No dia em que as lideranças do PT no estado decidiram apoiar o deputado Maurício Rands nas prévias contra o atual prefeito João da Costa, a colunista de política do Diario, Marisa Gibson, usou a expressão “impeachment branco” no título do seu comentário.  Não havia melhor forma de definir a manobra executada dentro do partido para tirar o poder do gestor da cidade – que ficaria sem direito a disputar um novo mandato. Naquele mesmo dia, cogitamos adaptar o título da coluna para a manchete do jornal. Mas ainda era cedo para cravar o “impeachment vermelho”.  A manchete foi para uma espécie de “gaveta” imaginária. Guardada para o momento certo.

Desde que foi marcada a reunião de São Paulo nesta terça-feira para decidir quem seria o candidato do PT no Recife, sabíamos que caso João da Costa fosse preterido, a manchete sairia da gaveta. O desenrolar dos fatos, com o prefeito deixando a reunião assim que foi informado sobre a intervenção da executiva nacional do partido, fortaleceu ainda mais o conceito em torno da expressão. O “impeachmant vermelho” estava consolidado e, consequentemente, a manchete do Diario desta quarta-feira definida.

Faltava a foto. E entre as opções oferecidas pelas agências nacionais, batemos o olho imediatamente na cena de João da Costa abatido, com a imagem do ex-presidente Lula (e maior símbolo do PT) desfocada em um painel atrás. Consenso em torno da “rasgar” a fotografia nas seis colunas e em toda a parte superior da capa.  Este era o nosso ponto de partida.

Faltava a outra metada da página e uma série de assuntos importantes para dividir o espaço. Além de mais duas chamadas com desdobramentos da manchete – necessárias pela quantidade de material – a lista montada pela editoria da 1ª página trazia a história de uma família que perdeu a casa e está morando em uma Academia da Cidade, em plena Praia de Boa Viagem, a mudança no financiamento da Caixa para a compra do imóvel, as novidades sobre a Campus Party e a apresentação dos jogos de Sport e Náutico na Série A do Brasileirão.  Para completar, por questão estética, selecionamos uma foto que abria o caderno Viver de um novo filme sobre os tempos da ditadura no país.  Esta foi a versão desenhada às 21h15:

Esta versão durou poucos minutos. Em um debate mais amplo – com opiniões de diretores, editores e repórteres envolvidos na cobertura – a conclusão é de que era preciso dar um peso proporcional para o candidato escolhido pelo PT. No caso, Humberto Costa.  Vários aspectos foram discutidos em torno, basicamente, de um questionamento central: O fato de Humberto ser, enfim, o candidato oficial do PT mereceria mais destaque do que o ocaso do atual prefeito?

Utilizar apenas uma foto de menor dimensão já seria suficiente? Chegamos a fazer esta versão:

Qual a sua opinião? O que devíamos ter feito? Dar um espaço proporcional a Humberto na parte de baixo da capa? Ou colocá-lo na metade superior da página?

Na nossa visão pesou o fato histórico. Uma das frases ditas sintetiza bem o caminho escolhido: “Existem derrotas que são mais importantes do que algumas vitórias”.   Era o caso.  Durante o processo de redesenhar a página, surgiu a ideia de criar uma segunda capa. Poderia ser na página A2 ou até mesmo na contracapa.  Experimentamos então o recurso da  “capa carta de baralho”. Ou seja: Duas capas em uma. Pesos equilibrados. A qualidade das fotos de Humberto Costa na reunião em São Paulo, no entanto, foram um entrave. Não dava para abrir em seis colunas uma imagem inexpressiva. Um “boneco” como chamamos no jornalismo. Optamos então por uma das imagens do nosso arquivo. O fundo branco encaixou como uma luva com a segunda manchete:

Por que não escolhemos esta versão? Entre os motivos, o fato deste recurso visual já ter se tornado um tanto comum. Para se ter uma ideia, a primeira vez que o Diario utilizou foi em novembro de 2005, quando dividimos a capa entre o fracasso do Náutico diante do Grêmio na chamada “Batalha dos Aflitos” na Série B do Campeonato Brasileiro e o acesso do Santa Cruz à Série A naquela mesma tarde.  E no esporte, assim como na política, o simbolismo de uma derrota histórica também pesou mais do que uma “vitória esperada”, digamos assim.

Mas o que realmente nos levou a mais uma mudança foi o equilíbrio visual da página. Com a capa “tradicional”, o jogo de palavras e cores se fortalecia. O vermelho de João. O branco de Humberto. A simetria dos opostos, até mesmo na disposição das fotos,  ficava mais clara. Ajudava a comunicar. Recado direto.  E simples.  Mesmo depois de tanta complicação…

Enfim, esta foi a nossa escolha. Buscamos o máximo de equilíbrio entre os fatores de relevância do jornalismo e a política. Se conseguimos ou não, cada leitor terá essa resposta. E, certamente, serão incontáveis opiniões diferentes e divergentes.

Este blog é um espaço para ouvirmos e debatermos essas opiniões.