Professores e alunos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) publicam gratuitamente HQs em português e em Libras. O projeto Histórias em quadrinhos sinalizadas começou em 2018 e conta com três HQs disponíveis para download.
A mais recente foi divulgada este mês e trata das Surdolimpíadas, evento esportivo internacional organizado pelo Comitê Internacional de Esportes para Surdos. Assim como as Olimpíadas, ocorre a cada quatro anos.
O projeto, de autoria da professora Kelly Lóddo, 37 anos, analisa e produz histórias em quadrinhos voltadas para o ensino de surdos. Além de Kelly, o professor Clovis Batista de Souza, 40, que é surdo, orienta os alunos.
A ação inicialmente era voltada a gêneros textuais e o ensino para surdos, mas a procura por produção e análise de quadrinhos foi alta e a professora Kelly decidiu focar a produção de tiras.
A escolha do gênero história em quadrinhos foi “em razão desse formato ser visual e ter conexão com a língua de sinais”, de acordo com o professor Clovis Batista de Souza.
Para cada HQ, o grupo decide o tema com base em pesquisas. A segunda fase é a organização de glossários e sinalários para que sejam divulgados os sinais específicos do assunto.
Posteriormente, tudo é estruturado a partir da perspectiva bilíngue de surdos (Libras e língua portuguesa).
Conforme esclarece Clóvis, depois que o material é editado, especialistas em diferentes áreas são convidados para constituir uma equipe multidisciplinar e assegurar o conteúdo e a acessibilidade linguística.
A edição mais recente das HQs sinalizadas foi publicada em 4 de novembro: a história em quadrinhos Surdolimpíadas – encontros linguísticos é de autoria do estudante de educação física Addyson Celestino da Silva Campos, 27.
Addyson afirma que se interessou pela iniciativa durante as aulas de Libras, obrigatórias na grade curricular no curso de educação física. “Sei desenhar e gostei muito da ideia de unir inclusão, desenho e Libras.”
Para o estudante, o grande objetivo dos quadrinhos é levar conhecimento de forma ampla a todos, não só de maneira escrita, mas também visual.
A representatividade é importante
A edição pioneira de HQ com Libras na UFPR surgiu no projeto de iniciação científica (Pibic) do aluno de letras-Libras Luiz Gustavo Paulino de Almeida, orientado por Kelly.
O trabalho foi publicado em 2018, na primeira semana de letras-Libras da universidade e a temática abordada foi o Congresso Internacional de Educação dos Surdos, realizado em Milão (Itália), em 1880.
O evento italiano discutiu os rumos da educação das pessoas surdas. O resultado foi a instituição de oito resoluções que asseguraram a hegemonia da linguagem oral e colocaram de lado as línguas de sinais.
Somente um século depois, as resoluções passaram a ser questionadas e novas propostas de educação de pessoas surdas surgiram. Em julho de 2010, no 21º Congresso Internacional de Educação de Surdos, realizado em Vancouver, as oito resoluções do Congresso de Milão foram reprovadas formalmente.
“Foram 100 anos em opressão linguística e social, surdos foram proibidos mundialmente de usar as línguas de sinais”, afirmou Kelly.
A segunda edição de HQ em Libras da UFPR foi A mulher surda na Segunda Guerra Mundial, produzida pelo ex-aluno de letras-Libras Germano Weniger Spelling, 40. A obra ganhou grande visibilidade ao ser indicada ao prêmio Troféu HQMIX, considerado o Oscar dos quadrinhos no Brasil, na categoria “produção para outras linguagens”.
O autor diz que se interessou pela iniciativa ao ver a primeira edição. “Histórias em quadrinhos são coloridas e visuais, pensei que conseguiria fazer uma, e consegui!”, comemora Germano.
Ele ressalta a importância dos quadrinhos para a representatividade da comunidade surda. “Eu, surdo e judeu, ter sido indicado ao Oscar brasileiro dos quadrinhos é um exemplo muito importante para a comunidade surda e para meus alunos surdos”, diz.
Ilustradores são voluntários
Segundo a professora Kelly, a maior dificuldade para a produção de mais HQs é a falta de recursos para pagar ilustradores. “Até o momento, tivemos o privilégio de ter o Addyson e o Luiz Gustavo como ilustradores e que pertencem a comunidade surda”, comenta.
Para compor outras ilustrações, é preciso contar com a colaboração voluntária de profissionais de dentro ou de fora da UFPR.
Para o estudante Addyson, outro desafio é a distância entre os trabalhos realizados e o público que não entende Libras. “Muitas vezes, as informações ficam somente no meio da comunidade surda e de pessoas que sinalizam. Existe um desinteresse grande por parte dos ouvintes”, constata.
O professor Clovis destaca que as HQs são importantes também para que pessoas ouvintes descubram os processos culturais e conhecimentos produzidos pela comunidade surda.
Próximos passos
A próxima edição da HQ em Libras abordará a temática das línguas de sinais indígenas no Brasil, em especial a língua de sinais terena. A intenção é “assegurar as línguas de sinais como patrimônio histórico cultural da humanidade e fortalecer o reconhecimento e a preservação dessas línguas por meio da criação de HQs sinalizadas.”
Segundo Kelly, o trabalho deve priorizar a documentação da cultura e da identidade por meio de ilustrações e glossário das línguas, além de fazer com que os surdos se sintam representados e sejam protagonistas das narrativas.
Germano espera que as histórias possam servir de exemplo para crianças e adultos surdos e torce para que mais edições sejam publicadas.
Kelly, coordenadora do projeto, conta que a iniciativa está cadastrada para mais cinco anos de duração.
Pernambuco conquistou a terceira posição entre os estados brasileiros na 12ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB), realizada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A cerimônia de encerramento do projeto aconteceu nesse domingo (22). Das 14 medalhas de ouro, prata e bronze que vieram para o estado, a metade foi conquistada por equipes do Colégio Núcleo, sendo uma de ouro, três de prata e três de bronze. As outras instituições medalhistas foram a Escola do Recife (com duas medalhas de ouro), o Colégio de Aplicação da UFPE (um ouro e uma prata), o Colégio Equipe (com uma medalha de prata), Colégio Cognitivo (uma medalha de bronze) e o IFPE (uma de bronze).
Ao todo, 34 equipes do Colégio Núcleo participaram da Olimpíada. Dessas, 20 foram premiadas, sendo sete com medalhas de ouro, prata e bronze. As demais receberam medalha de cristal. A equipe “Desconstruindo as mulheres de Atenas”, formada pelas alunas Ana Carolina Marques Gomes Moura, Suane Coelho Santos e Maria Clara Gouveia Maciel, conquistou a medalha de ouro.
Os times “Cuscuz com Sassissinha”, composto por Gabriel Baltar Pires, Vinicius Smith Cavalcante e Vítor Silva Braga; “Eu não sou de humanas”, formado por Guilherme Coimbra Araújo Gomes da Costa, Pedro Vítor de Oliveira Monte e Mateus De Freitas Leite; e “Jod’Arc”, com Júlia Brayner Sampaio Borba, Gabriela Haluli Asfora Prado e Isabella Pereira Feitoza, receberam medalha de prata.
Já as equipes “Necas de Pitibiriba”, formada por Maria Fernanda De Godoy Montenegro, Vítor Alves Barros e Heloisa Oliveira de Carvalho Pires; “Tengo Lengo”, com Lavínia Maranhão Faria da Silva, Nicole Maria Travassos dos Santos e Helena Muller Caraciolo Compasso Gonçalves; e “Os Rebeldes” composta por Bruno Gabriel Lins Mendes, Maria Luísa Michaello Macêdo Almeida e Poliana Alencar de Melo Freire, ficaram com medalhas de bronze.
A diretora Olímpica e de Intercâmbios do Colégio Núcleo, Thatiana Stamford, destacou que, apesar de a cerimônia de premiação da Olimpíada de História ter sido, pela primeira vez, online por causa da pandemia da Covid-19, a emoção foi grande entre alunos, professores, coordenadores e familiares dos estudantes. “É um evento muito bonito. Não vemos competição, mas um sentimento de união muito forte. Todos estavam vibrando pelas equipes. Saímos com metade das medalhas que vieram para Pernambuco, o que muito nos orgulha. Isso é um reflexo do envolvimento dos estudantes, que se dedicaram muito”, enfatizou.
Alunos medalhistas do Colégio Núcleo. Foto: Núcleo/Divulgação
Destaque
O Nordeste levou maior número de medalhas: do total de 90 distribuídas, 64 foram para a região. A final contou com 421 equipes de todos os estados brasileiros, um total de 1,6 mil participantes. Ao todo, foram entregues 40 medalhas de bronze, 30 de pata e 20 de ouro. A Bahia foi o estado com maior número de medalhistas: 18 equipes no total. Em seguida, estão São Paulo, com 16 grupos, Pernambuco (14), Rio Grande do Norte (13), Ceará (12), Minas Gerais (7), Sergipe (4), Piauí (2). Os estados de Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro e Roraima levaram uma medalha cada.
A Olimpíada de História teve início em setembro, com 69,8 mil inscritos de todo país, um total de 17,4 mil equipes. Com inscritos de escolas públicas e particulares, para participar são formadas equipes de três estudantes dos oitavo ou nono anos do fundamental e todos os anos do ensino médio, além de um professor de história da escola.
O evento, que ocorreria no primeiro semestre, foi adiado por causa da pandemia da Covid-19 e adaptado para uma versão totalmente online e mais acessível. A coordenadora da ONHB e professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Cristina Meneguello, comentou sobre as adaptações necessárias para que a competição ocorresse. “A ONHB é uma oportunidade para conhecer melhor a História do Brasil, para pensar criticamente sobre a nossa realidade. Somos solidários nestes tempos que estamos vivendo, não só por causa da pandemia. Quisemos acolher a todos e que os participantes tivessem a certeza que da nossa parte estávamos fazendo uma prova interessante para a formação e espírito crítico”, afirmou.
Mudanças
Uma das mudanças realizadas nesta edição foi a criação da “fase zero”, que teve caráter experimental para que os participantes pudessem se adaptar à plataforma e novos prazos, além de conhecer o formato da competição. A plataforma da prova também foi adaptada para uma tecnologia que facilita a navegabilidade pelo celular e reduz, ao máximo, o uso de dados. Os participantes também puderam realizar a prova de forma offline e usar a internet somente para fazer o envio das respostas.
A Olimpíada de História possui seis fases online, com duração de uma semana cada. As questões de múltipla escolha e realização de tarefas foram respondidas pelos participantes por meio de debate com os colegas, pesquisa em livros, internet e orientação do professor.
Olimpíada
A ONHB é um projeto realizado pelo Departamento de História da Unicamp. Em 2020, em sua 12ª edição, consolidou-se com uma importante ferramenta de aprendizado do ensino de História. Tem apoio do Programa de Pós-Graduação em História da Unicamp, com a participação de docentes, mestrandos e doutorandos.
EQUIPES COM MEDALHAS POR ESTADO:
Bahia (6 de bronze, 8 de prata e 4 de ouro)
Ceará (6 de bronze, 2 de prata e 4 de ouro)
Minas Gerais (3 de bronze, 2 de prata e 2 de ouro)
Paraíba (1 de bronze)
Pernambuco (5 de bronze, 5 de prata e 4 de ouro)
Piauí (1 de bronze e 1 de prata)
Paraná (1 de prata)
Rio de Janeiro (1 de prata)
Rio Grande do Norte (10 de bronze, 1 de prata, 2 de ouro)
Roraima (1 de bronze)
Sergipe (3 de bronze, 1 de prata)
São Paulo (4 de bronze, 8 de prata e 4 de ouro)
Veja a cerimônia de premiação da 12ª Olimpíada Nacional de História do Brasil:
Nesse domingo (22), aconteceu a primeira fase do vestibular do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Nessa primeira etapa, os candidatos tiveram que resolver 70 questões objetivas de português, inglês, matemática, física e química. No Recife, a prova aconteceu no Colégio Núcleo, bairro da Jaqueira, na Zona Norte da cidade.
A relação de notas e classificação dos candidatos habilitados para a segunda fase serão divulgados no site do ITA, até as 16h desta sexta-feira (27). A segunda etapa do vestibular acontecerá nos dias 8 e 9 de dezembro, das 8h às 12h. Serão aplicadas provas dissertativas de matemática, física e química, com 10 questões cada, além de uma redação de 20 a 28 linhas.
O ITA faz parte do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), localizado em São José dos Campos (SP), a 85 km de São Paulo, e a 320 km do Rio de Janeiro. Para Vestibular 2021, o ITA aprovou um aumento de 25% na quantidade de vagas para os seis cursos de graduação em engenharia. O número liberado para novos alunos é de 150 vagas, 31 delas voltadas aos optantes pela carreira militar, no quadro de Oficial Engenheiro e as demais para os não optantes.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disponibiliza, hoje (23), o cartão de confirmação da inscrição para o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira (Revalida) 2020. O documento pode ser acessado pela Página do Participante, no Sistema Revalida.
As provas da primeira etapa do Revalida 2020 serão aplicadas no dia 6 de dezembro e, apesar de não ser obrigatório, o Inep recomenda que o participante leve o cartão impresso. O documento contém informações como número de inscrição, data, hora e local do exame e registra também se o participante deve contar com atendimento especializado, assim como tratamento pelo nome social, caso essas solicitações tenham sido feitas e aprovadas.
A aplicação das provas seguirá o horário de Brasília e acontece de manhã e à tarde. A abertura dos portões ocorrerá às 7h (manhã) e às 14h30 (tarde). Já o fechamento será às 7h45 (manhã) e às 15h15 (tarde). As provas começam às 8h (manhã) e às 15h30 (tarde). O término será às 13h (manhã) e 19h30 (tarde).
No total, 16.452 médicos se inscreveram para esta edição do exame e 15.498 inscrições foram confirmadas. Em 2020, o Revalida será aplicado em 13 cidades na primeira etapa: Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio Branco (AC), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP).
Somente os aprovados na primeira etapa podem participar da segunda etapa. De acordo com o Inep, uma novidade nesta edição é que, se o médico formado no exterior reprovar na segunda etapa, poderá se reinscrever diretamente nessa fase, nas duas edições consecutivas. Anteriormente, era necessário realizar todo o processo desde o início. Cronograma, diretrizes e procedimentos da segunda etapa serão publicados, posteriormente, em edital próprio.
O exame é aplicado pelo Inep desde 2011 e tem o objetivo de verificar os conhecimentos, habilidades e competências requeridos para o exercício profissional adequado aos princípios e necessidades do Sistema Único de Saúde, em nível equivalente ao exigido dos médicos formados no Brasil. A revalidação do diploma é responsabilidade das universidades públicas que aderirem ao instrumento unificado de avaliação representado pelo Revalida.
No Brasil, 28% das crianças de 4 e 5 anos matriculadas na pré-escola estudam em estabelecimentos sem todos os itens de saneamento básico, ou seja, não têm acesso a pelo menos um desses serviços: água filtrada, esgotamento sanitário e coleta de lixo. Nas creches, 21% das crianças até os 3 anos de idade não têm acesso ao serviço básico. Os dados são do Observatório do Marco Legal da Primeira Infância (Observa).
A creche onde Lidia Rangel é diretora, em Mesquita, no estado do Rio de Janeiro, é uma delas. “É muito difícil. Aqui na instituição, nós ficamos uma base de cinco dias sem água. Ontem que chegou a água para fazer alimentação, para poder dar banho, fazer a higiene pessoal”, disse. “As educadoras tiveram que trazer de casa a água. Eu precisei trazer o almoço já pronto para as crianças e nós tivemos que avisar os pais que elas iam para casa sem banho”, contou.
Há duas semanas, as aulas presenciais foram retomadas na creche a pedido das famílias. Apenas os estudantes em situação mais vulnerável estão sendo atendidos e o número de professoras também está reduzido, por conta da pandemia do novo coronavírus.
“Estamos aqui para ajudar as crianças, elas vêm para serem alimentadas. Se eu mandar voltar por falta d’água, eu estou quebrando o serviço e a criança fica prejudicada”, contou, ressaltando que os serviços de saneamento faltam não apenas na escola, mas em toda a comunidade e muitas vezes nas casa dos próprios alunos.
A falta de saneamento básico impacta diretamente a saúde e a qualidade de vida, que, pelo Marco Legal da Primeira Infância, Lei 13.257/2016, devem ser garantidas às crianças. Sem saneamento, tanto as crianças quanto o restante da população ficam mais expostas a doenças como hepatite A, verminoses, dengue e outras arboviroses e à própria covid-19, uma vez que uma das recomendações para evitar o contágio é lavar as mãos com frequência.
Se a falta de saúde, educação, saneamento básico e outros serviços tem consequências na vida de qualquer pessoa, na primeira infância, etapa que vai até os seis anos de idade, ela pode ser ainda mais grave, de acordo com a coordenadora técnica da plataforma Observa, Diana Barbosa.
“A gente está falando de uma etapa do desenvolvimento que abre uma série de possibilidades. É como se fosse uma janela de desenvolvimento para essa criança, em que ela tendo acesso aos estímulos adequados, tendo as condições econômicas adequadas, ela pode ter um avanço significativo no seu desenvolvimento”, explicou.
Desigualdade
Os dados da Observa mostram, ainda, que há desigualdades entre regiões do país, localização das escolas – se estão em áreas urbanas ou rurais -, e mesmo relativas à cor e raça dos estudantes.
A região Norte tem a maior porcentagem de matrículas em escolas sem saneamento básico, 75% das crianças matriculadas em pré-escolas e 71% das matriculadas em creches não têm acesso a esses serviços. Na região Sudeste, estão as menores porcentagens, apenas 6% das matrículas em pré-escolas e 5% em creches não têm acesso a saneamento básico. O levantamento considera as escolas que não têm pelo menos um dos itens de saneamento.
Em todo o país, 80% das matrículas em creches localizadas em áreas urbanas e 55% em creches de áreas rurais contam com todos os itens de saneamento. Entre as pré-escolas, essas porcentagens são 76% e 47%, respectivamente.
De acordo com o observatório, mais crianças negras estudam em áreas de maior vulnerabilidade do que crianças brancas. Faltam itens de saneamento básico nas creches onde estão matriculadas 27% das crianças negras e nas pré-escolas onde estão 34% delas. Entre as crianças brancas esses percentuais são menores: 15% estão matriculadas em creches sem saneamento e 17% em pré-escolas sem esses serviços.
“O que a gente percebe hoje é que a gente ainda não consegue chegar. A gente avançou muito em vários aspectos, mas a gente não conseguiu chegar para essas múltiplas infâncias. Não existe uma primeira infância, existem várias. Uma criança negra que mora em uma região periférica vulnerabilizada socialmente vive uma realidade completamente diferente de uma criança branca em uma área mais privilegiada socioeconomicamente”, disse Diana.
As desigualdades existem também entre cidades dentro de um mesmo estado e entre bairros. De acordo com a secretária executiva da Rede Primeira Infância de Pernambuco, Solidade Menezes Cordeiro, no estado a falta de saneamento básico é mais grave no interior do que na capital. Construção de cisternas, abastecimento por carro-pipa e o uso de poços artesianos fazem parte do cotidiano de parte da população de Pernambuco.
“Isso é imprescindível. Uma cidade com saneamento básico é o básico para que as crianças tenham dignidade”, opinou. “Nos bairros onde não há saneamento básico, os postos de saúde ficam superlotados de crianças alérgicas, de crianças com alta complexidade de verminoses e também com anemia, porque a alimentação não é digna”, complementou.
Em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, falta saneamento básico na escola onde Edileide de Lima é diretora. Lá, a água vem de uma cacimba, que é uma espécie de poço, e para os dejetos é usado um sumidouro. Para beber, é preciso comprar água mineral. “Isso já uma questão [no município] de antes da pandemia, é de anos, não é de agora. Precisa de uma pressão forte para mudar”, opinou.
Saneamento básico
A disponibilidade ou não de serviços de saneamento básico é uma questão que deverá ser levada em consideração na decisão pelo retorno ou não das aulas presenciais nas escolas, que seguem funcionando de maneira remota na maior parte do país por conta da pandemia. Principais responsáveis pela educação infantil, etapa que compreende a creche e a pré-escola, caberá aos novos gestores municipais eleitos este ano tomar essa decisão.
A eles caberá também adaptar os municípios ao novo Marco Legal do Saneamento, que prevê a universalização do acesso ao saneamento básico até 2033. Os novos prefeitos deverão atender as exigências da lei para acessar recursos para melhoria desses serviços, como participar de consórcios regionais com outras cidades na prestação dos serviços, aderir a uma agência reguladora e estabelecer novos mecanismos de cobrança.
“O desafio do saneamento é um desafio para as estruturas de educação, mas também é um desafio para além das estruturas de educação. Ao se falar de saneamento a gente está pensando em estruturas da cidade como um todo. É essencial ter um saneamento adequado. A gente sabe que, no contexto da pandemia, o acesso ao saneamento é um estrutura essencial para a população”, afirmou a também coordenadora técnica da Observa, Thaís Malheiros.
Na plataforma Observa estão disponíveis também outros indicadores das áreas de educação, assistência social e saúde, além de outras informações relativas ao acompanhamento de políticas públicas voltadas a primeira infância.
A plataforma é uma realização da Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), formada por mais de 260 organizações de todas as regiões do país. A Andi – Comunicação e Direitos é responsável pela implementação do projeto, que conta também com a parceria da Fundação Bernard van Leer.
Comentários