Trechos de poesias e de música, frases e pinturas marcam a vida das pessoas. Algumas resolvem então deixar tudo registrado no corpo. No Diario de Pernambuco do domingo, o repórter do Viver, Fellipe Torres, encontrou personagens que preservaram a arte em suas vidas através da tatuagem. Abaixo, o texto principal da reportagem de duas páginas.
Vida marcada com a arte
Fellipe Torres
Não é somente questão de modificar o corpo, colocar tinta sob a pele. Em várias épocas, em todo o mundo, tatuadores e tatuados produzem e interpretam significados os mais diversos. Jovens, velhos, ricos, pobres, homens, mulheres. Difícil é ser indiferente. Por um lado, a marcação da pele gera controvérsias e preconceitos. Por outro, ganha entusiastas fervorosos. Na busca pelo risco ideal, capaz de traduzir sentimentos, gostos e ideologias, uma das mais frequentes inspirações é a própria arte. O legado imaterial deixado por grandes mentes da literatura, das artes plásticas, do cinema, da música.
No corpo de um estudante alemão, a gravura criada pelo artista plástico Gilvan Samico – uma sereia com o sol nas mãos – eterniza a paixão por um Recife ensolarado, cultural, religioso. Na pele de uma jovem pernambucana, a letra da música resume a superação de paraplegia em decorrência de acidente. No tornozelo do publicitário, o rosto do gênio do cinema é, na realidade, a lembrança e o carinho pelo pai. Nas costas do marido e na perna da esposa, o colorido de um hobby em comum.
Histórias assim tendem a se multiplicar neste fim de semana, quando ocorre a primeira edição da convenção de tatuagem Recife Tatto Arte (10h, no Círculo Militar do Recife, na Avenida Agamenon Magalhães, na Boa Vista), com participação de mais de 100 tatuadores. São artistas de oito estados. Entre as atrações, concurso de tatuagens com seis categorias, sorteios e lojas especializadas em bodyart. Organizador do evento, o tatuador Henrique Brandão se destaca entre os colegas de profissão por adaptar pinturas de artistas como Joan Miró e Salvador Dalí.
Mas as referências às artes e à cultura pop nem sempre são bem planejadas. Tatuadores alertam para as decisões por impulso em um mundo em que as manifestações artísticas mudam rápido. “O modismo é algo presente nesse universo. Às vezes um filme acabou de entrar em cartaz e a moçada já vem copiar a tatuagem do Vin Diesel ou de algum outro ator. Ou então escolhem o símbolo de bandas como Pearl Jam e Biohazard e depois se arrependem”, comenta Daniel Loureiro, da Recife Tatoo Shop. No cinema, os mais requisitados são Alice no país das maravilhas e O poderoso chefão. Na literatura, O pequeno príncipe.
A mudança de pensamento dos interessados em novas tatuagens fica clara quando morre algum ídolo da música, como foi o caso do cantor Chorão, em março do ano passado. “No calor da emoção, choveu gente aqui tatuando frases, trechos das músicas. Mas a gente sabe que pouco depois esse pessoal se arrepende. Em alguns casos, a pessoa volta para cobrir com outra tatuagem”, diz o tatuador Douglas Victor. O Viver reuniu histórias por trás das tatuagens capazes de imortalizar a arte no corpo e, a partir dos traços, dar mais corpo a toda forma de arte.