Uma modalidade de exercícios está invadindo as academias e os espaços ao ar livre, como parques e praias: os funcionais. Se você frequenta alguma academia, certamente já deve ter percebido que, entre o uso de uma máquina e outra, os treinos incluem circuitos que dispensam o uso de equipamentos, dando prioridade ao seu próprio corpo. Mas, afinal, o que são esses exercícios? Eles vão substituir a musculação?

O educador físico Kadu Lins explica que os exercícios funcionais visam, primeiramente, a melhora do movimento e a busca pela harmonia das cadeias musculares, ou seja, “um melhor funcionamento do corpo para realizar qualquer que seja a atividade pretendida”. São exercícios que trabalham o corpo de maneira integrada e não isolada, como acontece na musculação. Para Kadu, a prática dos exercícios funcionais não precisa necessariamente excluir as outras práticas. O importante é saber qual é o seu objetivo. E claro, consultar um educador físico para se “iniciar, progredir e evoluir sem correr riscos de se machucar e para que se tenha o resultado esperado”.
No caso da musculação é necessário um espaço com máquinas, já os exercícios funcionais podem ser feitos sem o auxílio de muitos equipamentos e em qualquer lugar. Os acessórios mais comuns são: bola suiça, fitas para treinamentos suspensos, cones, medinice balls (bolas pesadas), bosu e cordas. Mas existe uma infinidade de materiais que podem ajudar nos treinamentos.

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Cordas, bola suíça, cones e bosu são acessórios mais comuns aos treinos, que podem ser feitos em qualquer lugar. Foto: Hesíodo Goes/Esp. DP/D.A. Press

O profissional de educação física Thiago Varela, da academia Santé Club, destaca que os exercícios funcionais “resgatam e fortalecem os movimentos naturais do corpo que muitas vezes esquecemos no dia a dia, como pular e agachar”. E reforça que todos podem praticar. “É indicado para qualquer idade, inclusive crianças, para diabéticos, hipertensos. Além de melhorar a coordenação motora, melhora o equilíbrio, a agilidade e a qualidade de vida dos praticantes”, completa o personal. Thiago explica ainda que o tipo de treinamento vai depender do tempo, da intensidade e da frequência do aluno e reforça que não é indicado praticar os exercícios sem orientação de um profissional. “Muita gente assiste a vídeos na internet e reproduz em casa, mas os riscos de lesões são grandes”, avisa.

Crossfit para todos?- Segundo Thiago Varela, tanto os exercícios funcionais quanto o crossfit trabalham a funcionalidade dos movimentos naturais do corpo, mas a principal diferença entre eles está na filosofia. O crossfit, de origem militar, tem um foco maior no condicionamento físico, já o funcional, no resgate, fortalecimento e potencialização dos movimentos em si.
Para o professor em treinamento da Crossfit Manguetow, Ítalo de Moura, o crossfit é um exercício funcional constantemente variado em alta intensidade. “Todos os dias são treinos diferentes, com o objetivo de sair da zona de conforto. De 365 dias no ano, 365 treinos diferentes”, explica o professor. Para praticar, de acordo com Ítalo, basta querer. Não existe restrição prévia. Mas todo aluno é orientado a realizar uma avaliação médica para saber se está apto a realizar atividades físicas, além de procurar um acompanhamento nutricional. Desta forma, segundo Ítalo, os professores conhecem seus alunos.

Buscando um melhor condicionamento físico e uma melhor qualidade de vida, o cirurgião Christiano Paiva, 43 anos, optou pelo crossfit, atraído principalmente pela possibilidade de realizar treinos variados com uma intensidade maior. “Um dos grandes atrativos é que cada dia é diferente, é mais divertido. Na academia é mais repetitivo. Para mim, no crossfit os movimentos fazem mais sentido, pois trabalha o que você faz no dia a dia, como agachamento, arremesso. Eu brinquei quando perguntaram o meu objetivo no teste físico, que seria brincar com a minha filha que vai nascer daqui a 3 meses”.

Antes de iniciar em qualquer exercício, é recomendado a orientação de um profissional. Hesíodo Goes/Esp. DP/D.A. Press

Os exercícios podem ser praticados por qualquer pessoa, mas o treinamento vai variar de acordo com cada aluno. “O crossfit para mim é mais eficiente porque trabalha de maneira mais completa. Coordenação, força, resistência, equilíbrio, elasticidade”, ressalta Christiano.

 

 

Lesões são risco concreto

Um dos questionamentos sobre a prática do crossfit é em relação aos riscos de lesão. Como lidar com exercícios mais intensos? De acordo com o professor de educação física e doutor em ciência do esporte Manoel Costa, existe, sim, muito risco de lesão na prática do crossfit. Ele cita um dos poucos estudos já publicados sobre o assunto, que mostra que entre 132 adeptos do esporte, 73,5% sofreram algum tipo de lesão. Desses, sete precisaram de algum tipo de cirurgia. Intitulado The nature and prevalence of injury during CrossFit training (em tradução livre, A predominância e os tipos de lesões durante treinos de CrossFit), a pesquisa foi publicada em novembro de 2013 no Journal of Strength and Conditioning Research Publish Ahead of Print, e mostra que as lesões de ombro e coluna são as mais comuns entre os praticantes. A idade média dos entrevistados variou entre 19 e 57 anos; 70,5% dos entrevistados eram homens; 29,5% mulheres e a média do ritmo de treinamento era de 5,3 horas por semana.

Para Manoel, o crossfit é o “irmão mais velho” do exercício funcional, pois é indicado a pessoas que já tenham alguma noção básica dos exercícios. Dessa forma, o funcional seria uma “porta de entrada para quem quer começar a praticar exercícios, já que é muito mais adequado”. Para o professor, qualquer exercício oferece riscos de lesão, mas para pessoas que já têm certo preparo, o crossfit é muito bom. O importante é estar atento a quem está passando o seu treinamento e nunca se basear em vídeos de internet para realizar os exercícios em casa, sem acompanhamento. O volume muito grande de repetição, pode causar lesão por excesso e por fadiga, pois o aluno acaba não fazendo a execução de forma correta. “O risco é grande, mas o benefício também. É muito importante fazer com um profissional capacitado”, finaliza.