Nascido em Budapeste (Hungria) em 1907, Paulo Rónai deu com os costados no Brasil em 1941, desembarcando no Rio de Janeiro fugindo da guerra na Europa. Já falava e entendia o português, língua que aprendeu por conta própria. Na verdade, foi tomado de verdadeira paixão pela última flor do Lácio, inculta e bela. Tanto que na Alfândega descobriu, satisfeito, que era brasileira a língua que dominava. Naturalizou-se em 1945, já enturmado com a elite intelectual, amigo de fé e irmão camarada de Aurélio Buarque de Holanda, com quem em 43 anos de parceria lançou o monumental Mar de histórias, nove volumes reunindo 245 contos de 188 escritores – e 15 anônimos – em 3.544 páginas. A coleção, que cobre dois mil anos de literatura, da Antiguidade até a primeira metade do século 20, foi relançada neste ano pela Nova Fronteira e é um bom presente para qualquer ocasião. Mas o lado tradutor era apenas uma faceta de Rónai.
Professor de línguas, crítico e ensaísta, o húngaro mais brasileiro de todos compilou, em Como aprendi português e outras aventuras, ensaios onde mostra toda a sua versatilidade. Lançado originalmente em 1956, o pequeno grande livro de 260 páginas ganhou nova edição caprichada da editora Casa da Palavra. São 30 pequenos textos de um homem que amava as palavras. É leitura fundamental para quem quer se aventurar no escrever, porque uma ação está ligada umbilicalmente à outra. O texto abaixo completou 60 anos, mas continua atual. Basta acrescentar internet e redes sociais.
Um geração sem palavras (1954)
Mas talvez eu me deixe levar apenas pelas idiossincrasias devidas a uma educação diferente. Os alunos de hoje lerão menos, mas levam, sem dúvida alguma, uma vida mais intensa, mais rica em sugestões. De acordo; apenas, eles não chegam a tomar inteira consciência dessa vida, dessas sugestões, e isso precisamente por causa da falta de vocábulos e de ideias.
(…)
Trata-se de uma crise geral da civilização, está certo. A cultura que nos criou, baseada toda ela na palavra escrita, está em via de se transformar, e, forçosamente, transformar-se-ão também seus meios de expressão. Mas o ritmo dessa metamorfose é menos rápido do que o empobrecimento intelectual dos nossos jovens que estão abrindo mão de uma ferramenta preciosa antes que a nova marca se encontre à venda.
Rónai morreu em 1992 no seu sítio em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Pois É. Sim, o nome sítio era Pois É.
E obrigado a Julio Jacobina pelo livro.
Excelente livro.