Alimentação vegetariana é equilibrada, sem prejuízo pela ausência da carne, considerando outras fontes vegetais presentes na dieta que complementam os aminoácidos. Foto: Nando Chiappetta/DP/ D.A.Press

A escolha pela retirada da carne do cardápio vem crescendo nos últimos anos. De acordo com dados do Ipobe, 9% da população brasileira é vegetariana e o Recife é a segunda cidade do país com mais vegetarianos, com 11% de sua população, perdendo apenas para Fortaleza. O vegetarianismo é o regime alimentar que exclui todos os tipos de carne, sendo uma alimentação baseada em produtos vegetais. Em linhas gerais, os adeptos não consomem carne, mas alguns podem incluir em sua alimentação laticínios e ovos.

A coordenadora do Grupo Recife da Sociedade Vegetariana Brasileira, Bárbara Bastos, explica que os principais motivos para que as pessoas se tornem vegetarianas formam uma espécie de tripé: Questão ética (pelos animais que têm direitos essenciais à vida e à liberdade), questões de saúde (as dietas vegetarianas possuem menos gorduras saturadas e mais fibras, com menor probabilidade de doenças crônicas), e questões de sustentabilidade (pelo planeta). “Temos reconhecimento de órgãos que mostram que a dieta vegetariana é viável em qualquer fase da vida. Crianças, adultos, grávidas, inclusive durante a amamentação”, afirma. Essa mudança nos hábitos alimentares, no entanto, não está limitada a uma troca de carne por salada, segundo ressalta Bárbara, lembrando que um bom planejamento alimentar é indispensável, assim como a informação.

“A alimentação vegetariana é muito saudável. Tem como ser equilibrada e a pessoa vive muito bem. A carne não faz falta, pois temos outras fontes vegetais que complementam os aminoácidos essenciais que o corpo não fabrica. E o prejuízo para quem pratica atividades físicas é zero. Temos suplementos para vegetarianos e para veganos. Temos todos os recursos”, pontua a nutricionista esportiva Flávia Carvalho, que é vegetariana. A única vitamina que está ausente no reino vegetal é a vitamina B12. Sua suplementação pode ser importante na dieta, e é pertinente saber que cerca de 50% da população brasileira que come carne tem níveis corporais insuficientes dessa vitamina, o que torna os cuidados com os onívoros também muito importante.

O jornalista Márcio Capelini, 59 anos, está há 20 anos sem comer carne. “Decidi que não ia morrer mais nenhum animal para me alimentar. E a minha saúde melhorou muito. Meu horizonte alimentar se ampliou dezenas de vezes, já que quem se alimenta de comida ‘convencional’ tende a ter poucas opções no dia a dia. Passei a conhecer muitas outras fontes de alimento que não os eternos arroz, feijão, macarrão, bife, saladinha”, explica o jornalista. “Eu consumo muitos cereais, leguminosas, sem a presença de alimentos com animais.. E o sabor das coisas aparece muito mais. Encontro mais prazer no ato. Lembro de todos os gostos que já provei e não sinto falta”, garante.

Há 20 anos sem comer carne, Márcio Capelini comemora o fato de ter ampliado o horizonte alimentar “dezenas de vezes” e diz que sente mais prazer à mesa. Foto: Nando Chiappetta/DP/ D.A.Press

Não ao sofrimento animal
Existe uma certa confusão entre os termos vegetariano e vegano. Os veganos adotam a filosofia do não consumo de qualquer produto que gere exploração ou sofrimento animal e seguem uma dieta vegetariana conhecida como estrita, sem consumo de qualquer alimento de origem animal, incluindo mel, ovos, laticínios. “O vegano boicota tudo que, de alguma forma, maltrata os animais”, explica a coordenadora do Grupo Recife da Sociedade Vegetariana Brasileira.

A nutricionista Flávia Carvalho afirma que, principalmente no caso dos veganos, que retiram até os alimentos vegetais da alimentação, é importante atentar ao equilíbrio das substituições. “Quem está nessa conduta não deve mudar sem um acompanhamento nutricional, pois pode ficar com deficiências. Tem que se ter conhecimento e acompanhamento no que chamamos de fase de transição. Vai se retirando aos poucos e adaptando”, alerta a profissional.

“Eu fui ovolactovegetariana dos 15 aos 22 anos. Foi na época que meu pai parou de comer carne também. Quando entrei na faculdade voltei a comer, tinha uma rotina muito cansativa, comia fora, acabei sucumbindo. Passei por muitos períodos vegetariana e até vegana, entre idas e vindas, até quando engravidei de Laura. Comecei a ter uma empatia tão forte com o sofrimento dos animais que não pude mais comer. Estava muito envolvida com a causa animal, fazia resgates, lar temporário e me questionei: se eu amava uns, como podia comer outros. Foi aí que radicalizei e cortei vários derivados também”, conta a médica Marina Capelini, 32 anos, há 3 sem comer carne.

Ela lembra que teve uma gravidez muito saudável e que foi adiante nessa dieta após o parto, mesmo enfrentando algumas críticas. “Amamentei a minha filha, que sempre foi muito saudável e engordou rapidamente. E isso, com a minha dieta vegana. Hoje em dia como derivados esporadicamente, cada vez menos, e pretendo voltar ao vegetarianismo estrito”. Marina Capelini afirma não se considerar vegana porque, no seu entendimento, trata-se de uma filosofia de vida (viver sem escravizar os animais), e, para ela, ainda é complicado, uma vez que a filha usa fraldas descartáveis e que seus animais comem ração a base de carne, “mas um dia chego lá”, diz.

20151002173146637511e