Pacto pela Vida dá sinais de fracasso

O principal programa de combate à criminalidade em Pernambuco dá sinais de fracasso. O Pacto pela Vida, que chegou a servir de modelo de segurança para outros estados do Brasil e recebeu até prêmios internacionais, não tem conseguido mostrar a que veio há quase um ano. O assunto tem causado bastente polêmica entre as autoridades e as pessoas que levam o Pacto nas costas, que são os policiais.

Desde março do ano passado que os índices começaram a aumentar. De lá para cá, nada mudou. As mortes aumentam a cada dia e quem faz a segurança nas ruas, os policiais civis e militares, está prestes a explodir de tanta cobrança. Muitos militares estão sendo retirados de serviços administrativos para fazer policiamento ostensivo nas ruas. “Os policiais estão desmotivados. Os números estão negativos e a violência está cada dia mais alta”, confessou um PM.

Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press
Um total de 324 pessoas foram assassinadas apenas neste mês no estado de Pernambuco Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press/arquivo

Segundo dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), Pernambuco registrou no mês de fevereiro pelo menos 324 assassinatos. No mesmo período do ano passado, foram 261 mortes violentas. Isso representa um aumento de 24,1%. Apenas no período de carnaval, entre a 0h da sexta-feira e as 24h da Quarta-feira de Cinzas, foram 83 assassinatos registrados pela SDS. Ainda em fevereiro houve o registro da chacina no município de Poção, no Agreste, quando quatro pessoas morreram.

Em janeiro, o estado já havia registrado altos índices de violência. O aumento foi de 23,99% para cada 100 mil habitantes. No mês inteiro, foram 321 óbitos, enquanto no mesmo período de 2014 foram contados 256.

Histórico

O aumento nos assassinatos registrados em Pernambuco começou em março de 2014 – se agravando, nos meses seguintes, por conta da greve da Polícia Militar em maio. Deste então, o governo do estado não conseguiu mais reduzir as estatísticas. O ano fechou com crescimento de 9,4% de aumento em relação a 2013.

Em oito anos do programa de segurança Pacto pela Vida, criado pelo ex-governador Eduardo Campos, foi a primeira vez que as estatísticas contabilizadas fecharam o período de 12 meses com saldo negativo.

Investimentos

Na tentativa de frear o crescimento da violência no estado, algumas medidas do governo Paulo Câmara foram apresentadas no primeiro dia útil do ano para reestruturar o programa Pacto pela Vida. A cúpula das polícias Civil, Militar e Científica foi trocada. Em janeiro, houve mudança ainda nos comandos dos batalhões da PM e das principais delegacias.

Outra ação foi aumentar o efetivo da PM em Jaboatão dos Guararapes – um dos municípios que teve maior crescimento no número de mortes em 2014. Uma turma de 1,1 mil novos policiais militares está em treinamento para irem à rua a partir do dia 1 de agosto.

Com informações do repórter Raphael Guerra

Polícia Militar de Pernambuco tenta melhorar trato com a sociedade

A abordagem policial supostamente agressiva a um casal gay que se beijava em Olinda, no dia 11 de fevereiro, teve grande repercussão nas redes sociais e trouxe à tona a qualidade da formação dos profissionais de segurança pública do estado. Os turistas chegaram a ser levados à delegacia por policiais militares que trabalhavam no Sítio Histórico. Os jovens alegaram que foram desrespeitados e denunciaram o caso à Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS).

Treinamento dos novos PMs acontece em dois centros de formação. Fotos: Allan Torres/DP/D.A Press
Treinamento dos novos PMs acontece em dois centros de formação. Fotos: Allan Torres/DP/D.A Press

Para evitar casos como esses e outras situações de violação de direitos humanos, a Polícia Militar de Pernambuco mudou a grade de disciplinas do Curso de Formação de Soldados, que treina os novos militares antes deles irem para as ruas. Entre as novidades do curso está a matéria de comunicação social voltada ao trato com o cidadão e com a imprensa.

Alunos estarão no policiamento das ruas a partir de 1º de agosto
Alunos estarão no policiamento das ruas a partir de 1º de agosto

Atualmente, 1,1 mil novos alunos estão sendo formados nos Campus de Ensino Metropolitanos do Curado, em Jaboatão, e de Maranguape, em Paulista. De acordo com o comandante do Cemet I, major Ely Lira Leite, do total de formandos, 207 são de sexo feminino. “Aqui os alunos têm aulas práticas e teóricas e são orientados quanto ao respeito aos direitos humanos. Também estamos ressaltando bastante o tratamento dos policiais com a sociedade”, ressaltou o major.

Entre as disciplinas ministradas no curso estão direitos humanos, abordagem, comunicação social, uso diferenciado da força, resolução de problemas e tomadas de decisão, prevenção, mediação e resolução de conflitos, diversidade étnico socio-cultural e relações interpessoais. Segundo o gerente de Articulação Integração Institucional e Comunitária da SDS, Manoel Caetano Cysneiros, todas as disciplinas são ministradas por pessoas especialistas nas respectivas áreas.

Instrutores especializados dão aulas aos novos militares
Instrutores especializados dão aulas aos novos militares

Os novos soldados Cristiano Souza, 28, e Maria Angélica Tenório, 25, eram namorados quando fizeram o concurso para a PM em 2009. Integrantes da última turma convocada e agora casados, estão se preparando juntos para iniciar o trabalho nas ruas em agosto. “Minha mãe é policial militar há 29 anos. Sempre tive o exemplo do que é ser um bom policial dentro de casa e me espelhei nela para escolher minha carreira”, ressaltou Angélica. “Queremos mostrar à sociedade que não estaremos na rua para oprimir, e sim, para ajudar a todos”, frisou Cristiano.

Angélica e Cristiano escolheram a PM seguindo a carreira dos pais
Angélica e Cristiano escolheram a PM seguindo a carreira dos pais

O corregedor geral da SDS, Sidney Lemos, afirmou que o número de denúncias feitas à Corregedoria em relação à violação de direitos humanos é baixo. “Estamos em apuração no caso do casal de Olinda e este ano só recebemos essa e mais uma denúncia parecida”, disse.

Depoimentos:

“Quero ajudar a acabar com a guerra entre a sociedade e a polícia. Estaremos nas ruas para ajudar e não para oprimir”
Ronan Rodrigues da Silva, 31 anos

“Estamos aprendendo a tratar o cidadão com respeito. Para isso estamos tendo aulas de direitos humanos e relação com o público”
Bruno Santos de Araújo, 28 anos

“Desde criança eu sonhava em ser policial militar. A partir de agora, vou lutar para levar segurança para as comunidades”
Welbson Izidorio da Silva, 31 anos