O Diario de Pernambuco informa: sai a Monarquia, entra a República. Graças a uma série de três telegramas enviados pela agência Havas, o primeiro às 12h10 e o último às 15h50 do dia 15 de novembro de 1889, os leitores do jornal ficaram sabendo, na manhã do dia seguinte, que estavam sob um novo regime de governo. “Hoje pela manhã, chegando ao quartel-general, o Sr. Barão de Ladario recebeu tres tiros e um golpe de sabre, morrendo momentos depois. O ministerio em vista d’estes factos deu a sua demissão. Assumio o governo o general Deodoro da Fonseca provisoriamente. As tropas esperam a chegada de S.M. o Imperador, de Petropolis. Reina enthusiasmo”, informava o primeiro telegrama.

A morte trágica do barão de Ladário, ministro da Marinha, foi desmentida logo no segundo telegrama, publicado abaixo do primeiro na primeira coluna da capa do Diario do dia 16 de novembro. O restante foi mantido. O Brasil havia guinado para a República, sem nenhuma reação popular de grande monta tanto a favor quanto contra. Restava saber ainda se o movimento dos militares era mesmo para valer.
Em editorial publicado no dia 16, o jornal se pronunciava sobre a novidade, destacando o drama vivido pelo imperador Pedro II, que foi deposto pelos seus colaboradores mais próximos. O texto leva o sugestivo título de “Revolução”, palavra muito apreciada pelos militares sempre quando resolvem assumir o poder pela força.

“Amargurados dias foram estes reservados para o ultimo quartel do reinado de Sua Magestade o Imperador! Em poucos meses, movidos por uma conspiração do paço, os acontecimentos se tem precipitado com vertiginosa celeridade. Foi apeiado do poder um partido politico cheio de vida e que dispunha de maioria no parlamento; e substituido por outro partido que á força de baionetas e corrompendo tudo e todos, teve uma victoria estupenda nas urnas! E o governo, que assim sahio triumphante dos comicios viciados, cahe, como subira, por uma conspiração, desta feita de caracter nitidamente alarmante, por uma conspiração militar que se inicia por um crime. São crueis, são desoladoras as noticias que nos dá o telegrapho. Essas noticias traduzem-se em cruciantes angustias para o paiz que pensa, e que tem o que perder”.

A preocupação do Diario era evitar que o país entrasse numa situação de anarquia. Nos dias seguintes à proclamação da República, os editoriais alertavam para a situação de Dom Pedro II e para o governo provisório, que teria que agir no sentido de manter as instituições funcionando. Em 19 de novembro, o jornal já trata a República como um fato consumado. Até usa este termo em latim Consumattum para designar a situação do imperador, que embarcou para Portugal no dia 17. “Intimado para em 24 horas retirar-se para fóra do paiz, com sua familia, S. M. o Imperador deu-se por intimado e assignou o acto de sua propria deposição. S.M. embarcou hoje, às 4 horas da manhã, para a canhoneira Parnahyba, devendo seguir para a Europa no paquete brasileiro Alagoas”, registrava, o comunicado enviado às 14h40 daquele dia.

Depois se manifestar com simpatia pelo imperador, o Diario se adaptou aos novos tempos republicanos. Os Figueroa nunca foram republicanos, no entender de Arnoldo Jambo. O autor do livro comemorativo dos 150 anos do Diario ressalta que o jornal ainda precisou de tempo para se adaptar ao novo panorama político. “Mal tragado pelos conservadores, por semanas ainda o Diario andou às apalpadelas. A seguir veio lento e necessário esforço para ajustar-se à nova ordem, o que ocorreu sem muito desgaste e com bastante inteligência”, afirma.