A capa do jornal desta terça-feira traz como manchete a mudança no Código Penal, com a tipificação de novos crimes e castigos da sociedade brasileira do século 21. A violência faz parte, infelizmente, do nosso vocabulário cotidiano. E, para jornal, violência é um assunto “quente”, que invariavelmente atrai mais leitores avulsos além dos assinantes. Por trás de toda tragédia escabrosa tem uma história, e o repórter policial do Diario de Pernambuco evoluiu muito ao longo destes quase dois séculos de noticiário contínuo. Nada de juízo de valor, de condenação antecipada. Os personagens devem ser ouvidos e apresentados dentro do contexto. Mas nem sempre foi assim.

No dia 7 de julho de 1927, Jacintho Alves da Silva tornou-se o primeiro preso do estado a ganhar liberdade condicional. Ele se comprometeu, perante o recém-criado Conselho Penitenciário, na Casa de Detenção [hoje Casa da Cultura, no Centro do Recife] a não residir mais no município de Bom Jardim e a pagar as custas do processo. O Diario, que dedicou boa parte de sua primeira página do dia seguinte para noticiar este fato histórico,  registrou que os membros do conselho, depois dos longos discursos e apresentação de uma fanfarra, foram atendidos por um “serviço de gelados”. O livramento condicional foi instituído no Brasil em 6 de novembro de 1921, pelo decreto 16.665.

O que fez Jacintho Alves da Silva em Bom Jardim a ponto de não mais ficar nesta cidade? Que crime cometeu? Quantos anos ficou preso? O que iria fazer da vida? E as vítimas? Estas perguntas ficaram sem respostas. A reportagem se limitou a copiar o discurso das autoridades que enfatizavam este momento tão importante. O repórter – não identificado – cometeu um “crime” de apuração. Seu “castigo” será aparecer neste blog.