Enem tem abstenção recorde de 51,5%

Enem tem abstenção recorde de 51,5%

Por Henrique Souza

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teve ontem abstenção de mais de 50%, um recorde histórico. Faltaram ao primeiro dia de provas 2,8 milhões dos pouco mais de 5,5 milhões de candidatos inscritos. Em Pernambuco, houve uma ausência de 151.535 estudantes (48,4%). Em coletiva de imprensa para divulgar o balanço, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, culpou “o medo a respeito da contaminação”. O segundo dia de aplicação do exame será no próximo domingo, quando os participantes resolverão questões sobre as ciências da natureza e suas tecnologias, e matemática e suas tecnologias. Por conta da pandemia do novo coronavírus, o Inep ainda aplicará a versão digital em 31 de janeiro e 7 de fevereiro.

As provas de linguagens e ciências humanas, assim como o tema da redação deste ano, O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira, receberam elogios dos professores. O exame incluiu 90 questões, sendo metade de linguagens códigos e metade de ciências humanas. Por conta da pandemia, os portões foram abertos meia hora mais cedo que nos outros anos, às 11h30. Os testes foram aplicados das 13h30 às 19h. Docentes do Colégio Núcleo foram ouvidos pela reportagem para avaliar os conteúdos.

O professor de produção de texto Anderson Ferreira aprovou a temática da redação. “É um tema bastante discutido desde o ano passado e que gira em torno da ideia de estigmatização, essa característica que a sociedade tem de culturalmente criar símbolos negativos sobre as pessoas com deficiência mental. É uma discussão muito válida, bem arrematado para o Enem e dentro de uma discussão que pode ser exemplificada com o nosso ano, o ano da pandemia.”, afirma.

A professora de linguagens Rita Kramer aponta para a importância da interpretação de texto na resolução das questões. “Nenhuma das questões dispensa a leitura integral e atenta do texto. Outra coisa frisar é o cumprimento das expectativas em relação aos conteúdos: a variação linguística, funções da linguagem, gêneros textuais, tipos textuais, entre outros. O assédio contra a mulher também apareceu, a diferença salarial entre homens e mulheres. Questões de gênero foram importantes”, diz.

A professora de literatura Kelly Pimentel ressaltou o caráter transversal da prova. “Também destacamos a ausência das vanguardas artísticas europeias e a referência a muitos autores contemporâneos, alguns ainda pouco conhecidos, bem como a clássicos como Manuel Bandeira e Olavo Bilac. Ainda sobre artes, tivemos questões sobre arte conceitual, e o gênero canção veio privilegiando Lenine, Caetano Veloso, Tom Jobim e MC Fioti com a música Bum bum tam tam.”

O professor de história do Brasil Ian Chaves acredita que o exame esteve dentro do esperado. “Alguns conteúdos que a gente considera clássicos não estiveram presentes, como o século 20. Mas também vimos figurinhas carimbadas, como questões que se referem à escravidão, Brasil Colônia. Não foi uma prova de muitos sustos”, analisa.

A opinião também é compartilhada pelo professor de história geral Rodrigo Bione. “É uma prova que não trouxe grandes surpresas. A prova focou muito em questões como teoria política, direitos humanos, uma coisa boa de se ver.”

A professora de geografia Amália Guimarães diz que as questões poderiam ter abordado mais assuntos. “No geral, a prova ficou com poucos temas. Geografia é uma ciência que tem uma diversidade temática absurda. A prova veio de uma certa forma enxuta, o que é muito bom para os alunos, decorrente de todo o ano. E previsível quanto ao tema que dominou, que foi a questão agrária.”

Já o professor de sociologia Miqueias Soares elogiou. “É aquela prova que exercita a necessidade da cidadania. Várias questões analíticas, valorizando quem tem uma visão de mundo mais ampla. Questões sobre democracia, direitos humanos e educação.”

Dificuldades

Estudantes do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande Sul relataram não terem conseguido acessar os locais de prova por decisão das equipes de aplicação locais. O Inep ainda não se pronunciou sobre estes casos. Também foram vistas aglomerações em escolas e locais de aplicação, apesar da recomendação de uso de máscaras e distanciamento social. No Amazonas, as provas foram adiadas por causa do estado de calamidade pública causado pela pandemia.

Ontem, 2.967 participantes foram eliminados e 69 afetados por “ocorrências logísticas”, como quedas de energia. O Enem também não foi realizado em duas cidades de Rondônia (Espigão do Oeste e Rolim de Moura), devido às restrições dos governos locais à circulação de pessoas. Por conta disso, 3.832 estudantes não fizeram a prova nos dois municípios.

Os candidatos do Enem que apresentaram sintomas ou diagnóstico de Covid-19 na véspera ou no primeiro dia de prova poderão solicitar a reaplicação da prova entre os dias 25 e 29 de janeiro, na página do participante.

Vídeo: Professores do Núcleo comentam as provas do primeiro dia

Vídeo: Professores do Núcleo comentam as provas do primeiro dia

Professores do Colégio Núcleo analisaram ao vivo as primeiras provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, realizadas nesse domingo (17). Participaram do bate-papo os professores Anderson Ferreira, Jailton Nóbrega, Kelly Pimentel, Rita Kramer, Ian Chaves, Rodrigo Bione, Amália Guimarães e Miquéias Soares. Eles falaram sobre as provas de Redação, Linguagens e Ciências Humanas, aplicadas ontem.

Confira:

Conheça o sistema de correção do Enem

Conheça o sistema de correção do Enem

Por Agência Brasil

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) utiliza um sistema de correção chamado teoria de resposta ao item (TRI). Mesmo com o gabarito em mãos, não é possível saber a pontuação final do exame. O sistema, conhecido como um método “antichute”, pode ser usado a favor dos estudantes, principalmente nas provas de exatas, que serão aplicadas no próximo domingo (24). Professores entrevistados pela Agência Brasil dão algumas dicas de como se sair bem no segundo dia de aplicação do Enem. 

“A dica geral é que acertar as questões fáceis dá mais pontos para o estudante. Como ele pode lidar com isso? Focando em acertar as questões fáceis. Na prática, na hora da prova, isso significa pular as questões difíceis. O Enem é uma prova que tem muitas questões e pouco tempo para resolver cada questão. Então, se perder muito tempo em uma questão difícil, isso não vai dar muito ponto no final e não vai valer tanto a pena”, explica o diretor de ensino do cursinho online Me Salva!, André Corleta.

Nesse domingo (17), os estudantes fizeram as provas de linguagens, ciências humanas e redação. No próximo, resolverão, em cinco horas, as questões de ciências da natureza e de matemática. Ambas provas objetivas, de múltipla escolha. Cada uma com 45 questões.

As questões do Enem são escolhidas a partir de um banco de questões do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que é frequentemente abastecido com novas questões. Cada questão é testada antecipadamente com um grupo de estudantes e classificada de acordo com a dificuldade. Por causa disso, é possível compor várias provas do Enem,com questões diferentes, mas com o mesmo nível de dificuldade.

Na hora da correção, segundo o professor de física do pré-vestibular online Descomplica Rafael Vilaça, o TRI vai levar em consideração a coerência da prova, ou seja, é esperado que um estudante que acerte questões muito difíceis, acerte também as muito fáceis. Se isso não acontecer, o sistema pode entender que ele chutou a questão e, por isso, ele pontuará menos nessa questão do que estudantes que tenham mantido certa coerência esperada. “A primeira dica é, então, identificar as questões fáceis de cada disciplina”, diz Vilaça.

“Essa metodologia funciona muito bem quando se tem essa diferenciação entre questões fáceis e difíceis explícita. Isso acontece mais no segundo dia de prova, quando se tem matemática e ciências da natureza. Entre as humanidades [no primeiro dia de prova] é mais difícil”, complementa Corleta. Questões que demandam muitos cálculos e operações complexas são, geralmente, mais difíceis.

Vilaça orienta os estudantes a, caso não saibam uma questão, pular para outra. No fim da prova, se sobrar tempo, o estudante deve voltar nessas questões e tentar resolvê-las. “Sempre estimulo os alunos a tentar fazer as questões teóricas, não que sejam mais fáceis mas levam menos tempo e fazem com que se garanta as questões fáceis e teóricas e, também, uma coerência na prova”, diz.

Para o professor, nenhuma questão deve ser deixada em branco. Em último caso, o estudante deve chutar. “O chute é sempre melhor que deixar em branco. Nunca deixe. Porque mesmo que não esteja tão coerente a prova pelo fato de ter chutado a questão, se chutar e tiver a sorte de acertar, isso não significa que perderá ponto, mas que a questão valerá menos. Se deixar em branco, é zero”.

Enem 2020

Ao todo, cerca de 5,8 milhões de estudantes estão inscritos no exame. O Enem 2020 terá uma versão impressa, que começou a ser aplicada no último domingo (17) e segue no próximo fim de semana, no dia 24 de janeiro, e uma digital, realizada de forma piloto para 96 mil candidatos, nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro.

As medidas de segurança adotadas em relação à pandemia do novo coronavírus serão as mesmas tanto no Enem impresso quanto no digital. Haverá, por exemplo, um número reduzido de estudantes por sala, para garantir o distanciamento entre os participantes. Durante todo o tempo de realização da prova, os candidatos estarão obrigados a usar máscaras de proteção da forma correta, tapando o nariz e a boca, sob pena de serem eliminados do exame. Além disso, o álcool em gel estará disponível em todos os locais de aplicação.

Quem for diagnosticado com covid-19, ou apresentar sintomas dessa ou de outras doenças infectocontagiosas até a data do exame, não deverá comparecer ao local de prova e sim entrar em contato com o Inep pela Página do Participante, ou pelo telefone 0800-616161, e terá direito a fazer a prova na data de reaplicação do Enem, nos dias 23 e 24 de fevereiro.

Lenine, Manuel Bandeira e Revolução de 1817: Pernambuco no Enem 2020

Lenine, Manuel Bandeira e Revolução de 1817: Pernambuco no Enem 2020

Os estudantes pernambucanos que participaram da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste domingo (17), primeiro dia de aplicação da avaliação, encontraram várias questões que faziam referência a artistas ou acontecimentos locais. O cantor pernambucano Lenine, o escritor recifense Manuel Bandeira e a Revolução de 1817, ocorrida no estado, foram citadas em questões das provas de Linguagens e de Ciências Humanas.

A música Leão do Norte, de Lenine, apareceu na prova de Linguagens. Versos como “Sou o coração do folclore nordestino. Eu sou Mateus e Bastião do Boi-bumbá. Sou o boneco de Mestre Vitalino, dançando uma ciranda em Itamaracá” estavam no quesito 27, que perguntava sobre as diferentes manifestações culturais exaltadas pelo artista. Na questão 24, um trecho do livro Itinerário de Pasárgada, a autobiografia do escritor Manuel Bandeira, é citado. Os candidatos precisavam responder a função da linguagem predominante no fragmento usado pelo Enem.

A Revolução de 1817 foi tema da questão 53, na prova de Ciências Humanas. “O movimento sedicioso ocorrido na capitania de Pernambuco, no ano de 1817, foi analisado de formas diferentes por meios de comunicação daquela época”, citou a questão, referindo-se a textos publicados no Correio Braziliense e na Gazeta do Rio de Janeiro.

Outras questões

Também apareceram na prova deste domingo do Enem o cartaz do filme Que horas ela volta?, em uma questão sobre variedade linguística recorrente na fala dos brasileiros. A canção Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, foi usada em uma questão sobre tipos textuais. A incorporação de um trecho da obra para flauta solo de Johann Sebastian Bach na música Bum bum tam tam, de MC Fioti, também foi tema de questão do Enem 2020.    

Redação

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio deste ano foi “O Estigma Associado às Doenças Mentais na Sociedade Brasileira”, conforme divulgou o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os candidatos tiveram até as 19h para concluir as primeiras provas, aplicadas neste domingo. Os participantes fizeram as provas objetivas de linguagens e ciências humanas, com 45 questões cada, além da redação.
Estudantes reclamam de salas cheias para fazer a prova

Estudantes reclamam de salas cheias para fazer a prova

Por Estado de Minas

Em meio ao aumento de casos da Covid-19 em todo país, estudantes realizam neste domingo (17) a primeira etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O horário de início da prova foi 13h30 e enquanto não se iniciava, vários candidatos usavam as redes sociais para reclamar das inadequações dos locais da prova.

Entre as justificativas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para não adiar o Enem 2020 foi que seguiria todas as recomendações das autoridades sanitárias contra o novo coronavírus. No entanto, não é o que está sendo relatado pelos estudantes.

Alguns deles utilizam as redes sociais para reclamar do distanciamento social nas salas que as provas estão sendo aplicadas. “Tem 40 pessoas na minha sala e 32 na do lado, grande distanciamento #Enem2020”, escreveu um jovem no Twitter.

E esta está sendo a reclamação de mais pessoas que estão fazendo a prova. “Oi @inep_oficial tudo bom?? Você disse que ia ter distanciamento mas minha sala tá cheia viu e com as janelas fechadas”, postou outro perfil.

Em alguns locais, as pessoas estão relatando que medidas básicas anunciadas pelo Inep não estão sendo tomadas. “Não tem ninguém medindo a temperatura ou dando álcool em gel, todas as salas atingiram capacidade máxima e não tem mais sala para realizar a prova”, comentou uma internauta.

Em outra conta no Twitter, uma pessoa chegou a dizer que a prova dela foi cancelada pela capacidade máxima. “Gente cancelaram meu Enem pelo limite de pessoas. Socorro agora eu faço só 2ª aplicação”, escreveu.