentos gigantes, dizem que tiveram a vida piorada porque agora nem o pequeno plantio de mandioca e feijão consegue vingar. Chegaram a mudar de moradia em função dos ventos, mas estão confiantes de que ainda podem ser incluídos no programa de arrendamento da Casa dos Ventos, empresa que investe na área e que paga a moradores para conviverem com os aerogeradores em seus terrenos em troca de até R$ 3 mil por mês como aluguel. “Quem teve direito melhorou muito de vida”, acredita o patriarca.
A voz de seu Valdetório nem sempre é ouvida. Ele mora distante 357 km da capital do Piauí, Teresina, mas enfrenta dificuldades semelhantes àqueles vividos na zona urbana das metrópoles, seja Recife ou São Paulo. O maior problema da Serra das Palma e da Serra dos Cláudios e da vizinhança é a falta de emprego. Centenas de vagas são geradas na ampliação do complexo, mas elas costumam ser temporárias. A vida está difícil para os Silva. O que sustenta seu Valdetório, mulher e filhos é a esperança. Ainda. “Tenho fé que a gente vai viver dias melhores”. É o que todos nós aguardamos nesta temporada em que o céu cinza insiste em invadir os pensamentos do cidadão.