Em Foco 2310

O melhor dever de casa que o candidato a um concurso pode fazer é a leitura diária de um jornal.

Vandeck Santiago (texto)
Juliana Leitão (foto)

Para quem vai fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) amanhã e domingo, hoje é dia de descansar, reunir os documentos e material que precisa levar para o local das provas e dormir cedo. Entre uma coisa e outra, creio que faz bem aproveitar o tempo livre e ler um jornal. É uma forma de tentar inteirar-se, rapidamente, dos temas mais importantes do noticiário político, econômico e internacional. Uma leitura leve, que oferece ao leitor a opção de escolher entre vários assuntos e textos, exercitando o cérebro sem esgotá-lo.
O ideal, porém, era ter lido jornal o ano inteiro, por tratar-se de uma leitura fundamental para candidatos a qualquer concurso. É comum associar-se a importância da leitura apenas à necessidade de o leitor ficar atualizado com o que acontece na sua cidade, no seu estado, no Brasil e no mundo. Isso é bom, mas os benefícios de que falo vão mais além. O jornal é um instrumento ideal para criar o hábito da leitura. Quem não tem este hábito sofre nos concursos, principalmente no Enem, cujas questões costumam ter enunciados longos e é considerado pelos candidatos um exame “cansativo” (textos grandes, cinco opções de respostas…).
Ajuda também a desenvolver a capacidade de interpretação de textos e familiarizar-se com resumo de assuntos que de tão amplos caberiam em livros (em um jornal, por exemplo, algo com tantas explicações quanto a crise migratória na Europa pode ser sintetizada em 40 linhas). E interpretação não só de textos. O jornal costuma publicar gráficos, tabelas, charges e mapas – elementos que com frequência caem nas provas, exigindo dos candidatos que se compreenda o que significam.
Para a escrita das redações – que valem 20% da nota final do exame -, os jornais proporcionam benefícios da primeira à última página. O noticiário é escrito na terceira pessoa – e assim também recomenda-se que seja na redação. Em textos como este que vocês estão lendo, posso falar na primeira pessoa, uma vez que é um artigo, matéria autoral. Na redação de uma notícia, não. Ninguém escreve nas matérias noticiosas expressões como “Na minha opinião” – um pecado mortal também se escrito numa redação do exame. Os jornais são ainda espaço para textos com criatividade, clareza, visão crítica – quem os lê com atenção pode incorporar essas características para seu próprio trabalho.
Ano passado cerca de meio milhão de estudantes tiraram nota zero na redação, e os principais motivos foram “fuga do tema” e “ferir os direitos humanos”. No geral (há exceções, mas falo no geral) isso não se vê nas notícias dos jornais. O título da matéria afirma “Dilma promete que não haverá cortes no Bolsa Família” – a presidente pode até, no futuro, mudar de ideia, mas a notícia, não. O tema da notícia deverá ser aquele.
Na imprensa as matérias, todas elas, têm títulos. Curtos, na maioria com quatro ou cinco palavras. Assim igualmente deve ser na redação do Enem – aí o título não é obrigatório, mas colocá-lo a ajuda a dar consistência ao trabalho e a sintetizar o tema na cabeça do candidato (evitando a “fuga do tema”, por exemplo).
Não importa em que plataforma se leia o jornal, na edição impressa ou digital. Mas estudos indicam que a leitura no papel favorece mais a retenção das informações. É preciso ainda ter muito cuidado com o que se lê na internet – nela há um tsunami de informações, mas nem todas são confiáveis. Há muitas que são montagens, mentiras descaradas, brincadeiras em formato de seriedade. Ontem eu vi numa rede social um experiente jornalista, autor de livros premiados, publicar em seu perfil notícia afirmando que uma das filhas de Hugo Chávez era a mulher mais rica da Venezuela, citando a tradicional revista Forbes como fonte. Trata-se de uma notícia falsa no teor e na fonte (a Forbes nunca deu tal informação), conforme o próprio jornalista teve que admitir, após ser advertido por leitor nos comentários. Para não cair nesse tipo de deslize, o melhor é buscar a informação em sites de veículos tradicionais ou de credibilidade conhecida.
O melhor dever de casa que o candidato a um concurso pode ter é ler jornal. Mas o melhor efeito dessa tarefa acontecerá quando – após o Enem, depois de aprovado com boa nota – ele perceber que esse tipo de leitura é companhia para a vida inteira, não só para a época de provas de um concurso.