A Olimpíada acima da Copa

A Copa do Mundo é, certamente, o sonho de qualquer jogador de futebol. Mas, para toda regra, existe a sua exceção. Nesse caso, Hernanes é uma delas. Desde sempre, o atleta falou que o seu sonho maior, em relação à Seleção Brasileira, era defender o país numa Olimpíada. E conquistá-la. Conseguiu realizar a parte dele. Em 2008, ele fazia parte do time medalha de bronze em Pequim. Hernanes é o personagem principal do capítulo deste domingo da série Relíquias Olímpicas, que relembra os pernambucanos que estão na história dos Jogos. Além dele, são lembrados todos os futebolistas do estado que disputaram as Olimpíadas.

Hernanes sempre foi conhecido por ser um jogador que foge ao senso comum quando expõe seus pensamentos. Seu discurso passa longe da mesmice da maioria dos jogadores de futebol. Isso lhe rendeu o apelido de “profeta”, na Itália. Certa vez, o pernambucano afirmou que tinha mais vontade de jogar uma Olimpíada que uma Copa do Mundo. Causou surpresa. Ele teve que se explicar. Conta que traçou esse objetivo ao ver o Brasil ser eliminado em Sidney-2000. Desde então, sonhava com a medalha de ouro.

Oito anos depois, Hernanes não voltou atrás na afirmação, dada pouco antes de disputar a Olimpíada de Pequim-2008. Ao Superesportes, repetiu que a vontade de disputar os Jogos Olímpicos sempre foi maior que de uma Copa do Mundo.Em2014, o pernambucano pôde tirar a prova, ao participar do Mundial do Brasil, sob o comando de Felipão. “Dizia que tinha mais vontade de jogar uma Olimpíada que uma Copa. E os Jogos foram, para mim, uma experiência marcante, porque eu era muito motivado em trazer o ouro para o Brasil”, conta.

Pernambucano, que joga na Juventus, lembra com muito carinho dos dias que passou na Vila Olímpica, em Pequim - Foto: Loris Roselli/AFP

Pernambucano, que joga na Juventus, lembra com muito carinho dos dias que passou na Vila Olímpica, em Pequim – Foto: Loris Roselli/AFP

O time de 2008 foi comandado por Dunga e tinha jogadores como o lateral esquerdo Marcelo, do Real Madrid, e Alexandre Pato, na época, no Milan. A estrela era Ronaldinho Gaúcho, também da equipe milanesa, que foi chamado como um dos atletas com mais de 23 anos. A campanha brasileira foi boa até a semifinal, quando encontrou a Argentina de Di Maria, Messi e Agüero. O placar de 3 a 0 pôs fim ao sonho do ouro do Brasil.

Restou à Seleção a disputa pelo bronze, diante da Bélgica. A vitória por 3 a 0 garantiu a medalha e diminuiu um pouco a dor pelo fracasso. Depois de algum tempo, Hernanes revela que passou a valorizar mais a medalha conquistada. “Não consegui realizar o objetivo de ganhar uma Olimpíada, mas foi algo marcante, sim. Conseguimos o bronze e, refletindo um pouco, você vê que também tem um valor”, afirma o volante, que marcou um gol nos Jogos, na estreia, que também foi contra a Bélgica.

 

A FAMOSA VILA

Ao contrário do que aconteceu outras vezes, quando o futebol foi isolado das demais modalidades, em 2008, o elenco ficou na Vila Olímpica. Hernanes pôde vivenciar todo o clima que cerca os Jogos, algo que ele também guarda com carinho. “Ficamos na Vila e pudemos sentir o clima, o ambiente da Olimpíada. Foi muito bacana viver essa experiência”, disse o pernambucano, que não conseguiu conhecer outros ídolos do esporte, como o nadador Michael Phelps. Pelo lado brasileiro, ele conta que o assédio foi grande sobre Ronaldinho Gaúcho. “Ele era a estrela do nosso time, então chamava mais a atenção das pessoas.”

Foto: Brenda Alcantara/DP

Foto: Brenda Alcantara/DP

“Quase” pernambucanos

Dois jogadores que defenderam a seleção brasileira na olimpíada, vez por outra, entram na conta dos pernambucanos que participaram dos Jogos. Mas não nasceram no estado. Confusão justificada pela forte ligação entre Zé Carlos e Ivan Brondi com as cores de Pernambuco.

O sergipano Zé Carlos veio para o Recife aos 15 anos, para defender o Santa. Dois anos depois, foi convocado para a Seleção Brasileira. Disputou o torneio de Cannes e acabou incluído na equipe chamada para a Olimpíada de 1972, em Munique. A campanha brasileira foi pífia. Em três jogos, nenhuma vitória. O Brasil empatou com a Hungria e perdeu para Dinamarca e Irã.

A participação de Zé Carlos, que hoje reside em Olinda, nos Jogos mudou a maneira como ele era conhecido no futebol. Ao voltar para o Santa Cruz, passou a ser chamado de Zé Carlos Olímpico. “As pessoas me chamam assim até hoje. Fico orgulhoso.

” O outro “quase pernambucano” a defender o Brasil nos Jogos foi Ivan Brondi. Em 1960, na verdade, ele ainda não imaginava o que o futuro o aguardava, que teria uma ligação forte com o estado. Aos 19 anos, o jogador nascido em Santa Cruz do Rio Pardo,em São Paulo, iniciava nos aspirantes do Palmeiras. Destaque do time, foi convocado para a seleção brasileira olímpica e participou dos Jogos de Roma. Dois anos depois, se transferiu para o Náutico, onde fez história.

[ O pontapé inicial

Em 1952, dois jogadores de futebol deram início à saga de pernambucanos em Olimpíadas. Ilo Caldas e Vavá não jogavam em Pernambuco, mas nasceram no estado. Lá estavam eles, em Helsinque, na Finlândia, defendendo a Seleção Brasileira, na sua primeira participação no futebol em Jogos. Na época, foram convocados apenas amadores que atuavam em equipes do Rio de Janeiro. Ilo defendia o América e Vavá o Vasco. O Brasil avançou até as quartas de final, quando perdeu para a Alemanha Ocidental por 4 a 2, terminando em quinto lugar geral. Ilo e Vavá foram os pioneiros. Outros quatro pernambucanos os sucederam, totalizando seis jogadores nascidos no estado formando em seleções brasileiras de futebol em Jogos Olímpicos. Conheça um pouco da história de cada um: