O retrato medieval de um Recife imaginado
A construção, no entanto, foi sendo feita ao longo de décadas. A semente recebida na infância foi ser regada aos 21 anos, quando, recém-formado em engenharia, pela Universidade Federal de Pernambuco, partiu para desbravar a Europa. O ano era 1948 e, em seu caminho, uma longa lista de armas brancas foram surgindo e sendo adquiridas de forma quase compulsiva. Casou-se com a paixão fomentada ainda criança – e quem casa, quer casa. “Num determinado momento, tinha que construir um espaço para guardar o que se tornou uma curiosa e rara coleção que ‘invadia’ e não mais cabia na minha residência”, explica.
Das várias indústrias da família, Brennand desfez-se das fábricas de cimento em 1999 e, em três anos, conceberia o que hoje é o instituto que leva seu nome. “Curioso pela arquitetura dos anos 1485-1603, a chamada ‘Era Tudor’, vi que este era o caminho mais adequado para acolher as armas brancas (acervo na linha medieval). Como viajava muito, e em feiras apropriadas, comprei algumas peças como portas em talhas, suportes de acesso para calabouço, altares, candelabros e copiei outros. Sempre digo que não sou um artista, mas sou um bom copista”, conta.
Nos corredores da construção, é possível encontrar de um túmulo do início da era cristã a uma espada em ouro, cravejada em brilhantes, que pertenceu ao Rei Faruk, o último monarca coroado no Egito – fragmentos da história mundial contada a partir de Pernambuco. No Recife, inclusive, foram produzidos um dos fuzis que compunham a defesa da antiga família imperial brasileira e a vasta coleção de pinturas históricas das paisagens pernambucanas de autoria do holandês Frans Post, de sua passagem a convite de Maurício de Nassau, ainda no século 17.
Em funcionamento há 15 anos, o Instituto Ricardo Brennand já soma 10 mil itens, sendo 5 mil armas, e atrai cerca de 150 mil pessoas por ano. No entanto, impressionados pela opulência do imóvel, boa parte dos visitantes sequer já ouviu falar de muitas das peculiaridades – quase lendas – que envolvem o local. Das inspirações às passagens secretas subterrâneas, por exemplo. “Construir o castelo para ele, não bastava. Ele precisava trazer os materiais dos castelos da Europa. Daí, ele frequenta casas, antiquários e feiras de demolição para trazer restos de construções europeias – parte de uma igreja de York, de um castelo da França, um sarcófago da Itália, esculturas da Grécia, inclusive os vitrais, que vêm todos também da Ásia e tudo vai tomando seu lugar”, pontua o historiador e consultor do IRB, Leonardo Dantas, sempre admirado pela trajetória de um pernambucano de quase 90 anos, hoje recluso na fortaleza que construiu para si e para o estado – e que ainda dá o exemplo do quanto uma simples intervenção na vida de uma criança pode vir a significar legados majestosos.
Distância do Recife
Início da construção
Estrutura diferenciada
1º plano: subterrâneo e fossos
2º plano: Sala dos cavaleiros, das armas orientais e odaliscas
3º plano: Escritório e salas de reunião e medalhas
4º plano: Torre do relógio/sino (ouvido a até 3km)
Clique e confira as dependências do castelo em 360º
Armas, esculturas e muita cultura
Coleção pessoal de Ricardo Brennand deu origem ao Instituto que leva seu nome, composto por imóveis como o Castelo de São João. Nos corredores, facas, armaduras, réplicas e esculturas originais de diversas fases históricas ficam permanentemente expostas