Uma Odisseia psicológica das mais particulares
“É como se, do castelo, a pessoa pudesse exercer seu domínio e poder sobre as pessoas, sendo um ideal de vida, ou ao menos um norte, a condição de julgador ou juiz da vida humana. A construção vira a materialização desse sonho, que toma dimensão de absoluto”, explica.
Nesse contexto, a teoria do desenvolvimento individual, do psicanalista austríaco Adler Alfred, apontaria para uma espécie de neurose por parte do sonho quase inalcançável de construção, no sentido de que o objetivo pré-estabelecido, no caso de conceber estruturas milionárias como castelos, seria determinante do comportamento como forma de saciar a busca e sede por poder ou notoriedade – e o processo não completo dessa tarefa desenvolvesse um complexo de inferioridade.
“Todas as pessoas fazem ou buscam essa transição, que pode ser uma posição de referência na profissão, por exemplo. Mas esse é um desejo que se desenvolve da primeira para a segunda infância (do terceiro ao quarto ano), mas na forma de um desejo que nunca se satisfaz”, defende Ferreira. Nas palavras do profissional de psicologia, é como se os construtores fizessem desse sonho a única maneira de transição para a superioridade, no sentido de uma dimensão de superioridade social: “É o comportamento de Penélope, esperando Ulisses, em A Odisseia (ao tecer um sudário para o pai do marido à vista de todos, durante o dia, e desfazer o trabalho à noite, para não concluir o trabalho até o amado retornar, livrando-se da obrigação imposta pelo pai de casar-se quando do trabalho concluído). Talvez por isso, muitas vezes, quando da conclusão dos castelos, a vida de seus construtores se encerre”. Mas em suas aventuras particulares, os Homeros pernambucanos, ricos ou pobres, vão seguindo bordando em concreto e cimento, meio Penélope, meio Ulisses, cativos das ninfas Calipso, a quem chamam de sonho.