Adaptações inspiram mais status que originais
Ainda que não sejam as construções mais comuns, a estética de castelos influenciou a arquitetura local. As ameias, por exemplo, estruturas intermitentes acima de muros e paredes, são facilmente encontradas em imóveis da capital pernambucana. De acordo com a historiadora da UFPE Christine Dabat, o recurso era utilizado para ataque e defesa e das fendas (flecheiras), atirava-se com bestas e arcos e flechas. Hoje, são detalhes sem qualquer função além de evocar status.
Especialista em história medieval, ela traz à luz que, ainda que inspirados por castelos de outros tempos, os de Pernambuco respeitam estruturas e ideais apenas no visual e no interior. “Quando se pensa neles, é num começo com elevação artificial, em madeira, e em pedra, paredes bem grossas etc. Mas há recorrências, como fossos com água, pontes levadiças e o local da construção, normalmente territórios elevados, que tornavam quase impossível tomá-los, exceto por traição ou falta de alimentos”.
Historicamente, os castelos funcionavam como sedes de poder político, tendo no palácio a concentração da gestão sobre terras, homens e estado e foram erguidos até o século 19. Os ideais de distinção, de um passado longínquo que sequer é nosso, e de nobreza não correspondem ao que eles representavam – muitos deles reduzidos a funções sazonais, acolhendo povoados itinerantes. As torres, por exemplo, serviam só para permitir atirar em várias direções, não sendo classificadas como funcionais em termos residenciais. Nem na época, nem agora. “Deve ser um inferno mobiliar uma construção redonda. Imagine”, brinca Dabat.
Para o especialista em arquitetura Ênio Eskinazi, esse fenômeno local dos castelos merece estudo, ainda que seja uma arquitetura espontânea, logo, sem aval de profissionais da Academia. “Palafitas e casas de palhas não estão no cabedal ou enciclopédia oficial. Não podemos dizer que não é arquitetura. Está construído e não cai. A gente, burguesia, pode não considerar com valor, mas há. E ele deve ser discutido”, afirma, lembrando que, quando da construção dos castelos originais, a partir do ano 1300, sequer havia curso de arquitetura para validar o que se concebia. “Eles eram concebidos para o poder, não para o povo. E esse poder é que validava o seu valor”.