“E se o Brasil for a sede da Copa daqui a vinte anos?” A conversa real de meninos olindenses no tetra

Brasil tetracampeão mundial de futebol em 1994, nos Estados Unidos. Foto: Fifa/divulgação

Acredito que todo mundo, quando criança sobretudo, já teve conversas com amigos imaginando o futuro, mas daqueles bem utópicos.

“Já pensasse… Uma Copa do Mundo aqui no Brasil?”

“Peraê, né véi… Já teve aquela de 1950. Duvido que a Fifa faça outra aqui.”

“Danosse.”

“Mas e se fizesse? Será que colocariam o Recife de novo? E seria muito maior, com 24 países. Seria arretado, vá por mim.”

“Seria, né velho. Mas tás viajando na maionese. A gente teria que construir um bocado de estádio. O Brasil tá liso.”

“Era só reformar o Arruda. Ano passado deu quase 100 mil lá com a Seleção. Como é que tu vai dizer que não serve? Ainda tem o Maracanã, o Morumbi, a Fonte Nova, o Serra Dourada…”

“Bote fé, po. Mas a turma ia roubar tão pouquinho mesmo…”

“Vixe, nem fale. Mas daqui a 20 anos a gente vê então.”

Não exatamente com essas palavras, mas algo bem próximo disso aconteceu em 1994, na época do tetra, em Rio Doce, Olinda. Na rodinha de conversa furada, eu e meus amigos, entre 11 e 12 anos de idade.

Após um tempão com cada um querendo falar mais alto que o outro, o consenso foi de que, se tivéssemos uma chance, seria com no mínimo vinte anos.

Com boa vontade e ainda achando impossível. A arenga logo tomou outro rumo, sobre sobre quem seria o Romário do futuro…

Quanto à Copa do Mundo, o maior evento com o esporte mais popular que existe, era algo realmente distante da gente, sempre alvo de admiração.

Tinha sido assim em 1990, na Itália. Foi, e como, em 1994, nos Estados Unidos. Dos 24 países imaginados, a competição evoluiu para 32. Cada vez mais agigantada.

Veio a beleza da França em 1998, a tecnologia de japoneses e sul-coreanos em 2002 e a plena organização germânica em 2006. Aquela mesma emoção guardada a cada quatro anos sempre voltava bem viva durante o Mundial.

Até que em 30 de outubro de 2007, direto da sede da Fifa, em Zurique, Joseph Blatter tirou de um envelope um papel branco com o seguinte texto na cor azul:

2014 Fifa World Cup Brazil

Era fato. O país seria novamente a sede de uma Copa do Mundo. O momento econômico em expansão, os índices sociais enfim melhorando.

A história havia, sim, virado a nosso favor.

Joseph Blatter confirma o Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 2014, em 30 de outubro de 2007. Foto: Fifa/divulgação

Na ocasião, a escolha veio com a seguinte mensagem. Curta e direta.

“O Comitê Executivo decidiu, unanimamente, dar a responsabilidade, não apenas o direito, mas a responsabilidade de organizar a Copa de 2014 ao Brasil.”

Teríamos sete anos para nos prepararmos. Nunca um país havia tido tanto tempo para fomentar a infraestrutura e logística necessária.

Estádios, aeroportos, mobilidade urbana, telecomunicações, serviços etc. Bilhões seriam investidos. E foram, na verdade… Mais de R$ 25 bi.

A aplicação desses recursos e a forma é que corroboraram com as indagações dos meninos de duas décadas atrás.

A incompetência na gestão pública em todas as esferas – municipal, estadual e federal – acabou deixando o sonho parcialmente embaçado.

É da índole do brasileiro se contagiar com a Copa, quanto mais com uma Copa aqui. Ao mesmo tempo, soa errado – para alguns – aproveitar o momento sabendo a forma na qual ela foi executada.

Daí, uma mistura histórica de entusiasmo e protesto.

A contagem regressiva acabou. Infelizmente, antes de parte das obras.

A Copa do Mundo começa neste 12 de junho de 2014.

Não foi como eu imaginei há 20 anos – e muito menos esperava participar da cobertura como jornalista, pois eu queria ser piloto de avião. Ainda assim, me sinto prestigiado de ver o sonho se tornando real.

A responsabilidade de organizar uma Copa nos foi dada pela segunda vez, com a expectativa de três milhões de pessoas assistindo aos 64 jogos nos estádios e três bilhões acompanhando na televisão.

Em junho de 2014, de minha parte, em campo, irei curtir bastante o Mundial.

Em outubro de 2014, de minha parte, nas urnas, cobrarei tudo o que não foi cumprido nesse sonho tão antigo… desde menino.

Maracanã na Copa das Confederações. Foto: Fifa

A óbvia insatisfação, a cobrança e a velha política entre a Fifa e o governo brasileiro

Dilma Roussef, presidente do Brasil, e Joseph Blatter, presidente da Fifa. Foto: Fifa/divulgação

“O Brasil acabou de se dar conta que começou tarde demais. É o país com mais atrasos desde que estou na Fifa e foi o que teve mais tempo, sete anos, para se preparar.”

Ao que parece, Joseph Blatter perdeu a paciência com a organização brasileira. A declaração no domingo foi a mais dura durante todo o processo.

Blatter, de 77 anos, está na Fifa desde 1975. Portanto, o Mundial deste ano será o 10º com a presença do dirigente, presidente da entidade há quinze anos.

A crítica torna-se ainda mais pesada ao constatar que entre essas dez edições sob o olhar próximo do suíço estão a Argentina de 1978, sob ditadura militar, o México em 1986, numa organização às pressas, substituindo a Colômbia, e a África do Sul em 2010, num torneio já bastante criticado.

Francamente, ele disse algo fora da realidade? Não mesmo. Pelo contrário, a crítica aponta para o próprio dirigente, que tanto demorou para se dar conta da confusão preparação nacional, com atrasos e denúncias de superfaturamento.

Vale lembrar que a Copa no país deve consumir R$ 64 bilhões em investimentos públicos e privados. É mais que a soma de 2002, 2006 e 2010.

Por outro lado, dificilmente o governo federal deixaria barato uma entrevista assim, amplamente distribuída pelas agências internacionais.

Através do twitter, vejam só, a presidente brasileira Dilma Roussef escreveu sete mensagens. Uma resposta indireta, por mais que a direção das palavras fosse bem precisa. Abusou da emoção, sem foco nas questões técnicas.

“Os brasileiros começam 2014 confiantes que irão sediar a  Copa das Copas. No Brasil, a Copa estará em casa, pois este é o país do futebol. Todos os que vierem ao Brasil serão bem recebidos, porque somos alegres e acolhedores. Esta será a Copa de 12 cidades-sedes, da floresta Amazônica aos pampas gaúchos, das montanhas de Minas às praias cariocas, das dunas do Nordeste à metrópole de São Paulo. Os turistas terão oportunidade de conhecer este país multicultural e batalhador. Um Brasil que está enfrentando o desafio de acabar com a miséria e de gerar oportunidades para todos. A procura por ingressos para os jogos – a maior em todas as Copas – mostra que torcedores do mundo inteiro confiam no Brasil.  Amamos o futebol e por isso recebemos esta Copa com orgulho e faremos dela a  Copa das Copas.”

Entre as mensagens da presidente e a tréplica de Blatter, um intervalo de apenas duas horas. Na mesma rede social, o mandatário da Fifa recuou, adotando um discurso pra lá de político, raso…

“Concordo com Dilma sobre Copa. O mundo todo está esperando pela Copa das Copas. Brasil será ótimo anfitrião.” 

Talvez a cobrança siga nos bastidores, talvez. Afinal, a Copa do Mundo é um produto da Fifa, uma instituição privada. Para recebê-lo, o Brasil se sujeitou às mais pesadas cobranças, algumas delas ferindo até as leis nacionais – que acabaram sendo modificadas.

A soberania do Brasil não está em jogo nessa cobrança, não mesmo. A capacidade organizacional, sim.

Apesar dos panos quentes na discussão online, é claro para qualquer um, Fifa, governo federal, população brasileira e estrangeiros, que algo não está 100%. Na verdade, atingir esse percentual nas obras vem sendo uma batalha, aumentando os custos devido à falta de tempo. O atraso é real, política à parte.

O ano da Copa do Mundo no Brasil

Joseph Blatter confirma o Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 2014, em 30 de outubro de 2007. Foto: Fifa/divulgação

O pentacampeonato mundial da Seleção Brasileira, com Ronaldo e Rivaldo, ainda não havia completado sequer um ano quando foi anunciado, em 3 de junho de 2003, o interesse do país em organizar novamente a Copa do Mundo. No caso, a edição de 2014. O caminho seria longo até a realização do antigo desejo, quase inacreditável naquela época. A concorrência era acirradíssima, com potências econômicas já dotadas de infraestrutura de qualidade.

Entretanto, ajudou e muito o rodízio implantado pela Fifa – e hoje extinto – com os continentes a cada torneio. Cumprindo o regulamento, 2010 iria para a África, de forma inédita, e 2014 voltaria para a América do Sul, fora da rota desde 1978. Candidato único, após intensa articulação política, o Brasil foi confirmado como país-sede em 30 de outubro de 2007, num envelope aberto por Joseph Blatter em Zurique, sede da entidade.

Desde então, uma árdua sequência com a escolha das cidades – de 18 candidatas para 12 subsedes -, burocracia para o início das obras dos novos estádios (“arenas”) e das intervenções na mobilidade urbana, atraso nas construções, superfaturamento, aditivos, paralisações, evento-teste com a Copa das Confederações, manifestações tomando as ruas, pressão externa e interna… E expectativa. Estamos, enfim, no ano da Copa, a 162 dias do pontapé inicial no Itaquerão, em São Paulo, no dia 12 de junho. Diante de 65 mil pessoas – todos os ingressos para a partida ja foram vendidos -, o Brasil de Neymar, Fred e Felipão enfrentará a Croácia em busca do hexa.

Além da volta da hegemonia do futebol, que também daria fim ao fantasma do Maracanazo de 1950, o Brasil quer usar o Mundial para dar o grande salto econômico no ano. Um estudo encomendado pelo Ministério do Esporte prevê um impacto econômico de R$ 183 bilhões, resultado da soma dos recursos investidos e gerados no país antes e durante a competição, de forma direta ou indireta, incluindo aí 710 mil novos empregos.

O custo para essa projeção pra lá de otimista não foi baixo. Aliás, ainda nem parou de crescer. Inicialmente, a previsão de investimentos em infraestrutura no Brasil era de R$ 23 bilhões, já elevado. Agora, o preço da competição já passou dos R$ 64 bilhões. É mais que a soma das últimas três Copas.

A pressa para deixar tudo pronto – ou quase tudo, pois algumas obras da Matriz de Responsabilidades foram abortadas por falta de tempo – visa a recepção de todo o público que irá curtir os 64 jogos agendados, sendo cinco deles na Arena Pernambuco, pronta e já em plena operação em São Lourenço da Mata, tirando do antigo terreno o visual bucólico. Estima-se 3,1 milhões de turistas nacionais e 600 mil estrangeiros circulando em todo o país durante o maior evento esporivo já realizado no continente, incluindo jogos, shows nas fan fests, turismo etc.

A corrida pelos três milhões de bilhetes da Copa já começou, com seguidas fases de venda online. Já foram adquiridos 890 mil. Até a abertura, a venda deverá ser recorde, tamanha a procura, com seis milhões de solicitações de mais de cem países. A festa está programada, faltando pouquíssimo tempo para o Brasil receber bem o mundo. Aquele pequeno envolope aberto de sete anos atrás ganhou forma, transformou-se em responsabilidade. A Copa será aqui e, definitivamente, o brasileiro fará parte da festa. Todos juntos num só ritmo.

Maracanã na Copa das Confederações. Foto: Fifa

O aperto de mão definitivo

Joseph Blatter e Dilma Rousseff, em encontro no Brasil, março de 2012. Foto: Fifa/divulgação

Joseph Blatter e Dilma Rousseff.

Fifa e governo federal brasileiro.

Sorrisos e aperto de mão…

Apararam as arestas de uma crise diplomática após a ameaça do chute no traseiro.

O encontro nesta sexta-feira, no Palacio do Planalto, foi o primeiro entre os dois desde outubro do ano passado (veja aqui).

Agora vai?

Faltam 818 dias para a Copa do Mundo de 2014.

Parece muito, mas a organização do país já está em cima da hora.

Por Blatter, tecnologia no futebol em 2014

Robô

Há um ano, a International Board, órgão regulador das regras do futebol desde 1882, iniciou os testes com equipamentos eletrônicos na linha do gol, para tirar uma dúvida.

“Bola entrou ou não entrou?”

Dez empresas apresentaram sistemas eletrônicos para a avaliação.

O resultado segue sob sigilo da Fifa, mas o presidente da entidade, Joseph Blatter, já deixou claro que a ideia será, enfim, implantada na Copa do Mundo de 2014.

Poderá contar inclusive com câmeras. A declaração foi dada à revista alemã Kicker.

“No Brasil, teremos a tecnologia para a linha do gol. Não podemos voltar a permitir um desastre como o gol não validado da Inglaterra contra a Alemanha. Quando vi aquilo fiquei paralisado.”

Na ocasião, o árbitro uruguaio Jorge Larrionda não viu o gol do inglês Lampard, que teria empatado a disputa contra os germânicos (veja aqui).

A bola havia cruzado a linha em 33 centímetros…

O fato é que a tecnologia está cada vez mais presente no esporte para encerrar dúvidas. No tênis, por exemplo, um sistema 3D mostra se a bola tocou ou não na linha.

Vários outros esportes adotam tecnologias distintas. No futebol, porém, esse avanço sempre foi rechaçado, com a justificativa de que tiraria parte da emoção dos jogos.

Mas, pelo visto, será uma coisa a menos para se preocupar no Mundial do Brasil…

Aliviado, Blatter reaparece na Argentina

Joseph Blatter na decisão do 3º lugar da Copa América de 2011, entre Venezuela e Peru. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

La Plata – Presença ilustre na Copa América. Com uma agenda bem apertada, o suíço Joseph Blatter, presidente da Fifa, desembarcou em Ezeira para participar de todos os eventos finais da principal competição da Conmebol.

Ações ao lado do mandatário da entidade, o paraguaio Nicolás Leoz. O primeiro ato foi já na disputa pelo terceiro lugar, neste sábado.

Após conseguir contornar daquele jeito o escândalo de corrupção durante o processo eleitoral da Fifa, Blatter agora se mostra mais aliviado para visitar os filiados…

Aqui na Argentina ele esteve o tempo todo cercado por três seguranças. Trio de terno, óculos escuros e mão no ouvido o tempo todo para captar o som dos eletrônicos.

Sepp Blatter até acenou para a torcida no estádio Único após cumprimentar os jogadores no campo. Depois, se dirigiu ao camarote exclusivo da organização da Copa América. Evitou o batalhão de repórteres na beira do surrado gramado.

Blatter, de 75 anos, está à frente da Fifa desde 1998. Trabalha no 4º mandato.

Leoz, de 83 anos, comanda a Conmebol desde 1986. Já está no 6º mandato.

Parece coincidência… Talvez seja mesmo!

Joseph Blatter na decisão do 3º lugar da Copa América de 2011, entre Venezuela e Peru. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco