Por Felipe Pessoa/Diario de Pernambuco

Ansiedade, expectativas, insegurança… Estas são palavras já presentes no cotidiano de quem pretende concorrer a uma vaga em universidades e faculdades. Com a pandemia, que mudou drasticamente a dinâmica de diversos setores da sociedade, incluindo a educação, incertezas ganharam força. Mesmo assim, 5,8 milhões de estudantes se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 e se preparam para fazer as provas do certame a partir do próximo domingo. A Covid-19 não foi obstáculo suficiente para desencorajar os feras de Pernambuco, que são 315.693 nesta edição, uma aumento de 14,6% em comparação aos 275.327 de 2019. Além da versão impressa, o Enem digital será aplicado pela primeira vez.

Em um contexto incomum, muitos estudantes tiveram que aprender a conviver com as limitações impostas pela pandemia. Yasmin Mariana, 19, aluna da rede estadual, viu em 2020 um ano complicado para focar nos estudos. “Perdi uma pessoa querida para a Covid-19, meu padrasto perdeu o emprego e minha mãe engravidou. Temos três crianças em casa. Então foi tudo uma correria, um cansaço enorme o tempo todo”, diz. Durante a preparação, a estudante não conseguiu acompanhar boa parte das aulas, realizadas remotamente. “Eu só tenho celular para estudar, aí ficou difícil”, afirma.

A ausência de aulas presenciais foi um complicador para Marina Pedrosa, 17. “Acredito que consegui me adaptar o máximo possível ao modelo remoto, mas senti falta da interação com meus amigos e professores pessoalmente, o que às vezes me deixava desmotivada”, diz a aluna, que estuda na rede privada.

A professora de linguagens do Colégio Núcleo e doutora em letras pela UFPE, Rita Kramer, lembra das adaptações necessárias ao longo do ano. “Saber como o conhecimento está chegando ao estudante já é um desafio quando estamos perto dele, e online isso se acentua. Mas com a realização de um enorme número de atividades e o estímulo à interação, conseguimos trazer os estudantes para o engajamento que desejávamos”, conta.

O estudante Phillipe Joseph, 18, da rede particular, classifica os meses de pandemia como “um processo de luta contra distrações” no qual conseguiu manter o foco nos estudos. “A partir das experiências com os simulados, eu entendi o que eu devo fazer na prova e o que não devo”, revela.

De olho em uma vaga no curso de medicina, Fernando Pessoa, 17, também estudante de escola privada, afirma que teve que trabalhar duro para manter o foco nas aulas e atividades, mas ressalta que os exercícios que realizou ajudaram a treinar a concentração. Ele optou por fazer a prova digital, que será aplicada para 101,1 mil feras, de maneira experimental. “Na hora das provas, eu particularmente não tenho problemas de concentração isso devido ao treino. O colégio proporcionou muitos simulados e através dos resultados que obtive estou me sentindo confiante para o dia da prova”, conta.

Já a Maria Eduarda Ferreira, 17, da rede estadual, teve dificuldades em casa. “Eu tinha a necessidade de ouvir música para me concentrar nos estudos e nos simulados. Mas como não posso ter esse privilégio no Enem, vou tentar buscar meu foco de outra maneira”, afirma.

Confiança

Alguns estudantes encontraram novas maneiras de se sentirem mais seguros com os conteúdos. Depois de meses tentando manter a rotina de preparação, Pedro Augusto, 16, candidato a uma vaga no curso de direito, teve que montar uma estratégia para não se prejudicar no exame, mesmo com as incertezas do calendário de aulas da rede pública. “Pretendo manter o foco me acalmando, porque (a prova) será um momento bem mais complicado do quejá é normalmente”, revela.

Para a professora Rita Kramer, o autocontrole é fundamental para que os estudantes obtenham um bom resultado no exame. “Num momento como esse, tão decisivo da vida, é normal ficar ansioso, mas alimentar pensamentos assim pode atrapalhar a construção feita o ano todo. Por isso, é preciso ter muita calma e atenção para ler a prova com cautela”, afirma. “Cada um deve conhecer bem seus limites e buscar lidar com eles para ter o seu melhor desempenho. Não há uma fórmula única.”

Família

Professor de redação do Colégio Núcleo, Anderson Ferreira destaca que a participação da família, principalmente no contexto atual, é muito importante para os alunos. “As instituições precisam estar em comunhão com as famílias, para que todo mundo acompanhe, conduza e apoie de perto”, explica.

Um Enem, duas modalidades

  • Pela primeira vez desde que foi criado, em 1998, o Enem vai ser realizado em duas categorias: presencial e remota
  • Em ambos os formatos, os estudantes terão dois finais de semana para responder às questões
  • No primeiro dia serão aplicadas 45 questões de linguagens e códigos, a redação e 45 perguntas de ciências humanas
  • No segundo dia haverá 45 perguntas de ciências da natureza e 45 questões de matemáticade
  • As provas da modalidade impressa serão nos dias 17 e 24 de janeiro
  • Os portões serão fechados às 13h, com o exame começando às 13h30
  • As avaliações digitais acontecem nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro