Trânsito (peso) pesado

Por Tânia Passos
Diario de Pernambuco

Nós só “caminhamos” sobre rodas. O crescimento da frota no estado, que já ultrapassou a marca dos dois milhões de veículos, tem impactos maiores na Região Metropolitana do Recife, que chegou à marca de um milhão de veículos. Para se ter uma ideia, no estado a proporção é de um carro para 4,4 pessoas e na RMR é de 3,7. A Região Metropolitana também recebe fluxo do interior e de outros estados, ou seja, quase 70% do tráfego do estado.
E quase todo passa por dentro do Recife. O tráfego que a capital recebe não é apenas de automóvel – o transporte de carga tem sido um dos gargalos até então sem solução. Uma das esperanças é a implantação do anel viário, que deverá funcionar como uma quinta perimetral e vai ligar os litorais Norte e Sul, passando por fora das cidades. O projeto executivo deverá ser apresentado pelo estado em novembro.
Ao contrário dos maiores centros urbanos do país, o Recife ainda é muito condescendente com o tráfego pesado. Hoje não há nenhum tipo de restrição. Caminhões dos mais diversos tamanhos e eixos circulam em vias inimagináveis.
Na última quinta-feira, o Diario flagrou uma Scania de seis eixos e 30 toneladas tentando fazer uma manobra no Cais José Mariano. O local é um dos pontos de carga e descarga das madeireiras e recebe transportadoras de todo o Brasil.

O motorista da Scania, o paulista Oswaldo Tavares, 60 anos, esforçou-se para atrapalhar o menos possível. Não conseguiu. Sem espaço para fazer a manobra, ele acabou colidindo com o ônibus, que estava atrás tentando passagem na via estreita e já sem espaço.

“Eu buzinei, mas ele não escutou”, defendeu-se o motorista do ônibus, Edson Azevedo, 56 anos. Consciente da dificuldade, o paulista sabe que, na terra dele, esse tipo de operação seria impraticável.

“Em São Paulo é proibido circular na cidade com transporte de carga. Lá é preciso fazer o transbordo para veículos menores. Mas aqui não há essa restrição, por outro lado, é difícil para o motorista porque as ruas são estreitas”, admitiu.

Para o engenheiro e consultor de transporte urbano, Germano Travassos, o Recife está atrasado no quesito circulação viária de caminhões de carga. Ele aponta dois grandes gargalos desse tipo de transporte na cidade: o Cais José Mariano e o Cais do Porto.

O primeiro, em relação às madeireiras e o segundo devido as atividades, ainda existentes, na área portuária, cujo entorno é usado para as operações de carga e descarga.

O Diario flagrou na Avenida Martin Luther King, praticamente na frente da Prefeitura do Recife, um verdadeiro comboio de caminhões, alguns usando a área do passeio para efetuar a descarga de mercadorias. “É preciso fazer um estudo para remover esse tipo de veículo das vias urbanas.

No caso do Porto do Recife, talvez uma alternativa, que requer um estudo, seria usar a Avenida Norte como escape e seguindo pela BR-101. Mas no caso do Cais José Mariano, qualquer trajeto irá impactar”, revelou Travassos.

O diretor de operações da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), Agostinho Maia, disse que a legislação municipal permite a operação de carga e descarga para caminhões de até seis metros, no período das 7h às 20h. Ou seja, não impede nada. A lei se aplica na área do centro expandido, que compreende o trecho da Avenida Agamenon Magalhães até o Marco Zero.

 

 

Bisbilhoteiros do trânsito

 

À primeira vista pode parecer estranho, mas a foto acima mostra um agente de trânsito monitorando o tráfego do alto de um edifício, no centro de São Paulo. Com binóculo e rádio, ele se comunica com a Central de Engenharia de Tráfego (CET).

São os chamados PACs (Postos Avançados de Comunicação), criados desde a década de 1970 e atuais até hoje. Na capital paulista existem 13 postos de observação na área central.

E os bisbilhoteiros de plantão  fazem muitas vezes o que as câmeras não conseguem. Aliás, elas não estão em todos os lugares. No caso de Recife são 66 equipamentos, sendo 27 com monitoramento online e em São Paulo mais de 300 para registrar o tráfego.

Mas são os Pacs que avisam à central quando um motorista faz besteira no trânsito. Que falta faz bisbilhoteiros desse tipo por aqui…

 

Em briga de trânsito…

 

Motorista agressivo que se meter a besta no trânsito, pode perder a Carteina Nacional de Habilitação (CNH). Isso mesmo. AComissão de Viação e Transporte da Câmara dos Deputados, aprovou o projeto do ex-depoutado Ricardo Quirino (DF), que prevê a suspensão do documento. A ideia não é má, tirar das ruas os motoristas violentos. O projeto tramita em caráter conclusivo e falta ainda ser analisado pela Comissão de Constituição e Justiça. Pelo projeto quem vai determinar a suspensão será um juiz e o requerimento pode ser feito pelo Ministério Público ou ainda uma autoridade da representação judicial. Se a lei pegar, as famosas brigas no trânsito podem estar com os dias contados…

Em caso de acidente, o carro deve ser removido da via?

Um acidente atrapalha o trânsito. Sete acidentes atrapalham muito mais. Um engavetamento envolvendo sete carros na Avenida Boa Viagem, trouxe um transtorno de quase três horas. O engavetamento ocorreu pela manhã e só no início da tarde a pista foi liberada. O acidente , que causou o transtorno é apenas pano de fundo para uma discussão que precisa ser levada a sério. Afinal de contas, em caso de acidente, sem vítimas, a pista é ou não liberada? Deveria ser, mas existe ainda uma situação mal resolvida entre o que diz a Companhia de Trânsito e o que dizem as seguradoras.

Na dúvida , os segurados decidem não tirar o carro do lugar. Só o carro que estava na frente e sofreu danos menores, o motorista preferiu sair por conta própria. No acidente em questão, o último motorista que entrou no engavetamento sofreu um corte na cabeça, mas não chegou a ser socorrido para um hospital. Ficou no local acompanhando o desenrolar da ocorrência.

Como houve uma vítima com um corte, teve que se esperar a chegada dos peritos do Instituto de Criminalística (IC). O agente de trânsito, que chegou ao local uma hora depois, tentava entender a história para saber se poderia ou não liberar o tráfego. Enquanto isso, uma fila enorme se formava de motoristas impacientes querende saber, enfim, a razão da pista não ter sido liberada.

A faixa de pedestre, o pedestre e o motorista

A campanha que está sendo realizada em São paulo pela valorização da faixa de pedestre tem mostrado resultado no bolso de quem ainda não entendeu a importância da faixa. No balanço da campanha em favor da travessia segura foram computados cinco mil multas no período de 8 a 21 de agosto. Destas, 2.579 foram para motoristas que não deram preferência ao pedestre. Além disso, 1.300 condutores foram multados por não utilizarem a seta indicativa de mudança de direção.

Mas o trabalho educativo desenvolvido pela Central de Engenharia de Tráfego (CET) não é voltado apenas para os motoristas. O centro de treinamento da CET atua também na conscientização dos pedestres. Alunos de escolas públicas ou privadas tem turmas agendadas todos os dias para aprender o bê- a- bá dos pedestres.

Eles são recebidos por um grupo de educadores e recebem noções básicas sobre os cuidados no trânsito. Depois vão para a aula prática. No local funciona um centro urbano cenográfico com faixas de pedestres e semáforos.

Eles aprendem como fazer a travessia e o como se comportar em vias, onde não existam faixas de pedestre. Nesses casos, a orientação é fazer a travessia em linha reta e nunca em transversal e o mais o longe possível das curvas. As crianças aprendem direitinho. Só precisam aplicar isso também quando se tornarem motoristas.