“Os sete andares inacabados do edifício Giselle, o mais alto prédio do centro comercial de Jaboatão, desmoronaram ontem soterrando completamente uma agência do Banco Mercantil de Pernambuco, que funcionava no pavimento térreo, e encerrara momentos antes o pagamento a segurados do Funrural. Até as 2 horas de hoje as equipes de salvamento buscavam sobreviventes nos escombros de 10 mil metros cúbicos de aço e cimento. Em alguns minutos foi mobilizada boa parte da população para iniciar a remoção dos destroços, enquanto não chegavam Corpo de Bombeiros e grupos auxiliares para acelerar o trabalho. As primeiras estimativas chegaram a mais de 100 pessoas soterradas, mas à meia-noite tinham sido retirados 13 corpos e registrados 35 feridos. Somente hoje se terá o número exato de vítimas”.

No dia 2 de junho de 1977, o Diario iniciaria a publicação de uma série de reportagens sobre o desabamento do edifício Giselle, um prédio que ainda não estava concluído, mas já abrigava no térreo uma agência bancária. Ao todo, 19 pessoas morreram, uma situação trágica que se repetiria, duas décadas mais tarde, em imóveis residenciais de Jaboatão, Olinda e Recife. O que contribuiu para o desmoronamento foi a descoberta de que o Giselle tinha um andar a mais do que o projeto original. Era para ter sete pavimentos, mas acabou com oito.

O jornal acompanhou os trabalhos de resgate, que duraram dois dias, e narrou o drama das pessoas soterradas. “A última vítima a ser retirada foi o escriturário do banco, Almir Francisco dos Santos, que ficou preso entre os destroços e chegou a conversar com um dos guardas que trabalhavam no resgate. Quando ia ser retirado, caiu uma laje em cima dele, que teve morte instantânea. O bombeiro que ia salvá-lo teve um ataque de nervos e ficou falando coisas sem sentido”.

A falta de equipamentos apropriados acabou provocando a morte da caixa Ana Maria Duarte, que gritava por socorro. “‘Estou aqui, me tirem pelo amor de Deus, se demorar muito eu vou morrer”. O contato ocorreu às 3h, mas somente às 14h o corpo, já sem vida, foi retirado dos escombros.

Na capa do dia após o desastre, o Diario estampou as fotos do edifício antes e depois da queda. Além dos textos sobre as irregularidades técnicas e o relato dos sobreviventes, o Diario trouxe uma tradicional página gráfica com fotos e um curioso poema sobre o drama das vítimas, recurso não usual nos dias de hoje.

No edifício Giselle
Construído nessa praça
Com o estrondo da queda
O povo corria em massa
Rompendo a dificuldade
De poeira e de fumaça
Mais de 50 ambulâncias
Muito carro oficial
Pra conduzir os feridos
Para qualquer hospital
Mortos para o Instituto
De Medicina Legal
Dizem que 2 meses atrás
O prédio foi condenado
Mesmo assim por imprudência
Continuava ocupado
Tinha grande movimento
Esse pequeno sobrado
Ver quantos pais de família
Dessa vez se acabaram
Quantos filhinhos sem mãe
Quantas viúvas ficaram
Os olhos de muita gente
Quantas lágrimas derramaram