Os chineses podem não ser mais criativos que os outros, mas souberam transformar em produto comercial uma obra de arte do Diario. Há dois meses, o ilustrador Jarbas Domingos descobriu que um site chinês de produtos de informática vende um protetor para iPhone reproduzindo a capa do jornal de 6 de outubro de 2011, justamente a que homenageava o criador do aparelho – e mais o iPod e o iPad, sem falar nos computadores Mac… – falecido no dia anterior.

Por US$ 5,70, um comprador de qualquer parte do mundo pode se tornar dono de objeto tão clean quanto o próprio smartphone da Apple. Afinal de contas, o que surgiu como um rabisco a lápis num pedaço de papel, na correria do fechamento para definir como ilustrar a importância de Steve Jobs para o mundo, tornou-se uma das capas do Diario com maior repercussão internacional.

Desde que o desenho em preto e branco de uma maçã, um óculos de aros redondos e uma blusa de gola rolê tomou toda a primeira página do jornal, uma onda de elogios brotou primeiramente nas redes sociais e depois nos sites especializados em design e, claro, jornalismo.

O site norte-americano Cult of Mac, dedicado a assuntos relacionados aos produtos da Apple, escrito por jornalistas que costumam colaborar para publicações como Wired, The New York Times, The Guardian e Scientific American, colocou a capa do Diario como a mais expressiva em relação ao impacto da morte de Steve Jobs. A postagem foi feita pelo próprio John Brownlee, editor da página.

Outros sites, como o do instituto Poynter (centro de estudos de jornalismo com sede na Flórida), do The Examiner (São Francisco), do Red Eye (Chicago) e do Huffington Post (um dos principais noticiários online do mundo) também destacaram a capa do Diario. No Brasil, entre as centenas de sites que divulgaram a capa, destaque para o Midia Mundo (especializado em análises de primeiras páginas), que a citou como “destaque nota 10”.

Um feito e tanto para uma capa concebida depois das 21h, quando a morte de Jobs já havia sido confirmada e tomou-se a decisão de dedicar a primeira página inteira para o assunto, sem o tradicional picadinho das outras notícias do dia. A orientação para a equipe de arte era adotar um visual limpo e icônico, de comunicação direta, com um estilo semelhante ao adotado nos produtos da Apple, como uma homenagem.

Foi quando Jarbas Domingos surgiu com o seu rabisco. Quando o editor de arte, Christiano Mascaro, viu aquele desenho, já enxergou a capa pronta. O editor de Primeira Página, Fred Figueiroa, pensou na manchete ideal: O homem que deu rosto ao futuro. “Estava fazendo outra arte, mas no meio da discussão, tive esta ideia. Quando viram o esboço, aprovaram de imediato”, lembra Jarbas, que está no Diario desde 2006. Além de charges, ilustrações e caricaturas, ele também publica no jornal a série Barô Barata no Diarinho.

E os chineses do site de produtos para iPhone? Claro que continuam adorando a capa do Diario, mas ainda não se deram ao direito de entrar em contato com o jornal e, muito menos, com o criador do desenho. Jarbas, aliás, não desistiu de querer conhecer os seus “parceiros” do outro lado do mundo.