Por Carolina Santos*

Morei metade da minha vida em Gravatá, em uma época em que condomínios fechados eram locais quase abandonados, onde os meninos pulavam o muro para jogar futebol, e uma viagem para o Recife não levava menos de duas horas, nas curvas ariscas da Serra das Russas sem duplicação. Lá, na década de 1980, o São João era a festa mais celebrada. E desde sempre foi a minha favorita, com o parquinho na frente de casa, as fogueiras, os balões, os fogos, as quadrilhas. A música de Luiz Gonzaga era onipresente: Olha pro céu meu amor, Noites brasileiras, Luar do Sertão…

Quando comecei a escrever para o caderno de cultura do Diario de Pernambuco, o Viver, sempre que tinha uma pauta relacionada ao Rei do Baião eu pedia para fazer. Em dezembro do ano passado, a convite da Fundarpe, vim pela primeira ao Exu. E aqui, na terra onde ele nasceu e se criou, redescobri pequenos fragmentos da Gravatá da minha infância. Veio uma vontade gigantesca de mergulhar no universo gonzagueano e entender melhor o homem por trás do mito.

Em agosto passado, depois de muito protelar – olha a responsabilidade! – apresentei o projeto do que seria o Sertão Gonzaga à diretoria de redação do Diario de Pernambuco. Semanas depois, por acaso, encontrei a fotógrafa Blenda Souto Maior no ônibus, a caminho de casa, e falei sobre o projeto. Ela topou na hora. No dia 22 de setembro aconteceu nossa primeira viagem, um bate-volta para Caruaru. No dia 27, acompanhados do motoristas Clécio Bunzen, seguimos para o Sertão, o Grande Sertão de Gonzaga.

Foram dezesseis dias de trabalho exaustivo e gratificante. Passamos por paisagens de miséria e seca, e de água abundante e plantações a perder de vista. Um Sertão desigual, um reflexo do país.

Depois dessa longa viagem, ainda voltamos para Caruaru e fomos para o Rio de Janeiro. Na verdade, em cada local fazíamos duas pautas: uma sobre o Sertão que ele cantou e uma sobre ele próprio. A primeira parte virou o caderno especial que saiu nesta quinta-feira; a segunda, a série de reportagens sobre vida e obra que começou sábado passado e se encerrou hoje. Tudo está disponível, com conteúdo aberto, no site SerTão Gonzaga.

A série e o caderno chegaram ao fim hoje. Mas o trabalho continua: muito alegremente comemoro o centenário de Luiz Gonzaga na cidade onde ele nasceu. Estou de volta ao Exu, em um ciclo que se completa.

* Repórter do Diario de Pernambuco