A chegada de um empreendimento do porte de uma fábrica de automóveis, com tecnologia de ponta, tamanha a importância na economia, reflete na estrutura de uma cidade. A rotina é, inevitavelmente, alterada. Afinal, o progresso, com ganhos e perdas, cobra seu preço. No caso de Goiana, é fácil identificar que faltou ao município a infraestrutura necessária para acompanhar o impacto da fábrica da Jeep.
Um dos setores que aproveitou de imediato a implantação do Polo Automotivo Jeep foi o comércio. Historicamente com movimentação financeira atrelada à safra sazona da cana-de-açúcar, o segmento tornou-se pujante nos três anos entre a implantação, operação da fábrica e a saída do primeiro Jeep Renegade da linha de produção, um ano atrás. A demanda menor por mão de obra coincidiu com a crise econômica pela qual passa o país e o baque foi sentido pelos comerciantes.
“As obras da Jeep aumentaram o fluxo de clientes e vendas na loja. Entre 2014 e 2015, faltavam peças no estoque e a reposição era feita pela loja de Vitória de Santo Antão. Passamos a vender para funcionários, de engenheiros a operários da construção pesada, além dos clientes tradicionais. Faturamos R$ 300 mil em dezembro de 2014. Hoje, o caixa mensal fecha, em média, em R$ 20 mil”, diz Aline de Albuquerque, 29, gerente da Oplen, loja de marcas famosas, no Centro de Goiana.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Goiana, Luciano Ferreira, avalia a questão da chegada da Jeep sob duas óticas: o retorno financeiro e a deficiência de serviços. “Goiana não tinha infraestrutura preparada para receber os polos Automotivo e o Farmacoquímico – este último ainda em instalação”. Mesmo assim, ele acredita que seria ainda pior se os investimentos programados pelas indústrias dos dois segmentos não acontecessem. “De 2010 a 2014, o comércio cresceu 40% em vendas, com 2012 e 2013 sendo os melhores anos, mas a queda, após o fim das obras já se aproxima desse índice”, diz.
Outro entrave no comércio varejista da cidade é a feira municipal. Funcionando diariamente no Calçadão da Misericórdia, passando por sucessivas mudanças e sempre voltando ao mesmo lugar, divide opiniões. “Acho o melhor lugar para nós. Em outros, ficou difícil sobreviver”, afirmou a feirante Marisa Barbosa de Lima, 55 anos, há 35 vendendo roupas e acessórios. “Imagine um comerciante de calçados tendo um concorrente na frente sem pagar nada à prefeitura. Perde-se em arrecadação e a concorrência se torna desleal”, defende Ferreira.