No lugar errado, mas na hora certa. É na comédia de erros de uma apuração jornalística que está a graça deste filme que passou em branco nas telas brasileiras. Lançado na Europa no primeiro semestre deste ano para pegar carona nas comemorações dos 40 anos da Revolução dos Cravos, As ondas de abril (Les grandes ondes) é baseado livremente em um fato ocorrido com o diretor suíço Lionel Baier, que participou, na República Tcheca, das comemorações da queda do muro de Berlim, em 1991. Baier mudou o cenário e a data, jogando seus personagens em Portugal nos estertores (sempre quis usar esta palavra) da ditadura de Salazar em 1974.
Os personagens: dois jornalistas da rádio suíça enviados a contragosto a Portugal para fazer uma reportagem “positiva” sobre a ajuda a um país “subdesenvolvido, mas simpático”. Com eles, um técnico de som prestes a se aposentar que não larga por nada a sua Kombi azul. A eles se junta um nativo, um pós-adolescente que aprendeu a falar francês vendo filmes e que se chama… Pelé. Quando o trabalho se encaminha para o fracasso e a volta para casa, eis que no dia 25 de abril os militares se juntam ao povo para fazer história e dar o mote para as outras manifestações populares que derrubariam governos impopulares no continente.
A reconstituição de época é um dos pontos fortes do filme, assim como a construção dos personagens. Apesar de umas derrapadas quase no fim, até com um simulacro de um musical, é uma obra nostálgica para quem já andou muito de Kombi para fazer reportagens, o caso de este que vos escreve. Em tempos de cobrança de isenção ou não dos jornalistas, As ondas de abril mostra o que acontece quando se mergulha na história.