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Arquivo/DP/D.A Press – Fachada do cinema Royal, na Rua Nova, em 1925, na estreia do filme pernambucano “Aitaré na praia”

A programação era dividida em cinco partes. A primeira, A Caçada de um Urso, “fita de bello effeito pela sua naturalidade”. Depois, vinha A Cicatriz, “drama de effeito deslumbrante, colorida, film de arte de 400 metros”. A terceira parte era “cômica”: O Macacão no Baile de Mascaras. Circuito de Dieppe, “grande corrida de automóveis realizada em 1907 na França” era a quarta atração. O encerramento se daria com O Senhor, A Senhora e o Bebê, outra obra “cômica”.

O Cinema Pathé, inaugurado no dia 27 de julho de 1909, atraiu multidões desde que abriu as portas do pavimento térreo do prédio número 45 da Rua Barão de Vitória. O início de operação do primeiro cinema do Recife foi destaque no Diario de Pernambuco, que utilizou o espaço de uma nova seção, “Artes e Diversões”, para explicar o empreendimento. “O Cinema Pathé é montado com muito gosto, à semelhança dos congêneres existentes na capital do país. O salão de espera da casa é vasto e o de espetáculo comporta francamente 320 pessoas, afora lauto e espaçoso camarote destinado às autoridades e pessoas gradas”.

No dia 28, o jornal narrou detalhes da solenidade de inauguração: “em frente ao edifício tocava uma banda da força pública e no salão de espetáculos magnifica orquestra contratada para todas as sessões noturnas e diurnas. A concorrência esteve numerosa e as fitas exibidas agradaram bastante aos espectadores. Hoje, de meio-dia às 4 da tarde, haverá espetáculos, e de 6 às 10 da noite, sendo este os preços das entradas: 1$ para cadeiras e 500 réis gerais”.

O Diario informou ainda que a direção do cinema se prontificou a aumentar o número de ventiladores, porque “com a sala repleta, o calor se torna sobremodo excessivo”. Outros quatro cinemas foram inaugurados no Recife até o final de 1909. A sétima arte havia caído no gosto do pernambucano.

Durante praticamente um século, o cinema em Pernambuco foi um entretenimento de rua. Em 1998, o primeiro multiplex com maior conforto, mas também maior controle de público e uma oferta reduzida de estreias, foi inaugurado dentro do Shopping Recife, com dez salas. No dia 28 de setembro daquele mesmo ano o Veneza promovia a sua última sessão. Outros seguiriam o caminho da extinção no Centro do Recife: Ritz, Astor, Moderno, Art Palácio, Glória, AIP. Os de bairro, como o Albatroz (Casa Amarela) e o Eldorado (Afogados) foram os primeiros a sucumbir pela falta de público, seduzido primeiramente pela televisão e depois pela chegada do videocassete. A decisão de algumas salas de exibir filmes pornôs só fez retardar a derrocada. Ficaram os registros de um tempo glorioso para a sétima arte, quando o cinema era um divertimento realmente popular.