Por EuEstudante
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) rejeitou pedido de adiamento das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020 feito pela Secretaria de Estado de Educação da Bahia, por meio de ofício enviado ao órgão na última segunda-feira (28).
Em nota ao Eu, Estudante, o Inep confirma que “recebeu documento da Secretaria de Educação da Bahia com a solicitação de adiamento do Enem 2020 e reitera que as datas de aplicação do exame estão mantidas em janeiro de 2021”.
O órgão informa que adotará uma série de medidas para aumentar a segurança dos alunos durante as provas presenciais. Entre elas, estão o fornecimento de álcool em gel nas salas usadas na aplicação, a obrigatoriedade do uso de proteção facial e o uso de apenas 50% da capacidade de cada sala de aula.
Secretário de Educação da Bahia reclama da falta de diálogo com MEC
Autor do pedido de adiamento, o secretário de Educação da Bahia, Jerônimo Rodrigues, reclama da falta de diálogo do Ministério da Educação (MEC) e do Inep com secretários estaduais de Educação.
“A gente vem tentando conversar, há muito tempo, com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, e não conseguimos. Desde que tomou posse não há diálogo com os secretários estaduais, não há uma pauta conjunta. Nessas horas é muito claro pra gente que há lados políticos em jogo”, revela.
“Não é momento de ficar afastado, estamos falando da educação brasileira e precisamos estar juntos”, afirma.
O pedido foi uma forma de evitar a exposição de candidatos do Enem ao aumento de casos da Covid-19 no país — na segunda-feira (28), o Brasil registrou 495 mortes e 25 mil novos infectados. Para ele, não se trata apenas de oferecer estruturas adequadas para o local de provas, mas, sim, de garantir a segurança do estudante em todo percurso feito por ele até a escola.
“Estivemos em vários municípios para saber a realidade dos estudantes e em um deles, em Heliópolis, os candidatos terão que ir a outro município fazer as provas. Ou seja, usarão transporte público, que não respeitará normas de segurança e ficarão em risco”, diz. Em 2020, 67 mil candidatos farão o exame na Bahia, um aumento de 20 mil inscrições, de acordo com a Secretaria.
O secretário ainda chama a atenção para as aglomerações em frente às escolas nos dias de prova, com a presença de pais, candidatos, trabalhadores ambulantes e profissionais que trabalharão na aplicação.
Outro ponto levantado pelo secretário é a falta de tempo de preparação dos candidatos que sairão do ensino médio. “Com a pandemia, não houve aula suficiente para concluir o conteúdo do terceiro ano. Estamos lutando para garantir o ensino, mas, às vezes, o esforço não é suficiente já que tem gente que não tem internet ou computador em casa”, desabafa.
O secretário deixa claro que a intenção não é boicotar o exame, mas garantir um bom funcionamento dele. “Não queremos cancelamento, mas o adiamento das provas. Estamos fazendo nossa parte e temos aulões preparatórios todas as terças e sextas-feiras no nosso canal do YouTube, além de apostilas no portal da Secretaria e conteúdos na TV pública do Estado”, conta.
“Não estamos parados e estamos fazendo o possível para preparar nossos candidatos, mas entendemos com firmeza que nosso papel é garantir que os alunos possam, da melhor forma, realizar o sonho de ter acesso ao ensino superior pelo Enem”, conclui.
Ubes e UNE cobram ações estruturadas
A presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Rozana Barroso, disse que a solução não é adiar o Enem apenas, mas sim estruturar ações coletivas para a realização do exame.
“Desde o primeiro adiamento nós solicitamos ao Inep a formação de uma comissão com estudantes, profissionais da educação do ensino básico e superior, profissionais da saúde e integrantes do órgão, para atuarem como um grupo de trabalho que pense em ações assertivas para o Enem ser realizado em segurança”, conta.
Rozana afirma que, sem um diálogo entre todas as entidades envolvidas no processo do exame, não haverá avanço. “Precisamos de soluções e isso só existirá com conversa. O cenário não é bom. As universidades já estão com calendários definidos e algumas dizem que não vão receber alunos classificados no Enem porque a prova está indefinida”.
“As escolas brasileiras não estão preparadas para o retorno das aulas e nem para o Enem. Adiaram o exame pela primeira vez e empurraram com a barriga até aqui. Não dá mais. Tivemos uma reunião com o Inep e continuamos tentando falar com o MEC. Queremos ações assertivas”, ela cobra.
Em nota, o presidente nacional da União Nacional dos Estudantes (UNE) Iago Montalvão reforça o posicionamento da Ubes. “Há semanas as entidades têm cobrado do MEC para organizar um grupo de trabalho e e discutir a data do exame e o calendário dos programas federais”.
Ele também afirma que “o Ministério não tem dito nada, mesmo com o aumento de casos” e com “estados entrando em fase vermelha, fator que afeta a realização da prova”. A UNE destaca que está em contato com reitores e secretários estaduais para buscar soluções e “evitar que o MEC enfraqueça os mecanismos de acesso às universidades”.
Infectologista alerta para risco na aplicação das provas
Lívia Vanessa Ribeiro, infectologista do Instituto Hospital de Base, afirma que a realização do Enem em período de aumento de casos do covid-19 é colocar em perigo a saúde dos candidatos. “Abrigar diversos estudantes em ambientes fechados por várias horas pode resultar em inúmeras contaminações”, diz.
“Sabemos que as salas de aula nem sempre têm ventilação adequada e, muitas, utilizam ar condicionado que não tem renovação adequada do ar”, declara. Para a especialista, o Inep deve promover ações pontuais para prevenir casos, como a realização de testes para detectar o vírus.
“Realizar testes de RT-PCR em todos os estudantes e trabalhadores poderia minimizar os casos, mas ainda assim existiria a possibilidade da não detecção do vírus. Outra opção é utilizar locais abertos ou bem arejados, com distanciamento mínimo de dois metros entre os participantes”, elenca.
Outra ação necessária, segundo Lívia, é treinar a equipe para detectar possíveis sinais e sintomas entre os estudantes durante a realização dos Exames. “Se detectado, é necessário isolá-los prontamente”, diz.
A infectologista prevê um cenário pior na data da prova e convoca candidatos a redobrar cuidados para prevenir o vírus. “A pandemia não acabou e o aumento do número de casos deve piorar em janeiro graças às aglomerações de fim de ano”, pontua.
“Infelizmente, enquanto não tivermos vacinação em massa, será necessário manter todos os cuidados, que incluem, principalmente, distanciamento social, uso de máscaras cobrindo boca e nariz e higiene de mãos e objetos tocados com frequência”, complementa.
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