Durante um mês, o repórter da editoria de Local Wagner Oliveira, também responsável pelo blog de Segurança Pública do Diario (para conhecer, clique aqui), conviveu com pessoas que vivem atrás das grades em Pernambuco. Foi o tempo que levou para, entre autorizações da Secretaria de Ressocialização e o aval dos diretores de três presídios, conseguir chegar ao pequeno grupo de estrangeiros que cumprem pena, principalmente por tráfico de drogas. Dos 20, sendo duas mulheres, apenas oito aceitaram contar as suas histórias, que foram publicadas nas edições de domingo e desta segunda-feira no jornal e na internet. O principal desafio foi vencer a desconfiança de quem se acha mais punido do que os outros por seus delitos. O relato abaixo é do próprio Wagner e foi publicado originalmente no seu blog.
Quando pensei em fazer uma reportagem sobre a situação dos estrangeiros que cumprem pena em Pernambuco não fazia ideia de quantos deles estariam atrás das grades e tão longe de casa. Depois de solicitar à Secretaria de Ressocialização do estado (Seres) a lista com os nomes dos detentos, observei que de um universo de aproximadamente 20 mil detentos, apenas 20 eram estrangeiros.
Comecei então a procurar as unidades prisionais onde esses detentos estavam para tentar entrevistá-los. Com as autorizações para as entrevistas, junto com a fotógrafa Teresa Maia, iniciei as visitas aos presídios. Lá dentro, escutei histórias de gente que sabe que está cumprindo pena pelo cometimento de crimes, mas que sente saudade do seu país. São argentinos, holandeses, venezuelanos, alemães, colombianos etc. Todos com o mesmo desejo. Voltar para casa após o cumprimento da pena.
Na edição do Diario de Pernambuco desse domingo e desta segunda-feira, conto as histórias dessas pessoas e seus dramas. Depois de ingerir 94 cápsulas de cocaína, Melvin Arcenio, que trabalhava como cozinheiro na Holanda, partiu para o Brasil com a droga no estômago. Preso em novembro de 2011, foi condenado a quatro anos e dez meses de prisão por tráfico internacional. Atualmente, está preso na Penitenciária Barreto Campelo. “Passei nove horas para ingerir todas as cápsulas. Fiz isso tomando água e sabia que uma delas ou mais poderiam explodir dentro de mim e causar minha morte. Mas resolvi arriscar. Iria ganhar 6 mil euros. Agora vivo com saudade dos meus dois filhos e conto apenas com a ajuda do consulado. Não vejo a hora de voltar para casa” revela Melvin.
(Wagner Oliveira)