O jornalismo policial foi a porta de entrada de muita gente boa nas redações. De quem teve o seu “batismo de sangue” de forma literal. Quem conhecia primeiro o submundo da cidade poderia escrever depois sobre qualquer assunto de economia ou política. No fundo, tudo era a mesma coisa.
O Diario, assim como os outros jornais, deixou de ter uma editoria específica para polícia. São os repórteres de Vida Urbana que se encarregam hoje da cobertura. Somente os crimes de grande repercussão têm espaço garantido. Não dá mais para gastar tinta e papel com casos menores, a não ser os inusitados, que também podem ir parar direto na internet.
Em 1974, a história era outra. O Diario tinha uma página inteira de Polícia e os assuntos eram os mais variados possíveis. A manchete do dia 2 de outubro, por exemplo, trazia o inusitado agradecimento de um preso ao juiz depois de ter sido condenado a onze anos de reclusão. A segunda chamada era também curiosa, quase bizarra: o trabalhador que, embriagado, decide assaltar uma casa funerária e se diz morto de vergonha.
Mas tinha espaço para mais: assaltantes que levaram o relógio de uma mulher, fumadores de erva presos, vendedor que se passava por delegado para comer e beber sem pagar e até um ambulante que fraturou a perna. O Recife era bem movimentado há quase 40 anos. Verdadeiro caso de polícia.
Muito legal ver um exemplar desses, Paulo. Polícia era tão importante que tinha editor exclusivo – e eu creio que o último do Diario de Pernambuco, pelo menos à moda antiga, foi o Márcio Maia.
Daquele tempo, lembro muito do que não deve ser mais feito: ver policial bater em preso, ver delegado condenar antecipadamente alguém, já chamando-o de “meliante” etc. Me espanto ver alguns programas de TV e rádio ainda nessa linha ‘mundo-cão’, com todo respeito aos cães, claro.
Lembro-me de policiais corruptos, cangaceiros, dedo-duros — e de delegados insanos e sábios. Curiosamente, recordo-me de dois, cujos nomes não batiam com seu comportamento: “Vc quer ser interrogado por dr. Gentil ou dr. Brutus”, perguntavam os canas da época. Imaginem que penava – e nas mãos de qual?
Era o “mundo cão” em preto e branco no jornal, hoje é a cores na TV, Renato. Nunca me esqueço do primeiro morto da minha vida.Histórias que não vou contar para meus netinhos, se um dia tiver alguns.