Quando entrei no Diario, em novembro de 1998, fui escalado para ser setorista do Sport. Minha missão era assistir, diariamente, aos treinos do clube e, claro, a todos os jogos. Depois tinha que colocar o que  vi no papel. Simples assim. Ainda iria ganhar para fazer isso. Quase não acreditei.

Nos encontros com os amigos da época de colégio, eu era “o cara”. Virei “autoridade” no assunto. “Quem vai ser  o campeão?”, era a pergunta que mais ouvia, como se o fato de ser repórter esportivo me desse o dom de prever o futuro (o curioso é que, mais tarde, quando fui para a editoria de Política, as pessoas passaram a me perguntar quem iria ganhar a eleição). O fato é que eu continuava sem entender nada de futebol. Mas ninguém precisava saber disso. O importante é que eu estava me divertindo fazendo o que gostava.

Só que esse negócio de cobrir futebol é feito ter piscina em casa. Chega uma hora que enjoa. Vira rotina. Treino físico e tático durante a maior parte da semana, coletivo na sexta-feira, recreativo no sábado, jogo no domingo e,  na segunda, folga para quem jogou no dia anterior. Ou seja, só perna de pau para entrevistar. Nas férias dos atletas, então…

Foi num desses períodos de marasmo total, com o  campeonato parado, sem atletas no clube e tendo que preencher as páginas do jornal com notícias todos os dias que surgiu minha primeira grande matéria.

A tarde já estava quase acabando, os colegas setoristas reclamando da falta de assundo, quando encontrei o diretor de Futebol do clube na época, Fernando Lima. Perguntei sobre contratação de jogadores, montagem do time para o estadual e outras questões de rotina. Nada que se aproveitasse. Acabada a entrevista, ele começou a falar de um churrasco que tinha ido no domingo anterior e da conversa que teve com Ronald Menezes (primo de Ademir”Queixada” Menezes), que guardava com orgulho um telegrama do Santos oferecendo Pelé ao Sport.

Meus olhos brilharam e o coração disparou. Tinha uma grande história nas mãos. Precisava checar se era verdadeira. No mesmo dia já encontrei Ronald e vi o telegrama. Voltei para a redação com o documento e com Ronald junto (ele não deixou que eu levasse a relíquia sozinho para escanear no jornal).

Com o telegrama copiado e a história apurada, restava um desafio: como encher uma página inteira apenas com um telegrama de duas linhas e uma história maravilhosa, mas curta. Fui atrás de Pelé. Ele estava nos EUA. Não dava para esperar. Foi aí que tive a ideia de fazer um pouco de futurologia. Na cara de pau, procurei  Luís Fernando Veríssimo,  Xico Sá e  Raimundo Carreiro e perguntei aos três craques das palavras como seria o futebol se Pelé tivesse vindo para o Sport?

Para minha surpresa eles responderam no mesmo dia. A matéria cresceu. Ficou, realmente, boa. Consegui uma página inteira no caderno de esportes e destaque na capa do domingo. Relendo a página mais de uma década depois, reconheço que poderia ter ficado melhor. Deveria ter insistido mais para falar com Pelé e caprichado mais no texto. De qualquer forma, tenho orgulho de tê-la escrito.

 

Este é o início da reportagem:

“No dia 5 de novembro de 1957, o Sport cometeu o maior erro da sua história. Num desses lances que só acontecem uma vez na vida, o Leão teve a oportunidade de contar com o reforço de ninguém menos do que Pelé, oferecido pelo Santos ao então diretor José Rosemblit. Para infelicidade geral da torcida rubro-negra, o clube rejeitou a proposta. O argumento da época foi que o garoto, com 17 anos, era novo e desconhecido. Durante muitos anos esse fato foi questionado e estava fadado a entrar para a posteridade como mais uma lenda do futebol.

“Mas agora, 42 anos depois, os incrédulos terão que se curvar às evidências. A reportagem do DIARIO teve acesso a um telegrama, que se julgava perdido ou inexistente, comprovando o oferecimento de Pelé ao rubro-negro pernambucano. A relíquia estava guardada a sete chaves pela família Menezes, a mesma de Ademir, artilheiro da Copa de 50. ”

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